IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Uso do "dinheiro de plástico" aumenta na Grécia devido a controles de capital

Shutterstock
Imagem: Shutterstock

Yannis Chryssoverghis

04/11/2015 06h08

Atenas, 4 nov (EFE).- Um carro entra em um posto de gasolina de Atenas e, à medida em que o frentista se aproxima, o motorista faz a pergunta mais repetida desde a imposição dos controles de capital em junho: "É possível pagar com cartão?".

Após receber uma resposta afirmativa, o cliente sai de seu automóvel e pede para que o rapaz encha o tanque. Mijalis, o dono deste posto de gasolina, até prefere que paguem com "dinheiro de plástico".

"Com o controle de capitais, aumentou sensivelmente o número de clientes que pagam com cartão. Com menos notas no caixa, também reduz o risco de assalto", explicou ele à agência de notícias Efe.

Antes da imposição dos controles de capital, a Grécia tinha a proporção mais baixa da Europa em compensação com cartões bancários.

Apenas 6% das operações eram feitas com "dinheiro de plástico", segundo o INEMY, instituto de estudos econômicos ligado à Confederação Nacional do Comércio da Grécia (ESEE).

Desde 29 de junho, dia em que foram decretados os controles, o uso dos cartões aumentou 135%. As maiores altas foram registradas em supermercados (234%), serviços de saúde (206%) e postos de gasolina (193%), de acordo com o INEMY.

O Eurobank estima que os pagamentos com cartão chegarão a 7,3 bilhões de euros neste ano, contra 6.2 bilhões em 2014.

A mudança ocorreu por causa da emissão em massa de cartões que os bancos fizeram para atenuar as limitações à retirada de dinheiro, que continua tendo um teto de 420 euros semanais.

Desde a imposição dos controles até o começo de agosto, foram emitidos 1,1 bilhão de cartões, em comparação com os 100 mil cartões mensais que eram distribuídos antes.

Muitos estabelecimentos comerciais que não dispunham de máquinas agora contam com uma, enquanto todos os bancos iniciaram campanhas na televisão para promover esta forma de pagamento.

Conforme as estimativas da Confederação Nacional do Comércio, no final do ano haverá 200 mil máquinas nos comércios, frente às 157 mil de 2014. Segundo a entidade, para que se generalize totalmente o uso do "dinheiro de plástico", é necessária a instalação de outros 400 mil aparelhos.

Controle de capitais divide opiniões

No entanto, alguns empresários e consumidores mostram reservas. Vários postos de gasolina, em sua maioria fora dos centros urbanos, aceitam apenas pagamento com dinheiro.

Nos primeiros dias de restrição aos saques, também houve supermercados que seguiram esta política.

"Prefiro as transações com dinheiro, mas a tendência é a difusão do uso do dinheiro de plástico", disse Pandelís, açougueiro de um bairro de Atenas que acredita que a sociedade "precisa de tempo para se acostumar".

Já a assistente social Evgenia resiste a utilizar o cartão em suas compras diárias. "Se pago com dinheiro, posso controlar melhor minhas despesas. Sei que tenho uma certa quantidade de dinheiro para gastar em um tempo. Com o cartão, tenho medo de me perder", explicou.

O governo do esquerdista Alexis Tsipras viu na difusão do uso do "dinheiro de plástico" uma ferramenta para lutar contra a evasão fiscal.

O aumento dos ingressos do Estado através do imposto sobre o valor agregado (IVA), apesar da redução do consumo por causa dos controles de capital, deu razão a este argumento.

Em setembro, o ministro-adjunto de Finanças, Trifon Alexiadis, propôs tornar obrigatório o pagamento com cartão para serviços prestados por médicos, advogados, encanadores, eletricistas e outros profissionais que geralmente são regidos pelo estatuto dos autônomos, já que é um setor com altas cotas de sonegação fiscal.

A oposição dos médicos, que consideraram que a medida colocava em risco o segredo profissional, provocou uma onda de duras críticas contra eles nas redes sociais.

Alexiadis propôs, então, um mecanismo que permite o pagamento eletrônico sem menosprezar o segredo profissional.

Petros, encanador de profissão, se mostra cético sobre os resultados da medida se por fim for adotada. Ele admite que alguns encanadores e eletricistas "se veem obrigados a uma certa evasão fiscal" para fazer frente à concorrência desleal.

Para este profissional, há pessoas cujo trabalho pode ser de baixíssima qualidade, mas oferecem preços muito mais baixos que a concorrência porque não pagam impostos.