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Premiê francês diz que não mudará filosofia da reforma trabalhista

26/05/2016 06h34

Paris, 26 mai (EFE).- O primeiro-ministro da França, Manuel Valls, disse nesta quinta-feira que não vai voltar atrás na reforma trabalhista, apesar dos protestos, mas admitiu a possibilidade de introduzir algumas mudanças, sem que haja "modificação na filosofia geral do texto".

Valls, em entrevista para as emissoras "RMC" e "BFM TV", tachou de "irresponsável" a ação da Confederação Geral do Trabalho (CGT), que lidera o movimento contra o projeto de lei, e garantiu que o governo "seguirá desbloqueando" as instalações petrolíferas e industriais cujos acessos foram fechados pelos grevistas.

O premiê afirmou que "todas as possibilidades estão em cima da mesa" quando foi questionado se poderia recorrer às disposições que permitem obrigar o retorno ao trabalho dos grevistas em caso de força maior.

Valls reconheceu que "entre 20% e 30% dos postos de gasolina estão fechados ou em dificuldades" e que "são os franceses que estão sofrendo com esta situação" que, caso continue, "pode pesar sobre a economia" do país, que está há dois meses consecutivos reduzindo o número de desempregados.

O primeiro-ministro afirmou que o projeto de lei para a reforma trabalhista acabará sendo aprovado nos próximos meses e não descartou voltar a acionar o mecanismo, do qual já recorreu antes, para evitar o voto na Assembleia Nacional, onde não havia maioria pela ruptura em seu próprio partido, o Socialista.

Walls insistiu em seu argumento que "a lei é boa para as empresas, boa para os assalariados, e, inclusive, boa para os sindicatos" e ressaltou que "uma mudança de direção está descartada", mas que "pode haver modificações".

Em seguida, o premiê especificou que, em qualquer caso, não haverá mudança na essência do artigo 2, o mais polêmico, e ao qual se opõe taxativamente a CGT, que estabelece a primazia da negociação dentro da empresa, em detrimento dos convênios coletivos.

Em paralelo, em outra entrevista ao canal "LCP", o ministro das Finanças, Michel Sapin, considerou que "talvez seja preciso tocar em alguns pontos do artigo 2", sem dizer quais, e comentou que "é preciso olhar tudo em detalhe".

Ao ser perguntado pouco depois sobre essa dissonância de mensagens, Valls reafirmou que "não tocará no artigo 2". "Sempre se pode mudar um ou outro aspecto, mas a filosofia do artigo 2 e a negociação na empresa não será modificada", reiterou o premiê.

O primeiro-ministro francês, que lembrou que o texto foi pactuado com o maior sindicato reformista, a Confederação Francesa de Trabalhadores (CFDT), se defendeu das acusações de que ele quer impor uma reforma "liberal", segundo aqueles que se opõem ao projeto.

"Como se pode pensar que eu quero romper o modelo social francês?", afirmou, antes de reiterar que na França há "muito conservadorismo", e que a alternativa seria convocar eleições antecipadas, o que significaria a chegada ao poder de um governo de direita.

O centro das ações de mobilização hoje contra o projeto de reforma trabalhista que está tramitando no parlamento está nos centros petrolíferos, muitos deles bloqueados por piquetes, mas também nas 19 usinas nucleares do país, nas quais, segundo a CGT, seus trabalhadores declararam greve.