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Indígenas brasileiros pedem que UE e Suíça não confirmem acordos com Mercosul

Bandeira da União Europeia  - Pascal Rossignol/Reuters
Bandeira da União Europeia Imagem: Pascal Rossignol/Reuters

Em Genebra

09/11/2019 14h41

Líderes indígenas brasileiros que representam cerca de 300 comunidades pediram à Suíça e à União Europeia (UE), em Genebra, para que não ratifiquem os acordos comerciais que conseguiram com o Mercosul, porque consideram que causarão uma maior destruição da Amazônia.

"O governo brasileiro vê esses acordos como um troféu para abrir toda a Amazônia à expansão agrícola, à exploração de minério em nossos territórios e para a construção de grandes rodovias para transportar os produtos destinados à exportação", disse à Agência Efe, na cidade suíça a líder Nara Baré, integrante da delegação que conta com 11 líderes.

Nara, cuja comunidade (os baré) vive no noroeste da Amazônia, perto da fronteira com Venezuela e Colômbia, ressaltou que os acordos "não podem ser ratificados porque são genocidas e etnocidas".

De acordo com ela, se o tratado entrar em vigor, provocará um aumento dos incêndios não só na Amazônia, como no Cerrado e no Pantanal.

O acordo Mercosul-UE foi aprovado em junho deste ano, e o que foi definido entre o bloco sul-americano e a Associação Europeia de Livre-Comércio (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein) foi alcançado em agosto.

Espera-se que ambos sejam ratificados em 2021, mas para tentar convencer os europeus do contrário e denunciar políticas do governo do presidente Jair Bolsonaro, a delegação indígena pretende visitar 15 países do Velho Continente até o fim deste mês.

Os indígenas, que estão na Europa desde o mês passado, já se reuniram com membros do Parlamento suíço na capital, Berna, e em Genebra para transmitir suas inquietudes à alta comissária adjunta para Direitos Humanos da ONU, Kate Gilmore.

Além de travar a assinatura dos acordos comerciais, a delegação pede leis específicas para a rastreabilidade dos produtos brasileiros para que fique claro aos consumidores que as empresas que os vendem respeitam as comunidades indígenas e o meio ambiente.

"Em caso contrário, deveriam ser sancionadas e punidas. Para isso, precisamos ter um melhor controle e garantir que os produtos não procedem de áreas onde há conflitos territoriais ou de empresas que não respeitam os direitos humanos dos povos nativos", declarou Nara.

A também líder indígena Kreta Kaingang (cuja comunidade vive no sul do Brasil) acrescentou que, na Suíça e em outros países europeus, a delegação explicou "a má situação que os indígenas encaram desde janeiro", em alusão à chegada de Bolsonaro ao poder.

"Sempre foi complicada, mas desde janeiro piorou muito, com grande retrocesso de todas as políticas públicas", afirmou.

"O pior é a criminalização da sociedade indígena no discurso de Bolsonaro", acrescentou Kreta, que denunciou que 150 indígenas foram assassinados em ataques de grupos armados, muitos deles atuando ilegalmente em terras protegidas para explorar seus recursos.

A delegação começou a viagem europeia na Itália, onde participou de um sínodo organizado pelo papa Francisco para debater o futuro da região amazônica, e percorreu Alemanha, Suécia, Noruega, Holanda, Portugal, Bélgica e Suíça até o momento.

A viagem, que tem como tema "nem mais uma só gota de sangue indígena", será concluída com compromissos nas cidades de Madri, Barcelona e Valência, na Espanha, de 17 a 20 de novembro.