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Diversidade é 'alavanca' para economia mais social, explicam analistas

27.jun.2020 - Integrantes da comunidade mexicana LGBT participaram da Parada do Orgulho LGBT na Cidade do México - Jorge Núñez/EFE
27.jun.2020 - Integrantes da comunidade mexicana LGBT participaram da Parada do Orgulho LGBT na Cidade do México Imagem: Jorge Núñez/EFE

Isadora Camargo

São Paulo

28/06/2020 13h06

Apostar na diversidade como prática do ambiente laboral tem dado asas aos negócios de empresas no Brasil e impulsionam o desenvolvimento de uma economia mais social, explicaram analistas de mercado à Agência Efe, coincidindo com a comemoração hoje do orgulho LGBTI.

A tendência responde tanto ao compromisso social das corporações, com o objetivo de contribuir na luta contra o racismo ou homofobia, como de aumentar a produtividade.

De acordo com o relatório Delivering through diversity, publicado este mês pela consultoria Mckinsey, empresas que possuem quadro de funcionários mais diversos tendem a obter 21% mais lucro quando há diversidade de gênero e 35% mais lucro quando há diversidade racial.

"O Carrefour atrai e engaja muitos profissionais por essa proposta de diversidade e inclusão. E olhando para nosso time, não é raro ouvir colaboradores falando sobre o orgulho de pertencer a uma organização na qual podem ser eles mesmos, o que se reflete na produtividade e, é claro, na nossa reputação", destacou a gerente de Comunicação Interna, Diversidade e Inclusão do Grupo Carrefour no Brasil, Vivian Machado.

Aprender libras, conversar sobre religião, dialogar sobre o preconceito, conscientizar sobre e combater a violência doméstica são algumas da ações internas que o grupo francês tem desenvolvido no Brasil para melhorar o ambiente de trabalho e influenciar a rotina dos funcionários em suas casas.

"Além de promover ricas conexões e de ser bom para o negócio, o aspecto mais fascinante do trabalho com a diversidade é de poder impactar a vida das pessoas no combate à violência doméstica, no combate a LGBTIfobia, por exemplo. É um trabalho que nunca para", ressaltou a gerente.

Carrefour, Cargill e Banco Santander são três das 13 empresas premiadas por terem as melhores práticas em inclusão e desenvolvimento de mulheres, negros, pessoas com deficiência e LGBTI em 2019, como classificou o Guia Exame de Diversidade, uma publicação anual do Grupo Abril.

No setor de Varejo, o Carrefour ficou em primeiro lugar pela implementação de ações que apoiam as diferenças e a equidade nos negócios.

De acordo com Vivian Machado, diversidade faz parte da "essência" de rede francesa de supermercados e os trabalhos de capacitação com funcionários para a sensibilização à diversidade são feitos constantemente através de campanhas que "estimulam o olhar para o outro e a empatia".

Segundo a gerente, as experiências e relatos de colaboradores transexuais e negros, por exemplo, servem de alavanca para discutir condutas e fomentar novos comportamentos na empresa.

"Para nós do Carrefour, a diversidade e o respeito aos nossos colaboradores e stakeholders são valores inegociáveis, por isso, desde 2012, investimos em ações para a inclusão e igualdade de oportunidades para todas as pessoas", contou.

A organização tem quatro temas prioritários, que são: diversidade de gênero, diversidade sexual, diversidade racial e inclusão de pessoas com deficiência, além de apoiar pessoas em situação de refúgio, gordofobia e xenofobia.

"Podemos afirmar que ganhamos com a inclusão, porque trabalhamos em um ambiente plural e diverso, em que todas as pessoas podem ser quem elas realmente são. Outra oportunidade é a empregabilidade. Um exemplo é o nosso Projeto Conexão Varejo, em que formamos pessoas trans para o mercado de trabalho. Desde a sua implantação, já formamos mais de 200 profissionais", pontuou Vivian.

Para discutir o racismo, por exemplo, o Carrefour fez uma parceria com a Universidade Zumbi dos Palmares, a única dedicada à população negra no Brasil, para desenvolver melhores práticas de negócios e tratamento no local de trabalho.

Atenção a grupos estigmatizados

Inspiradas nos protestos globais contra o racismo e no calendário de atividades em favor da diversidade, as empresas estão começando a olhar mais de perto para grupos sociais historicamente estigmatizados.

É o caso de iniciativas como o Transempregos, um projeto que conecta currículos de pessoas transexuais com vagas disponíveis no mercado, destacando aquelas empresas que abrem cargos voltados para identidades de gêneros diversas, além de prestar consultoria a empresas como o próprio Carrefour.

A Integra Consultoria em Diversidade e Inclusão é outra dessas iniciativas que ajudam a empresas estruturarem departamentos de diversidade, "estabelecendo conexões entre minorias desprestigiadas e invisibilizadas por muitos anos", como detalhou à Efe a fundadora Keyllen Nieto.

"Aquilo que a gente considerava conquistas consolidadas de direitos provaram ser menos permanentes e, por isso, empresas estão entendendo seu papel e o público está esperando delas uma ação que influa mais na realidade social", avaliou.

Para a pós-doutora em marcas e influência, Carolina Terra, é uma tendência e necessidade empresas que investem em diversidade e se aproximam de temáticas sociais, papel que melhora a performance nos negócios e torna a economia mais social, ajudando a solucionar problemas existentes há anos nos países, como racismo e homofobia.

"As marcas suprem políticas públicas de inclusão, mas mais do que suprir, também são cobradas pela própria sociedade. O consumidor está tão atento que ele quer consumir uma marca diversa, inclusiva, respeitosa, social e ambientalmente responsável, isso acaba sendo diferencial de mercado e de marketing", avaliou.

Em 2015, a Mckinsey concluiu que US$ 12 trilhões poderão ser adicionados ao PIB global até 2025, caso a igualdade das mulheres seja promovida.