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ONU vê guerra na Ucrânia como crise global devido a impacto na energia, alimentos e fertilizantes

Secretário-geral da ONU, António Guterres, durante entrevista coletiva em Nova York - Andrew Kelly/Reuters
Secretário-geral da ONU, António Guterres, durante entrevista coletiva em Nova York Imagem: Andrew Kelly/Reuters

23/03/2022 21h49Atualizada em 23/03/2022 22h08

A ONU afirmou nesta quarta-feira (23) que a guerra na Ucrânia é uma crise global, dado o impacto que está causando nos mercados de energia, alimentos e fertilizantes e os grandes riscos que representa para todos os países, especialmente os mais pobres.

"Nenhum país será capaz de se isolar de um colapso do sistema econômico global, do efeito dominó de acumular alimentos ou combustível, ou do impacto de longo prazo do aumento da pobreza e da fome", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, ao abrir a primeira reunião de uma equipe de crise que criou para responder a essa situação.

Esse grupo, anunciado por Guterres em 14 de março, inclui os líderes das principais agências e organizações das Nações Unidas, como o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio, para coordenar a resposta global à crise na Ucrânia.

O chefe da ONU enfatizou que agora a prioridade é apoiar os ucranianos, mas também proteger as pessoas e os países mais vulneráveis do mundo.

"Muitos países em desenvolvimento já lutavam para se recuperar do choque econômico causado pela pandemia da covid-19: inflação recorde, alta da taxa de juros, cargas de dívida incontroláveis. Agora precisam enfrentar a disparada nos preços de alimentos, energia e fertilizantes", comentou.

Guterres também alertou que, ao mesmo tempo, alguns países ricos parecem estar se direcionando para a redução de sua ajuda humanitária e de desenvolvimento.

"Temos que unir países desenvolvidos e em desenvolvimento para encontrar soluções globais", reiterou.

O secretário-geral da ONU deixou claro que o mundo tem alimentos, energia e financiamento de sobra para todos os países superarem essa crise, mas disse que existem desigualdades que, juntamente com problemas de distribuição e logística, fazem com que as cadeias de suprimentos não consigam dar respostas.

"Precisamos acabar com os gargalos, evitar o acúmulo e a especulação, reformar os quadros financeiros para permitir que aqueles que precisam de dinheiro comprem coisas essenciais para que seus países tenham acesso a esses fundos, revisando as regras e critérios de elegibilidade quando necessário", ressaltou.

Quase desde o início da invasão russa, a ONU e suas agências alertaram que a guerra poderia ser um golpe duro para muitos países, dado o aumento dos preços dos combustíveis que causou e porque a Rússia e a Ucrânia são dois dos maiores produtores de cereais e fertilizantes em todo o mundo.

Entre outras coisas, a Rússia e a Ucrânia respondem por mais da metade da oferta mundial de óleo de girassol e 30% da de trigo.

De acordo com a ONU, apenas a Ucrânia produz mais da metade do trigo usado pelo PAM (Programa Mundial de Alimentos), a agência da ONU que apoia países de todo o mundo no combate à fome.

Além disso, há 45 países na África e outras áreas que importam pelo menos um terço de seu trigo da Ucrânia ou da Rússia e outros 18 que compram pelo menos metade, incluindo Egito, República Democrática do Congo, Líbano, Síria, Somália, Sudão e Iêmen.