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Capital externo é necessário, dizem analistas

Renée Pereira

São Paulo

22/10/2018 11h29

Só neste ano, dois países adotaram medidas para restringir investimento estrangeiro, em especial dos chineses. Austrália e EUA criaram barreiras que afetam diretamente os asiáticos.

Por aqui, o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL), líder na corrida eleitoral, também já demonstrou que pode adotar alguns limites no setor de energia se for eleito. O tema é controverso entre especialistas. Há quem avalie que o país não está em condições de recusar investimentos.

"Esse é um discurso que os países ricos têm. Mas em um país como o Brasil não se justifica (limitação de capital)", afirma o professor Carlos Arruda, gerente do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral.

Ele entende que o processo de concentração vai ser bom para o Brasil, como já ocorreu em outras épocas no setor de autopeças, telecomunicações, mineração e siderurgia.

De uma maneira geral, a desnacionalização é positiva do ponto de vista de modernização. Embora a empresa passe a ter controle estrangeiro, a operação será mais eficiente e produtiva.
Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral

O economista Márcio Holland, professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) e responsável pelo Observatório das Estatais, tem a mesma opinião: "Capital não tem pátria".

Na avaliação dele, o Brasil vive hoje um processo de consolidação típico de recessões econômicas, quando uma empresa enfraquecida é comprada por outra mais forte, que acaba otimizando a operação. "Daqui para frente vamos ver ainda mais aquisições, só que de fundos de investimentos, que estão com grande liquidez no mundo."

Para Arruda, no entanto, os chineses continuaram ampliando sua presença no mundo. Nos últimos anos, diz ele, a China acumulou capital e criou uma proposta geopolítica de ocupar mercados importantes voltados ao consumo e também de infraestrutura. E tem feito isso com forte apetite no Brasil.

"Eles estão aproveitando que o país está barato e comprando empresas boas, mas que não têm capacidade para se expandir. Isso pode ser verificado, por exemplo, em empresas de medidores de energia", diz.

Arruda destaca que esse processo de consolidação só será ruim para o Brasil ser houver alguma interferência política por parte dos investidores, como a Austrália tem reclamado.

O professor da Unicamp Pedro Paulo Zahluth Bastos pondera que o processo de consolidação por capital externo pode trazer problemas para a economia nacional. "É normal que uma empresa que compra outra menor em escala global vai diminuir redundâncias. Vai substituir, por exemplo, um fornecedor nacional pelo dela."

Na opinião de Bastos, isso poderá ocorrer com a venda da Embraer para a Boeing, prevista para ser concluída ainda para este ano. "O resultado é que a estrutura brasileira ficará menos densa e com menos capacitação. O movimento de fusões e aquisições também é de racionalização."

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".