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Criticada por Bolsonaro, remuneração de Castello Branco está dentro da realidade de mercado

Principal executivo da Petrobras, Roberto Castello Branco ganhou R$ 2,7 milhões em 2019 - Amanda Perobelli/Reuters
Principal executivo da Petrobras, Roberto Castello Branco ganhou R$ 2,7 milhões em 2019 Imagem: Amanda Perobelli/Reuters

Mariana Durão e Vinicius Neder

23/02/2021 08h04

Apontada ontem como excessiva pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a remuneração — quando se soma salário fixo com bônus e outros benefícios — do comando da Petrobras pode chamar atenção quando comparada com os demais cargos do serviço público e, principalmente, com o ganho médio do brasileiro, mas parece comum ou até abaixo da média no mundo corporativo.

O salário médio dos presidentes de companhias abertas que compõem o Ibovespa - ou seja, as principais empresas do mercado - foi de R$ 11,3 milhões no ano em 2019. Principal executivo da Petrobras, Roberto Castello Branco ganhou R$ 2,7 milhões naquele ano, um quarto do valor médio. Em bases mensais, a remuneração média dá um salário de R$ 940 mil por mês, enquanto o presidente da Petrobras ganhou "apenas" R$ 226 mil por mês.

No fim de 2019, a remuneração média do trabalhador brasileiro, entre formais e informais, foi de R$ 2,3 mil por mês, segundo o IBGE.

Os dados sobre executivos de alto escalão são de levantamento do especialista em governança corporativa Renato Chaves, ex-diretor da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil. Os valores foram levantados em outubro, nas informações que as empresas abertas são obrigadas a passar à Comissão de Valores Mobiliários, órgão regulador do mercado. As empresas precisam informar a remuneração anual total da diretoria, discriminando o valor mais baixo e o mais alto - o mais alto, quase sempre, é o do presidente.

O levantamento incluiu 71 companhias. Quando ordenadas segundo a maior remuneração paga ao presidente, a Petrobras fica na posição 58. Entre as dez empresas que pagam melhor seus presidentes, se destacam os bancos - Itaú, Bradesco e Santander estão entre as dez.

Para Marcelo Apovian, sócio da consultoria global especializada em recrutamento de executivos de alto escalão Signium, não parece que os valores de remuneração do presidente da Petrobras estejam fora da realidade do setor de petróleo e gás, na média global. "A remuneração do primeiro nível e segundo nível está adequada com valores do mercado."

Segundo Apovian, a remuneração dos executivos de alto escalão varia conforme o setor. Tradicionalmente, setores cujas margens de lucro são mais apertadas pagam menos. O setor de petróleo e gás, globalmente falando, paga bem a seus executivos de alto escalão, porque é um "negócio que precisa ter pessoas boas e a margem (de lucro) permite pagar bem."

Chaves, que levantou os dados sobre remuneração, avalia que o montante pago pela Petrobras está dentro do normal para uma companhia estatal com ações em Bolsa. Por outro lado, o especialista vê excessos nos salários médios pagos aos altos executivos do País. "A remuneração de presidentes de companhias no Brasil é excessiva, quase sempre descolada de seus resultados e extremamente desigual em relação às dos demais funcionários", diz Chaves.

O levantamento de Chaves comparou a remuneração do presidente de cada companhia com o salário médio pago aos funcionários como um todo. No caso extremo, o presidente ganha 600 vezes mais do que a média da empresa. No quesito desigualdade, a petroleira está entre aquelas com menores diferenças, com oito vezes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.