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Caminhoneiros: entidades seguem divididas sobre adesão à greve

Em 27 de janeiro, caminhoneiros do setor frigorífico protestaram contra aumento do ICMS, em São Paulo - Aloisio Mauricio/FotoArena/Estadão Conteúdo
Em 27 de janeiro, caminhoneiros do setor frigorífico protestaram contra aumento do ICMS, em São Paulo Imagem: Aloisio Mauricio/FotoArena/Estadão Conteúdo

Isadora Duarte

25/07/2021 16h59

Entidades e associações que representam caminhoneiros seguem divididas quanto à adesão à paralisação prevista para ocorrer a partir da meia-noite deste domingo, 25, dia do motorista. A realização da greve não é unanimidade entre os transportadores rodoviários. Algumas entidades apoiam a interrupção das atividades e já estão organizando a paralisação, enquanto outras são contrárias e uma terceira parte ainda avalia se vai participar ou não dos atos que tendem a se estender ao longo desta semana, segundo representantes ouvidos pelo Broadcast.

Vídeos de transportadores organizando o movimento circulam pelas redes sociais na manhã deste domingo. Em Barra Mansa (RJ), caminhoneiros estendem faixas dos atos próximos à rodovia Presidente Dutra e se reúnem em postos de combustível. Nas faixas contam dizeres como "Estamos no limite", pedidos de preço "justo" do diesel e lembretes ao cumprimento da lei 13.703/2018, que institui a Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas. Em Natal (RN) também há mobilização de alguns transportadores.

O movimento é organizado por algumas entidades da categoria, como o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC). Entre as reivindicações dos caminhoneiros estão o fim da política de Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras para combustíveis, maior fiscalização nas estradas para cumprimento do piso mínimo de frete e a aposentadoria especial para os motoristas a partir de 25 anos de trabalho por envolver atividades insalubres.

O diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), Carlos Alberto Litti Dahmer, disse ao Broadcast que a entidade mantém o apoio ao movimento e orienta seus associados a paralisarem as atividades. "Orientamos que se participe dos atos sendo celetista ou autônomo", afirmou.

Segundo Litti, não há previsão de encerramento da paralisação. Ele considera que o término do movimento vai depender das respostas do governo para a categoria. Na avaliação de Litti, o engajamento dos caminhoneiros com a interrupção das atividades é semelhante ao observado antes da greve de 2018.

O Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam) ainda avalia a adesão ao movimento. O presidente da entidade, Luciano Santos, afirmou ao Broadcast que o sindicato "não apoia e nem desapoia" a realização dos atos. "Nenhum sindicato ou cooperativa de outra cidade nos procurou para tratar da questão. Na sexta-feira (23),fomos procurados por alguns motoristas autônomos. Avaliamos as reivindicações e pedimos um prazo até quarta-feira para tomar a decisão", disse Santos.

Segundo ele, manifestações isoladas de transportadores autônomos da região tendem a não afetar a operação do Porto de Santos. "Pedimos um prazo para discutir as questões, dar um tempo de resposta aos envolvidos e depois organizar ou não uma paralisação maior unindo todos os sindicatos da região e dos portos de Santos, Guarujá e Cubatão", afirmou.

Transportadores rodoviários ligados aos terminais portuários da Baixada Santista pedem a instalação de um posto fixo da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) no porto de Santos para fiscalizar o pagamento do frete mínimo pelas empresas que atuam no cais. O atual patamar do valor do óleo diesel e o cumprimento da tabela do frete rodoviário também são citados entre as reclamações dos transportadores, segundo o presidente do Sindicam da região.

Contrários

A Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava) informou que reforça a posição contrária aos atos, apesar de considerar o movimento "justo" e "pertinente". O presidente da associação, Wallace Landim, conhecido como Chorão, afirmou que a entidade não vai participar da paralisação, após decisão tomada em reunião com associados na última quinta-feira (22).

Segundo Chorão, existe "grande" descontentamento dentro de todo o segmento, mas não há adesão de 100% da categoria neste momento. "O combustível não é um problema só nosso. Referente a lei 13.703/18 que está vigente, precisamos que a ANTT faça seu trabalho de fiscalização", disse Chorão há pouco ao Broadcast. Chorão apontou que a Abrava está procurando representantes de classes de outras categorias, como os trabalhadores da construção civil, da metalurgia, comércio e indústria, para tratar de pautas e possíveis respostas para questões semelhantes como uma paralisação mais ampla.

Na sexta-feira, a Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Carga em Geral do Estado de São Paulo (Fetrabens-SP) e o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo (Sindicam-SP) também declararam que não irão participar da paralisação, conforme informou o presidente de ambas entidades, Norival de Almeida Silva Preto.

Também na sexta-feira, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) informou à reportagem que mantém o posicionamento de não orientar os seus associados sobre aderir ou não ao movimento. A CNTA congrega sete federações e 140 sindicatos distribuídos pelo País, representando 800 mil caminhoneiros autônomos, segundo dados da própria confederação.

Procurado pela reportagem, a assessoria de imprensa da CNT (Confederação Nacional do Transporte), que representa as empresas do setor, informou que a entidade ainda não se pronunciou sobre o assunto e que avalia eventual posicionamento quanto à greve.

Os caminhoneiros são considerados base importante de apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), desde antes de sua eleição, em 2018. No entanto, o descrédito do governo vem aumentando junto ao setor em virtude de algumas promessas não cumpridas. Em maio, preocupado com movimentos grevistas e as constantes ameaças de paralisações, o governo anunciou um pacote de medidas para a categoria, o "Gigantes do Asfalto". A maior parte das medidas incluídas no pacote não foram viabilizadas até hoje, segundo algumas lideranças.

Nos bastidores, parlamentares ligados à base governista buscam aproximação com os representantes da categoria na tentativa de acalmar os ânimos e frear a paralisação. Do outro lado, membros do alto escalão afirmam que a ameaça de greve não preocupa o governo, que considera o movimento "pontual".