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Economia entra no 'modo eleição' e indicadores de 2022 dão sinal de piora

O ministro da Economia, Paulo Guedes - Gustavo Sales/Câmara dos Deputados
O ministro da Economia, Paulo Guedes Imagem: Gustavo Sales/Câmara dos Deputados

Thaís Barcellos, Cícero Cotrim e Luciana Dyniewicz

Do Estadão Conteúdo

19/08/2021 17h00Atualizada em 19/08/2021 21h29

Uma reunião realizada ontem entre diretores do Banco Central e analistas de instituições financeiras deixou clara a preocupação do mercado: a economia entrou no "modo eleição", e isso significa risco para as contas públicas, em um momento de projeções piorando tanto para a inflação quanto para os juros e o PIB em 2022.

"No geral, todo mundo está batendo na tecla de que a eleição já começou", resumiu um participante do encontro. "O viés mais negativo para o fiscal e o aumento da incerteza estão se refletindo no crescimento do ano que vem, sem necessariamente uma contrapartida da inflação." Ou seja, o mercado já prevê um crescimento menor da economia, em um cenário de inflação ainda alta.

O BC faz reuniões periódicas, fechadas, com analistas do mercado para colher informações para a confecção do Relatório Trimestral de Inflação. Foram 42 analistas ontem. Pelo BC, participaram os diretores de Política Econômica, Fabio Kanczuk; de Política Monetária, Bruno Serra; e de Assuntos Internacionais, Fernanda Guardado. Eles não respondem a perguntas, apenas ouvem os analistas. Segundo fontes, os analistas indicaram que a projeção mais baixa para a taxa básica de juros, a Selic, no fim do ciclo de alta iniciado este ano é de 7,5%, variando a até 8,5%. "Mas todos com viés de alta", destacou um profissional. Para a inflação, a expectativa para este ano ficou em torno de 7,5% e, para 2022, entre 3,5% (centro da meta) e um pouco acima de 4%. "Há pouca gente convencida de 3,5%, e quem se manifestou nesse sentido apontou viés para cima", disse uma fonte.

No âmbito fiscal, os participantes relataram preocupação com a preservação do teto de gastos, em meio à discussão sobre as mudanças no pagamento dos precatórios e o financiamento do Auxílio Brasil (novo nome do Bolsa Família). "O risco fiscal foi dominante na conversa. É a preocupação de todo mundo", disse outro economista.

Em relação ao crescimento econômico, um participante mencionou que o cenário este ano está "dado", com projeções de 5% a 6%, graças ao carrego estatístico elevado, mas que o ano que vem será mais desafiador. "Para a atividade econômica, a visão geral é de desaceleração, com crescimento entre 1% e 2% em 2022. A maioria vê perto de 2%", disse outro analista.

Incerteza

O economista-chefe da consultoria LCA, Braulio Borges, destaca, porém, que o crescimento mais próximo de 2% está em risco tanto pela situação fiscal como pela incerteza política criada pelas ameaças do presidente Jair Bolsonaro à eleição de 2022. "Isso inibe as decisões de investimento e de consumo. Aí a economia entra num círculo vicioso: ela cresce menos, o governo arrecada menos e a situação fiscal piora."

Borges, que não esteve na reunião do BC, acrescenta que o debate em torno dos precatórios acentuou a preocupação dos analistas em relação ao fiscal, deteriorando o preço dos ativos. "A percepção de que há um risco de se estourar o teto de gastos aumentou. Isso se reflete no câmbio." Ontem, o dólar fechou a R$ 5,3759, maior patamar desde maio, com alta de 2%. Já a Bolsa caiu 1% e atingiu o menor patamar desde 1º de abril, ao encerrar a 116,6 mil pontos.

Para a economista Zeina Latif, as medidas que vêm sendo sugeridas pelo governo ainda indicam que Bolsonaro deverá encerrar o mandado com o País em uma situação pior do que a de 2018. "É uma piora institucional do ponto de vista fiscal. Se está perdendo a credibilidade fiscal. Hoje o debate é o precatório, amanhã é o Bolsa Família e assim vai."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.