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'Estados Unidos devem entrar em recessão este ano', diz Vincent Reinhart

A necessidade de o Federal Reserve combater a inflação deverá levar os EUA a uma leve recessão a partir do quarto trimestre, que deve se estender até 2023 - marchmeena29/iStock
A necessidade de o Federal Reserve combater a inflação deverá levar os EUA a uma leve recessão a partir do quarto trimestre, que deve se estender até 2023 Imagem: marchmeena29/iStock

Ricardo Leopoldo

São Paulo

21/06/2022 08h32Atualizada em 21/06/2022 09h03

A necessidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) combater a inflação com um ciclo bem forte de altas de juros deverá levar os EUA a uma leve recessão a partir do quarto trimestre, que deve se estender até 2023, comenta em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) Vincent Reinhart, economista-chefe da Dreyfus and Mellon. O economista, que trabalhou por 24 anos no Fed, do qual foi diretor, criticou o BC americano por ter elevado as taxas de juros em 0,75 ponto porcentual na semana passada. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Qual é sua avaliação sobre a decisão do Fed de subir os juros em 0,75 ponto porcentual?

Foi provavelmente um erro dentro do comitê do Federal Reserve. O Fed está bem atrás da curva, começou a subir os juros muito tarde e deveria ter sido mais agressivo no início deste processo. Mas, como a inflação está muito alta, o que já elevou as expectativas para os índices de preços, precisou agir com força e elevou a taxa mais do que o Banco Central do Brasil no mesmo dia. Os membros do comitê do Fed trabalham duro para estabelecer um ritmo gradual na retirada da política acomodatícia e se comprometeram a subir os juros em 0,50 ponto porcentual por duas reuniões. Contudo, dois dias antes do término do encontro de junho, foi expressado (off the record, ou seja, sem revelar a fonte) a um único veículo de imprensa: 'Deixe para lá, vamos aumentar 0,75 ponto porcentual'. Tudo isto aos poucos corrói a credibilidade do presidente do Federal Reserve para futuros compromissos.

Na sua avaliação, houve uma decisão de última hora de Jerome Powell. Ele teria entrado em pânico por estar muito atrás na condução da política monetária?

Sim. Antes de partir para o 0,75 ponto porcentual, poderia ter adotado outra postura, ao subir os juros em 0,50 ponto porcentual com o apoio de todos no comitê e atingir o mesmo resultado perante os mercados. Poderia ter divulgado um comunicado no qual destacaria que uma alta maior seria necessária na reunião seguinte.

Com essa política monetária do Fed, tornou-se inevitável os EUA entrarem em recessão neste ano?

Sim. A recessão vai ocorrer porque a inflação é um grande problema que torna extremamente complexo o trabalho da política monetária.

Quão forte será a recessão no curto prazo?

Acredito que será leve, deverá começar no último trimestre deste ano e continuar no primeiro de 2023. Não será grave, inclusive porque o setor privado não enfrenta tantos desequilíbrios e poderá navegar bem durante tal período. O PIB dos EUA deverá crescer ao redor de 1,75% em 2022 e ficará estável no próximo ano, impactado pela recessão.

O senhor acredita na projeção do Fed de que o desemprego subirá dos atuais 3,6% para 4,1% em 2024?

A taxa de desemprego deverá subir, e não seria uma surpresa se atingir o patamar de 6%.