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Levy pode tornar Ministério da Fazenda um 'para-raios político', diz jornal britânico

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

02/09/2015 13h37

SÃO PAULO - O jornal britânico "Financial Times" destacou a luta do Brasil para consertar a crise fiscal que o país vive atualmente, tendo como pano de fundo o envio para o Congresso do Orçamento para 2016 com rombo pela primeira vez na história.

Aliás, a situação do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que está sendo contestado por todos os lados, não está conseguindo impor os cortes que acha necessário e que o fizeram ficar conhecido como "Levy mãos de tesoura". 

O FT avalia que "de 1995 até o final do ano passado, o Brasil teve apenas três ministros da Fazenda enquanto a hiperinflação deu lugar a um período prolongado de estabilidade. Dilma Rousseff, que enfrenta ameaças de impeachment, continua a apoiar Levy. É uma medida de que a corrente crise pode levar o Ministério da Fazenda a se tornar novamente um para-raios político", afirma. Ou seja, ser o grande alvo das críticas. 

Levy luta por ajuste fiscal há oito meses

O FT faz uma retrospectiva de Levy à frente da Fazenda, destacando que, desde que a presidente o trouxe de volta à Brasília, em janeiro, o ministro emitiu um aviso contundente: ou o Brasil ajeitava a casa ou o era relegado ao status de "junk" (país sem selo de bom pagador).

Porém, oito meses depois, Levy luta para progredir em meio à crise política e ao declínio da economia tem destruído a capacidade de se fazer qualquer coisa no Congresso.

E a própria escala do buraco fiscal ficou evidente com o anúncio do Orçamento na segunda-feira (31) pelo governo. " Em vez de propor novos cortes de gastos ou aumento de impostos, pediu ao Congresso para fazer o trabalho duro de encontrar formas de tapar o buraco fiscal", ressalta o jornal.

Aliás, esse pedido foi recusado pelos presidentes do Senado e da Câmara, que disseram não ser papel do Legislativo indicar onde e como o Executivo deve cortar gastos e elevar receitas. 

Agências de risco aguardam atuação de Levy

O jornal ainda destaca a análise de economistas acusando Joaquim Levy e sua equipe econômica de terem "jogado a toalha" do ajuste fiscal. Enquanto isso, as agências de classificação de risco Standard & Poor's e Moody's têm o Brasil no radar para colocá-lo abaixo do grau de investimento. Por enquanto, elas aguardam a atuação de Levy. Em meio ao cenário de elevação da relação entre a dívida bruta e o PIB (Produto Interno Bruto), alguns economistas esperam um corte na nota de crédito nos próximos meses.

"Desde os anos 1990, os governos brasileiros têm utilizado o conceito de um superavit primário - que exclui o pagamento de juros - para medir o seu desempenho fiscal. Mesmo que eles nem sempre tenham sido bem-sucedidos, os líderes brasileiros têm, pelo menos, definido o alvo a cada ano para alcançar um excedente primário". Porém, isso, mudou com o anúncio de segunda-feira.

"A dura realidade política é que Levy tem pouco espaço de manobra. O Estado já elevou os tributos acentuadamente ao longo dos últimos vinte anos com a economia em recessão, conforme destacou o vice-presidente Michel Temer nesta semana", diz o jornal. Porém, é um cenário complicado, já que as despesas são engessadas. 

"Todo mundo é a favor do ajuste fiscal, enquanto alguém paga a conta", afirmou o pesquisador do Ipea, Mansueto Almeida. "Se não conseguirmos fazer o ajuste fiscal, então a economia está em risco."

Fraqueza do governo é maior que incapacidade do ministro

O jornal aponta que a incapacidade de Levy de tentar impedir o rombo é um reflexo da fraqueza mais ampla do governo e que a falta de habilidade política aumenta ainda mais os problemas, além de o governo ter se retraído em meio a pressões do Congresso e da sociedade. 

"O ministro da Fazenda tem evitado grande parte da culpa por esses erros, mas isso não impediu que a especulação renovada sobre Levy vai ficar no cargo por muito mais tempo. Desde que entrou no governo em janeiro, foi duramente criticado pelo PT por seus apelos de austeridade. Ele também já está sendo atacado pela 'direita', caso do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, chamando-o de 'ministro do desemprego'".

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