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É um torpedo? É uma bomba? Dilma volta a viver "filme de terror" nesta semana

27/11/2015 17h25

SÃO PAULO - Na semana passada, nós destacamos os ventos que começaram a soprar a favor do Palácio do Planalto e, principalmente, para a presidente Dilma Rousseff: ela co nseguiu reafirmar "quem é que manda no governo" ao manter o nome do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, conseguiu vitórias no ajuste fiscal com a manutenção de boa parte dos vetos, que se derrubados levariam a gastos bilionários, além de assistir ao enfraquecimento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A tese do impeachment perdeu forças e Dilma ganhou fôlego, sinalizando dias melhores para a presidente. 

Porém, o "imponderável" voltou a abalar as estruturas do governo. No início da semana, um baque: a prisão do pecuarista e conhecido como "amigo de Lula" José Carlos Bumlai, o que voltou a colocar o ex-presidente no "olho do furacão", levando a desdobramentos políticos sensíveis para a presidente.

De acordo com a decisão do juiz federal Sérgio Moro, a prisão preventiva do empresário e pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, se insere em um esquema de corrupção e fraude para o pagamento de dívidas da campanha do PT.

Porém, Moro ressaltou em sua decisão: "não há nenhuma prova de que o ex-Presidente da República estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução".

A avaliação do núcleo mais próximo à presidente era que o fechamento do cerco a Lula na Lava Jato tinha o objetivo de desmoralizá-lo e enfraquecer sua capacidade de mobilização social.  Eles veem que, se houver a abertura do processo de impeachment contra a presidente, Lula  “é o único” capaz de mobilizar a militância petista e os movimentos sociais para defendê-la. Mas se ele estiver enfraquecido e desgastado pelas suspeitas de corrupção, por exemplo, o governo poderia ficar inviabilizado. 

Porém, o governo mal sabia que era apenas o começo. Na manhã do dia seguinte, o desdobramento da Operação Lava Jato fez com que a prisão de Bumlai ficasse em segundo plano. A prisão do senador Delcídio Amaral, do chefe de gabinete dele no Senado, de um advogado que atende clientes do Lava-Jato e do banqueiro, presidente do BTG, André Esteves, sob a acusação de tentarem obstruir as investigações da Operação Lava-Jato e prepararem a fuga de um dos principais envolvidos nos negócios do petrolão, o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, abalou fortemente os Três Poderes.

A repercussão internacional também foi intensa. Conforme destacou a Business Insider, as prisões foram sentidas como uma “bomba nuclear'' na política brasileira, enquanto o Financial Times ressaltou que elas poderiam ser um "torpedo" na economia nacional. 

O ambiente político p reocupou, deixou alguns partidos governistas em pânico e gerou uma total paralisia no Congresso, prejudicando (e atrasando) mais uma vez a votação das medidas de ajuste fiscal do governo. Além disso, a relação dentro do próprio PT ficou abalada. A Bancada do PT no Senado, que votou pela liberação de Delcídio, sentiu-se traída pelo presidente do partido, Rui Falcão, que emitiu uma nota afirmando que o PT não se julga obrigado a gesto de solidariedade com Delcídio, o que diminuiu muito a disposição para que votassem a favor do senador no Plenário.

Cabe ressaltar ainda que Delcídio era um dos nomes de maior importância do governo no Congresso e, em parte, responsável por um clima mais pacífico no Senado para apoio a medidas defendidas pelo Planalto. Assim, sua prisão, além de ser mais um desgaste na conta do partido, representa uma dura derrota à gestão de Dilma Rousseff. Além do PT e de Lula, a presidente agora vê seu governo em posição de maior vulnerabilidade com relação às investigações na Petrobras.  

Por falar em vulnerabilidade, é bom destacar: de acordo com as informações de diversos jornais, a delação de Nestor Cerveró promete ser "explosiva". E, e m trecho do que seria a sua delação premiada, o ex-diretor internacional da Petrobras  afirmou que a presidente Dilma Rousseff "sabia de tudo de Pasadena" e que ela "me cobrava diretamente". 

A refinaria de Pasadena está localizada nos Estados Unidos e, na avaliação do TCU (Tribunal de Contas da União),teve superfaturamento de US$ 792 milhões. Ela foi comprada após encaminhamento favorável da agora presidente Dilma, que era na época presidente do Conselho de Administração da Petrobras.   Dilma chegou a afirmar que só aprovou a compra porque o conselho recebeu um resumo técnico "falho" e "incompleto" sobre a aquisição.

A compra da refinaria pela Petrobras é um dos pontos destacados pelo mais "ilustre" pedido de impeachment contra a presidente, formulado por Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal. Vale ressaltar que Cunha disse ontem  que poderá decidir sobre os sete pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff na segunda-feira.  Ao ser lembrado que ele prometeu despachar os pedidos até o final de novembro, Cunha afirmou: “Novembro ainda não acabou, quem sabe segunda-feira? Não estou ainda inadimplente, você pode cobrar a partir de segunda”, disse o presidente da Câmara.

“Eu ia até antecipar a decisão. O problema é que a decisão de um praticamente antecipa o posicionamento do outro. Então, esses aí eu vou fazer [decidir] em conjunto mesmo. Claro que já tem parecer, tem discussão, a gente está discutindo, está vendo. Tem pareceres, inclusive, contraditórios, a gente está olhando e está vendo. Todos já têm parecer”, informou o presidente da Câmara.

E a economia?
No campo econômico, más notícias por todos os lados. Na última quarta-feira, além da prisão de Delcídio, a detenção do banqueiro André Esteves repercutiu nos mercados, o Ibovespa caiu quase 3%.

O BTG, cujas ações estão fora do índice, viu seus papéis em baixa de 20%, mas ações de grandes bancos como Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil, negociados no benchmark da bolsa brasileira, caíram forte, assim como a Petrobras. 

E na sexta, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo,  Levy afirmou que o governo "vai cumprir" a determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) e, na segunda-feira, 30, anunciar um corte de todos os recursos disponíveis para gastos até o fim do ano, para não incorrer em infração no fechamento das contas de 2015, já que o Congresso não votou a mudança na meta fiscal deste ano - ainda está em vigor a obrigação de fechar 2015 com um superávit primário de 1,1% do PIB. Por isso, o governo se verá obrigado a contingenciar R$ 107,1 bilhões, mas há somente R$ 10,7 bilhões à disposição para cortes. 

Além disso, a  preocupação com a votação da meta de primário do Brasil em 2015, marcada para a noite de terça-feira, levou a presidente Dilma Rousseff a encurtar sua viagem ao exterior, conforme informam agências de notícias. 

Nesta semana, destaque ainda para relatório do banco suíço Credit Suisse desta semana. As previsões para o Brasil foram desoladoras: queda de 3,6% do PIB este ano, contração de 3,5% ano que vem e baixa de 0,5% em 2017. Inflação acima de 10% este ano, 8% ano que vem e 6,5% em 2017, déficit fiscal, entre outros mostram que o cenário de deterioração econômica ainda vai demorar a ser revertido. 

Além disso, uma nova notícia gerou ainda mais tensão nos mercados. A agência de classificação de risco Standard & Poor's visitará o País semana que vem e, segundo informações do Valor Pro, serviço em tempo real de informações do Valor Econômico, o governo não teria o que mostrar. Cabe lembrar que a S&P rebaixou o Brasil para grau especulativo em setembro deste ano.

Entre os dados da agência econômica, também houve más notícias: a  queda da arrecadação e a alta dos gastos com subsídios e a Previdência Social fizeram o Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) registrar o maior déficit primário da história em outubro.  No mês passado, as contas do Governo Central ficaram negativas em R$ 12,279 bilhões, o pior resultado para o mês. Em outubro de 2014, o governo tinha registrado superávit primário de R$ 4,086 bilhões.

Para a semana que vem, merecem atenção os dados do PIB: segundo pesquisa da Reuters, o PIB ( Produto Interno Bruto) brasileiro deve ter caído 1,%por cento no terceiro trimestre ante o segundo, com ajuste sazonal, após baixa de 1,9% entre abril e junho, segundo a mediana de 33 estimativas na pesquisa que foram de queda de 2,4% a 0,5%.

 

Em relação ao terceiro trimestre de 2014, o PIB deve ter contraído 4,1%, maior queda interanual desde o início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1996. Neste caso, as contas foram de recuo de 5,1% a 2,1%.

Argentina e Venezuela
O cenário internacional também repercute no País, com a eleição do liberal Mauricio Macri na Argentina indicando que os nossos "hermanos" podem tomar a posição de protagonismo no continente.

Macri mostrou disposição em fazer acordos com a União Europeia e expandir as fronteiras comerciais, o que pode beneficiar o Brasil. Ao mesmo tempo, ele pressiona pela saída da Venezuela do Mercosul e tem uma posição bem definida contra o regime de Nicolás Maduro, enquanto o Brasil ainda "fecha os olhos" para o regime autoritário do presidente do país. 

O clima de tensão na Venezuela aumentou após o  assassinato de Luis Manuel Díaz, líder da oposição venezuelana, ocorrido na última quarta-feira (25) durante comício no país. Ele foi morto a tiros, levando autoridades brasileiras a se posicionarem. “O governo brasileiro confia em que o governo venezuelano atuará para coibir quaisquer atos de violência ou intimidação que possam colocar em dúvida a credibilidade do processo eleitoral em curso e a legitimidade dos resultados da votação”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores. No próximo dia 6, mais de 19 milhões de venezuelanos votarão nas eleições, para renovar 167 cadeiras do Parlamento.

Em meio a esses acontecimentos, tanto no Brasil quanto no exterior, o governo Dilma assiste perplexo e, de uma certa forma impassível, tentando recompor a sua base aliada e buscando se posicionar na América Latina. Assim, as próximas semanas serão decisivas para a presidente: os desafios que ela terá que enfrentar são imensos, tanto na política quanto na economia.