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Dólar em queda: veja 3 motivos que têm feito a moeda cair

Getty Images
Imagem: Getty Images

10/08/2016 11h09

SÃO PAULO - O dólar comercial fechou em queda nesta quarta-feira (10) e segue no menor nível desde julho de 2015. Neste pregão, houve três motivos para a queda do dólar, o que faz com que diversos analistas já vejam a moeda norte-americana valendo R$ 3,10 e até R$ 3 até o final do ano. 

1. Impeachment

O primeiro motivo é político. Ontem, o Senado aprovou por 59 votos a 21 o parecer da Comissão Especial de Impeachment que recomendava a continuidade do processo de impedimento da presidente afastada, Dilma Rousseff.

O resultado da votação foi bastante próximo do esperado pelo governo do presidente interino, Michel Temer. Integrantes do governo avaliavam que o governo teria cerca de 60 votos favoráveis pela admissão da pronúncia.

Isso é visto como positivo pelo mercado porque, segundo a economista-chefe da ARX, Solange Srour, a expectativa dos investidores é de que após o impeachment da presidente afastada, Temer se sinta mais confortável para endurecer a postura em relação ao Congresso, que frequentemente o obriga a fazer concessões em medidas importantes do ajuste fiscal.

Foi o que aconteceu no caso da renegociação das dívidas dos Estados, que acabou sem proposta que exigia dos Estados que não fizessem reajustes salariais dos seus servidores por dois anos em troca do alongamento das suas dívidas com a União.

“Para o pós-impeachment, a expectativa é que as equipes econômica e política façam acontecer; que apresentem, enumerem quais são as reformas e façam o processo avançar rapidamente; se isso não acontecer, o mercado pode reagir negativamente”, diz Srour.

Além disso, o diretor técnico da Wagner Investimentos, José Faria Jr., afirma que o dólar cai também com a redução de risco proveniente do placar largo com que a votação do parecer do impeachment foi aprovada.

" O placar folgado nos faz focar na aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 241 [que impõe por 20 anos um limite para o aumento dos gastos públicos igual à inflação do ano anterior]. Após a aprovação do limite de gastos da União, teremos a batalha no primeiro semestre de 2017 da reforma da Previdência, essencial para esta PEC 241 surta efeito", avalia.

2. Juros nos EUA

Ao mesmo tempo em que o cenário político fica mais propício para reformas estruturais que reduzam o risco de se investir no Brasil, o exterior também responde por boa parcela do otimismo com o câmbio.

José Faria Jr. lembra que o dollar index está em queda e se aproxima de sua menor cotação em quase dois meses, ao passo que as moedas de emergentes sobem para a maior cotação desde junho de 2015, com redução da aposta de alta dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) neste  ano.

Nem mesmo o último relatório de emprego dos EUA, mostrando uma criação de 255 mil vagas em julho conseguiu fazer com que as apostas de alta de juros pelo Fed este ano subissem para mais de 50%.

Isso em um cenário em que o mundo tem liquidez abundante proveniente dos juros próximos de zero em BCs de quase todos os países desenvolvidos.

Ou seja, o dinheiro está sobrando e esse fluxo de capital deve vir para países com altas taxas de juros, mas riscos não tão grandes, como é o caso do Brasil. 

3. Inflação

Por fim, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), medidor oficial de inflação do Banco Central, mostrou-se mais pressionado pelos preços de alimentos do que se esperava.

Em julho, o IPCA avançou 0,52%, acima da expectativa mediana dos economistas, que era de 0,45% de aumento da inflação no mês passado. O IPCA atingiu 8,74% em 12 meses.  

Com a inflação mais resistente do que o mercado esperava, nada mais adequado do que imaginar que o BC deve manter o tom "hawkish" (agressivo, no sentido de elevar juros) e esperar mais tempo antes de começar a cortar a taxa Selic, atualmente em 14,25% ao ano.

Como resultado, a diferença entre a rentabilidade de um título do Tesouro norte-americano e de um título do Tesouro brasileiro continuará extremamente alta, tornando as aplicações aqui mais atrativas para o investidor estrangeiro.

Por isso, não fique surpreso se a entrada de recursos no Brasil continuar crescendo nos próximos dias, aumentando a procura por reais e, consequentemente, desvalorizando o dólar.

A conjunção de dinheiro sobrando lá fora, altas taxas de juros aqui e menor risco político é perfeita para a entrada dos "gringos" no nosso mercado.