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Direto ao ponto: o que muda no mercado após o Fed projetar mais altas de juros para 2017?

14/12/2016 19h06

SÃO PAULO - Na decisão mais aguardada dos últimos meses e pela primeira vez em um ano, o Federal Reserve decidiu elevar as taxas de juros nos Estados Unidos em 25 pontos-base. Mas a decisão já era amplamente esperada pelo mercado, que acabou sendo surpreendido pela mudança nas projeções da autoridade americana. Para 2017, o Fed espera agora três novas elevações nas taxas, contra duas previstas anteriormente. Mas o que isto muda para o mercado?

Para o sócio-presidente da Canepa Asset, Alexandre Póvoa, não chega a ser uma grande mudança para o mercado, mas acaba tendo um forte impacto neste curto prazo porque os investidores não estavam preparados para uma declaração mais "hawkish". "Os dados da economia estão bons nos EUA e isso reforça cada vez mais este ritmo mais forte das altas", afirma ele lembrando que o Fed chegou a projetar quatro altas para 2017 antes de cortar para apenas duas em setembro e agora voltando a elevar para três.

Para Póvoa, Trump fez o "trabalho sujo" do Fed ao anunciar diversas medidas econômicas que devem elevar a inflação no país e alavancar a economia e isso ajuda a ancorar este maior otimismo da autoridade neste momento. "É saudável ver esta reação. Antigamente o mercado comemorava a manutenção do juros, mas agora esta alta significa que a economia lá está melhorando", explica.

Sobre o mercado doméstico, o sócio da Canepa explica a reação de queda da Bolsa e alta do dólar pela precificação diferente que o mercado tinha, esperando que o Fed mantivesse um tom mais cauteloso, mesmo subindo o juros agora. O dólar deve ser o ativo que mais pode mudar seu patamar, apesar deste reflexo não ser esperado em curto prazo, sendo necessário mais sinais de que o Fed realmente seguirá estas projeções.

Nesta sessão, o Ibovespa fechou com queda de 1,80%, aos 58.212 pontos, enquanto o dólar futuro virou para alta no momento do anúncio e fechou com ganhos de 0,89%, a R$ 3,384. O dólar comercial, por sua vez, subiu 0,22%, para R$ 3,3332 na venda, mas fechou os negócios minutos antes da decisão do Fomc.

Póvoa acredita que o mercado ainda pode ter uma reação no pregão desta quinta-feira (15), principalmente no câmbio e juros, mas que não deve haver uma grande mudança de cenário para o mercado brasileiro neste momento. Vale destacar que o mercado doméstico tende a reagir de forma negativa a alta de juros nos EUA porque isso tira a atratividade dos investimentos por aqui, levando capital a sair do país.

Em entrevista para a Bloomberg, Alberto Ramos, economista-sênior do Goldman Sachs, destacou que se o dólar se valorizar com mais força por aqui, poderá tirar a "liberdade do BC  para afrouxar a política monetária agressivamente para estimular a demanda". O Banco Central disse que não irá comentar a decisão do Fed de hoje.

Por outro lado, o estrategista Mauricio Oreng, do Rabobank Brasil, vê uma pressão " relativamente limitada". "Não acho que sinalização do Fed seja suficiente para alterar visão do Banco Central", disse. Para ele, a "decisão de hoje não traz mudança brusca de cenário, mas será importante monitorar a política econômica de Trump".