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Brasil tem 81 moedas além do real; veja algumas delas

Juliana Kirihata

Do UOL, em São Paulo

04/06/2012 06h00

Desde que se tornou um agente de crédito, Francisco Holanda passou a ser cada vez mais conhecido no Conjunto Palmeiras, favela de Fortaleza (CE). O Palmas, em que Holanda trabalha, faz parte da rede de bancos comunitários. Esses bancos criaram pelo menos 81 moedas alternativas ao real, segundo a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), do Ministério do Trabalho e Emprego.

As moedas sociais são reconhecidas pelo Banco Central como complementares ao real, e são usadas pelos bancos comunitários para estimular a economia local. Para cada moeda social liberada, os bancos devem ter uma moeda em real em caixa. Uma palma usada no Conjunto Palmeiras, por exemplo, vale R$ 1. “As palmas são aceitas em 97% das lojas do bairro”, diz Holanda. 

De acordo com Holanda, os comerciantes oferecem descontos de até 10% quando o pagamento é realizado com a moeda local, o que incentiva o gasto na própria comunidade, que tem cerca de 30 mil habitantes. Quem quiser ter palmas para ganhar descontos pode trocar seus reais no banco comunitário. Esse sistema é seguido também pelos outros bancos do país.

Antônio Mendonça, coordenador da Senaes, afirma que a rede de bancos comunitários movimentaram, nos últimos 14 anos, cerca de R$ 10 milhões, sendo R$ 400 mil na forma de moedas sociais.

“A moeda é um processo de garantia à fidelização do cliente, que deixa de gastar nas grandes redes para comprar no próprio bairro”, diz. Desde que surgiram, em 1998, as notas das moedas sociais já ganharam mais segurança, como papel especial e, algumas, até marca d’água. Impressas em gráficas diferentes no país, as notas têm o custo de produção de R$ 20 mil a cada 30 mil unidades. 

Desde quando foi criada, em 2003, a secretaria diz ter investido R$ 15 milhões em ações para incentivar a abertura de bancos comunitários. Porém, o governo não dá suporte financeiro após o início das operações de um banco desse tipo, cujo capital inicial vem, geralmente, por meio de doações e parcerias com empresas.

Empréstimos para consumo e negócios

Outro importante papel dos bancos comunitários, além de gerador de moedas, é o de emprestador de dinheiro. Os juros cobrados, de acordo com Mendonça, variam de 0,5% a 3% ao mês, menores que as taxas da maioria das instituições financeiras oficiais. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, cobra juros entre 1,8% a 3,88% no crédito pessoal.

No Banco Palmas, os empréstimos variam de R$ 150,00 a R$ 15 mil, e muitas vezes são o único recurso dos moradores para pagar as contas ou comprar produtos para vender. 

Para garantir uma baixa taxa de inadimplência (cerca de 1,5%), Holanda visita constantemente comerciantes, donas de casa e prestadores de serviço para saber a situação dos que já usaram ou pretendem usar o serviço de crédito.

O acompanhamento dos tomadores de empréstimos, segundo Joaquim Melo, um dos fundadores e hoje coordenador do banco Palmas, é fundamental para garantir baixas taxas de inadimplência, e também a saúde financeira de quem precisa de dinheiro.

“O crédito é importante, mas ele não pode vir sozinho, e sim acompanhado de ações complementares, como cursos, apoio empresarial e acompanhamento do uso do dinheiro”, diz.