IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Entenda como funcionam as fazendas de ostras em Florianópolis (SC)

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis (SC)

29/11/2012 06h00

Cerca de 5.000 pessoas vivem da maricultura (criação de mariscos) no Ribeirão da Ilha, bairro de Florianópolis.

A atividade ocupa quase 100 hectares das águas calmas e rasas das baías do contorno Sul da Ilha de Santa Catarina, a parte insular de Florianópolis.

Eles se dizem "fazendeiros de ostras". Seus criadouros seriam fazendas marinhas.


"Precisamos seguir as mesmas normas de limites entre as propriedades dos criadores de gado, com cercas e cada um com seus animais", ensina Ademir Dario, 57, presidente da Associação dos Maricultores Profissionais do Sul da Ilha.

A atividade no Ribeirão da Ilha começou no início dos anos 90, levada por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do governo do Estado como alternativa de renda aos pescadores -muitos ainda trocavam entre si produtos agrícolas, ao estilo dos primeiros colonizadores.

Os pesquisadores realizaram um estudo de impacto ambiental antes de introduzir uma espécie de ostras do Oceano Pacífico -a UFSC garante que ela é segura.

O processo de criação de ostras começa nos laboratórios da UFSC, na Barra da Lagoa, no Leste da Ilha, onde os fazendeiros do mar compram 100 mil matrizes por R$ 100. Sete em cada 10 vingam.

Essas matrizes têm a aparência e o tamanho de um grão de areia. Em torno de cada uma vai crescer o molusco.

A área de criação é um loteamento muito disputado. O Ministério da Pesca controla cada gota, distribuindo até 4 hectares de água para os nativos por licitação -e eles lutam para evitar o assédio de grandes companhias pesqueiras, interessadas no negócio.

Uma vez assentado em seu lote, aquele grão de areia da universidade precisa ficar de seis a sete meses ali até engordar o suficiente para venda -oito dúzias de ostras médias produzem um quilo de carne. Ela tem poucas calorias e muito Ômega 3, considerado bom para o coração.

Um lote inicial precisa de quase R$ 30 mil de investimento em salários para pescadores, redes e "lanternas" -estas também são redes, mas com compartimentos parecidos com os das lanternas chinesas, daí o nome.

As ostras passam seus dias se alimentando de detritos do mar, funcionando como um filtro.

Características de Florianópolis ajudam a produzir mais ostras

As características de Florianópolis são boas para o molusco. A França é grande produtora, domina as tecnologias, ensina o mundo. Mas, suas águas são 6 metros mais fundas do que as ideais e pobres em nutrientes.

Florianópolis tem águas rasas, de até um metro e meio, nutridas por correntes que trazem alimentos dos rios e da chuva da vizinha Serra do Mar, no continente.

Assim, a ostra catarinense engorda em seis meses o que a francesa leva até 3 anos.

Isso explica como as baías calmas do Ribeirão passaram a ser uma mina de dinheiro. Muitos dos filhos de pescadores que há 20 anos pescavam para comer, hoje viraram mauricinhos e andam em carros importados.

Quem nasceu ali tem direito de participar das licitações de lotes d'água. E quem entra no ramo fica bem de vida em quatro ou cinco anos.
 
Os imóveis na região valorizam acima do mercado: uma casa antiga no centrinho histórico do Ribeirão da Ilha era trocada por um carro popular zero km no ano 2000, mas hoje pode custar até R$ 2 milhões.