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Pequenos produtores de coco do Nordeste sofrem com 'importados' e queda dos preços

Beto Macário/UOL
Imagem: Beto Macário/UOL

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

20/12/2012 06h00

O fim da proteção comercial do governo foi um duro golpe para os produtores brasileiros de coco.

Desde 2002, o governo limitava as quantidades de coco seco que podiam ser importadas, o que ajudava a proteger os pequenos produtores nacionais. Mas a medida foi suspensa em agosto deste ano, atendendo às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Com o fim dessa salvaguarda, pequenos produtores passaram a enfrentar a concorrência internacional chegando por aqui, e uma queda nos preços do produto. Países da África e da Ásia são os principais concorrentes.

"O coco chegou a ser vendido por R$ 1,20. Hoje, custa R$ 0,35. Por esse preço, não compensa plantar. Estamos no prejuízo", diz Eurico Uchôa, presidente da Associação dos Produtores de Coco de Alagoas (Prococo). Segundo ele, o setor amargou uma queda de 70% no preço da unidade nos últimos meses. 

'Ninguém quer mais'

Com a proteção do governo durante 10 anos, cresceu o número de produtores e a área plantada, dizem os empresários. Porém, com o fim da salvaguarda, muitos plantadores estão deixando de lado o coco. A crise enfrentada pelo setor atinge em cheio os pequenos produtores do Nordeste. 

No Estado de Alagoas, por exemplo, cerca de 5.300 plantadores sobrevivem da venda do produto.

Claudiano Manoel dos Santos, 46, planta coco em Maceió e afirma que a situação atual lembra a crise vivida em 1998, quando os preços também tiveram baixa significativa, e muita gente desistiu da produção. 

"Agora ninguém quer mais coco. Nós levamos a mercadoria para a feira, mas ninguém compra. Nem se colocarmos por cinco centavos", diz.

"Pela idade que tenho, não há como ir para outra profissão", afirma Juvenal Alexandre Pereira, 62, que planta coco há 35 anos. "A solução é esperar, ver se as coisas melhoram. Enquanto isso, a mulher vai se virando, tentando fazer artesanato [derivado do próprio coco]."

Produtor troca coco por vento

"Tem muita gente desistindo plantar coco. De Sergipe para cá [Alagoas] você já tem muita gente mudando de ramo", diz Uchôa, da Associação dos Produtores de Coco de Alagoas (Prococo). 

"Aqui você tem uma boa quantidade de vento, ideal para produzir energia. Hoje, os produtores estão alugando as terras. Uma torre de produção de energia eólica gera R$ 3.000 por mês para o proprietário, e você não tem custo com empregado, nem despesas sociais", afirmou.

O custos dos empregados no país, segundo ele, é um dos principais obstáculos para o produtor nacional conseguir concorrer com o coco importado. 

"Aqui nós temos salário mínimo e encargos de primeiro mundo. Tem países da Ásia que pagam US$ 30 por mês ao funcionário. É uma competição desleal, pois pagamos quase 10 vezes esse valor por cada trabalhador. Como vamos sobreviver assim?", questiona.

Grandes indústrias têm afetado pequeno produtor

Para o proprietário de fazenda e produtor Daniel Quintela Brandão, o comércio do coco veio caindo ao longo dos anos também por causa das plantações das grandes indústrias do setor.

"As maiores indústrias brasileiras são praticamente autossuficientes em matéria-prima, sobrando para os produtores independentes apenas as pequenas fábricas. E isso não tem um grande alcance", diz.

Apesar do mau momento, Brandão acredita em uma recuperação nos próximos meses. Para ele, o setor deve passar por dificuldades para conseguir uma reação no preço.

"Acredito nisso porque estamos vivendo uma seca, que vai diminuir substancialmente a produção. Além disso, o abandono da produção por conta dessa crise deve contribuir significativamente. Acho que o preço vai se recuperar", afirma.