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Educação a distância prova ser popular, mas ainda não é negócio lucrativo

Tamar Lewin*

De Mountain View, Califórnia (EUA)

12/01/2013 06h00

Quatro meses após Daphne Koller e Andrew Ng abrirem a Coursera, empresa americana que oferece cursos a distância de 33 universidades de elite, o site já tinha atraído um milhão de usuários. Uma adesão ainda mais rápida que do Facebook ou Twitter.

No mês passado, os cofundadores, professores de computação da Universidade de Stanford, observaram maravilhados o número de matrículas ultrapassar os 2 milhões, com 70 mil novos alunos por semana se matriculando nos mais de 200 cursos.

Em menos de um ano, a Coursera atraiu US$ 22 milhões em capital de risco, e deu tanto o que falar que algumas universidades soaram um tanto defensivas por não terem aderido à ideia.

Universidades americanas estão aumentando seus cursos on-line para atrair estudantes do mundo todo. Novos empreendimentos, como a Udemy, ajudam professores a formatarem cursos a distância. Harvard e o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) forneceram US$ 30 milhões cada para a criação do edX. Outra empresa nascida de Stanford, a Udacity, atraiu mais de um milhão de estudantes para seus cursos on-line abertos em massa (em inglês, Moocs), juntamente com US$ 15 milhões em financiamento.

Tudo isso poderia se somar ao ensino do ensino superior --se alguém conseguir imaginar como ganhar dinheiro.

A Coursera cresceu em velocidade vertiginosa e se transformou na atual líder do setor, mas não há garantias de que ela manterá sua posição no crescente mercado de tecnologia de educação.

"Ninguém ainda tem o modelo que vai funcionar", diz James Grimmelmann, professor da Escola de Direito de Nova York, especializado em lei de internet e informática. "Eu espero que todos os atuais empreendimentos fracassem, porque as expectativas são altas demais. As pessoas acham que algo vai pegar. Mas é mais provável que levará uma década até que alguém descubra como fazê-lo e ganhar dinheiro."

Mas Koller e Ng proclamam um desejo de manter os cursos disponíveis gratuitamente para estudantes pobres do mundo. A educação, eles dizem repetidamente, deve ser um direito, não um privilégio. E até mesmo aqueles que apoiam o empreendimento dizem que os lucros podem esperar.

"A monetização não é o objetivo mais importante para esse negócio a essa altura", comenta Scott Sandell, um dos financiadores da Coursera e sócio-geral da New Enterprise Associates. "O que importa é que a Coursera está acumulando rapidamente um corpo de conteúdo de alta qualidade que pode muito bem ser atraente para universidades que desejam licenciá-lo para uso próprio. Nós investimos com uma mentalidade de longo prazo, e o período de gestação das melhores empresas é de pelo menos dez anos."

"Nós ganharemos dinheiro quando a Coursera ganhar dinheiro", fala Peter Lange, reitor da Universidade Duke, um dos parceiros da Coursera. "Eu não acho que demorará muito tempo. Nós não queremos cometer o erro cometido pelos jornais, de dar o produto de graça on-line por tempo demais."

No momento, a fonte de receita mais promissora da Coursera é o pagamento de taxas de licenciamento por outras instituições de ensino, que desejam usar as classes da Coursera, seja como um "curso pronto" ou com videoaulas às quais os estudantes possam assistir antes de ir à sala de aula.

Validação de cursos

Koller também tem muitas outras ideias. Ela planeja cobrar US$ 20, ou talvez US$ 50, pelos certificados de conclusão. E sua empresa, assim como a Udacity, começa a cobrar de empregadores, como o Facebook e o Twitter, pelo acesso aos estudantes de melhor desempenho, iniciando por aqueles que estudam engenharia de software.

Recentemente, Koller ficou empolgada com uma notícia que estava prestes a anunciar: o campus de Los Angeles da Universidade Antioch concordou em oferecer crédito aos seus alunos por concluírem com sucesso dois cursos da Coursera, Poesia Americana Moderna e Contemporânea e Mitologia Greco-Romana, ambos lecionados por professores da Universidade da Pensilvânia.

A Antioch seria a primeira universidade a pagar uma taxa de licenciamento --Koller não divulga quanto-- para oferecer os cursos aos seus alunos por um preço mais baixo que qualquer campus público no Estado. "Nós achamos que esse modelo vai se espalhar, ajudando as instituições acadêmicas a oferecerem aos seus alunos um ensino melhor por um preço mais baixo", opina.

A Coursera anunciou recentemente outra rota para ajudar os estudantes a receberem crédito por seus cursos --e gerar receita. A empresa negociou para que o Conselho Americano de Educação, a entidade que representa as escolas de ensino superior, faça com que especialistas avaliem se vários cursos são dignos de transferência de créditos. Se os especialistas disserem que sim, os estudantes que completarem com sucesso esses cursos poderiam realizar uma prova, pagar uma taxa, e receber um crédito do conselho, uma certificação já aceita por 2.000 universidades.

Cliques

Segundo os contratos da Coursera, a empresa fica com grande parte da receita; as universidades recebem de 6% a 15% da receita e 20% do lucro bruto. Os contratos descrevem várias possibilidades de monetização: cobrança por extras, como manual ou aulas particulares (permanece um pergunta sem resposta se e como as universidades parceiras dividirão a receita com os professores que desenvolvem os cursos on-line; alguns professores dizem que a tarefa equivale a escrever um livro didático e, portanto, merecedora de remuneração semelhante).

Uma receita minúscula entra por uma parceria com a Amazon. Ela recebe uma pequena comissão toda vez que os alunos da Coursera clicam, por meio do site, e compram livros recomendados ou qualquer outro produto na Amazon.

"São apenas poucos mil, mas é nossa primeira receita", explica Koller. "Quando um professor recomenda um livro e as pessoas o compram na Amazon, nós recebemos dinheiro. O engraçado é que recebemos quase o dobro de dinheiro por coisas como jaquetas dos Texas Rangers do que por livros de ensino."

Outras possibilidades analisadas incluem a cobrança de uma taxa de assinatura, após o término de um curso, para permanência no fórum de discussão como uma comunidade de internet, ou talvez oferecendo cursos adicionais, de novo por uma taxa. Propagandas no site continuam sendo uma possibilidade.

Como o acordo com a Antioch, algumas tentativas tiveram um início lento. A Universidade de Washington já ofereceu crédito pago por alguns poucos cursos da Coursera. Enquanto milhares de estudantes se matricularam na versão gratuita, apenas um punhado optou pela opção paga, que rende crédito. Mas o vice-reitor, David P. Szatmary, justificou que parte do problema foi a opção de crédito ter sido postada apenas pouco depois do início do curso, quando a maioria dos alunos já tinha se matriculado gratuitamente.

"Vamos tentar de novo. Achamos que, se nossos alunos souberem da possibilidade de obter direito ao crédito, eles poderão se mostrar dispostos a pagar uma taxa e ter seu próprio fórum de discussão, um instrutor que os oriente ao longo do curso e algumas leituras e projetos adicionais."

Porta para o ensino superior

Os cofundadores da Coursera descrevem os cursos on-line gratuitos como a porta de acesso ao ensino superior para qualquer um com conexão de internet. Muitos educadores preveem que grande parte da receita dos Moocs virá de cursos complementares licenciados e de cursos introdutórios em matérias como economia e estatística, duas categorias de cursos que contam com centenas de milhares de estudantes matriculados por ano.

Apesar de menos de 10% dos estudantes de Moocs concluírem os cursos nos quais se matriculam por conta própria, muitos especialistas acreditam que a combinação de materiais de Moocs com apoio de um professor ou professor-assistente pode aumentar as taxas de conclusão.

Mas até mesmo Koller não sabe ao certo sobre o futuro dos Moocs e de sua empresa. "Há um ano, eu não poderia imaginar que estaríamos onde estamos agora", ela disse. "Quem sabe onde estaremos daqui cinco anos?"

*Texto de "The New York Times"; tradução de George El Khouri Andolfato