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Microcervejarias fazem do RS um polo de cervejas especiais

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

04/02/2013 06h00

O Rio Grande do Sul, que já é reconhecido pela fabricação de vinhos, quer se tornar também um polo produtor de cervejas especiais. O apreço pela bebida é favorecido pela influência europeia na região e, aos poucos, marcas locais estão conquistando clientes e ganhando espaço no mercado. 

A tradição do Estado na fabricação de cervejas existe desde meados do século passado com as marcas Polar e Polka (hoje Serramalte), que foram adquiridas pela Antarctica e atualmente fazem parte do portfólio da Ambev.

A produção das microcervejarias, que produzem bebidas especiais, voltou a ganhar força em 1995 com a criação da Dado Bier em Porto Alegre, que reunia no mesmo lugar o bar e a fábrica. Depois de uma viagem de pesquisa pela Europa e Estados Unidos, o fundador Eduardo Bier formatou um modelo de negócio que não existia no Brasil até então.  

Três anos depois da inauguração, a empresa já distribuía a cerveja Dado Bier em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas, em 1999, uma autuação da Receita Federal quase colocou o negócio em risco.

“Na época, não havia entendimento sobre a legislação por causa da inovação. Para evitar que a empresa fechasse, separamos as operações. Agora, a fábrica de cerveja e o restaurante funcionam separadamente, o que acabou sendo benéfico, pois ambos cresceram e são negócios robustos”, diz Bier.

A rede possui quatro restaurantes em Porto Alegre, que vendem pratos e cervejas com sugestões de harmonizações, e projeta vender 5,5 mil litros da bebida em 2013. “Temos vendas bastante expressivas para grandes redes de supermercados, principalmente no Sul. Em 2013, planejamos uma distribuição mais focada no autosserviço, em supermercados e lojas de conveniência, mas sem deixar de lado os restaurantes”, afirma o proprietário.

Produção em pequena escala permite ousar na criação

História parecida tem a Lagom Brewery & Pub, também de Porto Alegre. Quatro amigos que se reuniam para fabricar cerveja em casa resolveram transformar o hobby em negócio e, em 2010, abriram um brew pub – bar que fabrica a própria cerveja no local. “Até hoje, não vendemos nossa cerveja para fora, então temos liberdade para criar o que quisermos, sem a pressão da grande indústria”, afirma Mauricio Chaulet, um dos sócios.

O sucesso da cerveja própria foi tão grande que eles inauguraram mais uma unidade no final de 2012. Porém, o negócio teve que passar por mudanças estruturais pela falta de legislação específica, que autorize o funcionamento de uma fábrica junto com um estabelecimento comercial, assim como aconteceu com a Dado Bier.

A fábrica, que passou a operar separadamente em outro endereço, produz atualmente 6 mil litros e cerca de 40 estilos de cerveja.

Redução fiscal dá novo fôlego ao setor

Jorge Gitzler, diretor da AGM (Associação Gaúcha de Microcervejarias), explica que as microcervejarias se diferenciam da grande indústria pela busca da qualidade e pelo uso de ingredientes excepcionais. “Hoje se produz mais de 30 estilos de cerveja diferentes no Rio Grande do Sul. São produtos de primeira qualidade, com sabores diferentes. Queremos atrair um público especializado e entrar nos roteiros turísticos.”

As 37 microcervejarias que fazem parte da AGM encerraram 2012 com uma produção média mensal de 500 mil litros, 66% a mais que no ano anterior. A expectativa para 2013 é ainda mais favorável, pois, a partir do dia 1 de janeiro, o governo do estado reduziu a alíquota do ICMS de 25% para 12% para empresas com produção total máxima de três milhões de litros por ano.

“Estimamos que num prazo de 12 a 24 meses o número de empresas no estado chegará a 100 por causa da redução”, afirma Gitzler.

Cultura cervejeira tem destaque em SC

Santa Catarina já se beneficia dessa mesma redução fiscal desde 2009. “Isso diluiu o custo para os fabricantes, que conseguiram manter o preço acessível”, diz Luiz Alexandre de Oliveira, proprietário da Opa Bier, de Joinville (SC), e membro da ACASC (Associação das Cervejarias Artesanais de Santa Catarina).

Segundo Oliveira, a região Sul está explorando seu potencial para criar tradição e mercado de cervejas especiais. “O Rio Grande do Sul é um polo fabricante porque adaptou a indústria de vinhos para a indústria cervejeira, usando equipamentos de engarrafamento, por exemplo. Santa Catarina, além de fabricar, é um polo da cultura cervejeira, com eventos como a Oktober Fest e o Festival Brasileiro da Cerveja.”

Ele diz que apesar de o Brasil ser um grande consumidor de cerveja, o brasileiro bebe para se refrescar e é necessário mudar essa cultura para ampliar o mercado das cervejas especiais.  “Agora as pessoas estão começando a beber para apreciar e harmonizar com pratos. O desafio é fazer novos consumidores quererem experimentar um produto superior e fazê-los entender que há um preço maior por isso”, afirma. A maior parte das cervejas especiais é vendida no varejo por R$ 8 a R$ 25 o litro.