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Caçador de javalis em SC usa armas de até R$ 50 mil

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

06/02/2013 06h00

O empresário Giovanni Zanella, 34, passa a semana em Florianópolis (SC), onde vive. Mas raramente fica na cidade nos fins de semana. Em vez disso, vai para Lages (maior cidade da Serra catarinense) ou para o oeste de Santa Catarina. O objetivo: caçar javalis, considerados comedores vorazes das plantações.

Os agricultores do Estado reclamam de perdas em suas lavouras causada pelos animais. Os bichos gostam de comer milho e soja. Por causa disso, o governo do Estado autorizou a caça aos javalis. "Eles atacam as lavouras à noite. São vorazes, causam uma perda de até uns 20% do milho plantado, um pouco menos no caso da soja", afirma José Forresti, presidente do Sindicato Rural de Ponte Serrada, no oeste catarinense.

Zanella é um dos caçadores com autorização para combater o que os fazendeiros consideram uma praga. "Sou instrutor de armamento e tiro, com Certificado de Registro no Exército (CER). Caço javalis desde 2004, no Rio Grande do Sul, onde já era permitido. Em Santa Catarina, assim que a caça foi liberada [em 2010], nos cadastramos", afirma.

Zanella não vai só. Ele faz parte de um grupo formado por oito caçadores –todos registrados no Exército. "Na maioria, são empresários e profissionais liberais, advogados e médicos. Um deles possui uma loja de armas. É um esporte caro, nossas armas custam até R$ 50 mil, fora os gastos com os cães [responsáveis por farejar e imobilizar as presas]", afirma Zanella, que diz já ter viajado à América do Norte e à África para caçar.

"Mas caçamos por amizade, não vivemos disso. Somos especializados, mas amadores, desportistas. Nunca cobramos nada, e bancamos nossos custos. O máximo que recebemos, de vez em quando, é um churrasco oferecido pelos agricultores", fala o empresário.

"São amigos fazendeiros que nos procuram e autorizam nossa presença nas propriedades. Em Lages, um amigo chegou a ter prejuízo de R$ 250 mil na por causa dos javalis", diz. "E javali é um animal muito inteligente, difícil de caçar, tem olfato e audição cinco vezes mais apurados que os de cães. E é um predador, possui dentes semelhantes a navalhas, alguns com até 15 cm. E ataca mesmo", diz.

Na cidade da Serra catarinense, Zanella conta que seu grupo já abateu cerca de cem animais, em  apenas três caçadas realizadas. "Já fomos a Ponte Serrada. Tenho um primo que mora lá, que é dentista, atirador e caçador. Ali, devemos ter abatido uns 15 a 20 javalis em quatro ou cinco visitas. Mas o pessoal da região abate bem mais. Lá, o problema é sério", afirma.

O empresário faz questão de dizer que seu grupo segue rigorosamente o que determina o regulamento. Cada animal abatido é fotografado, pesado e tem o sexo identificado. "Entregamos relatórios de abate periódicos à Polícia Ambiental. É obrigatório", diz, apesar de reconhecer que "nem todo mundo faz".

"Em Lages, há pouca gente regularizada para caçar, menos de 20 pessoas. Sei que há quem cace ilegalmente, sem licença. Nunca ouvi falar de alguém que venda o serviço, mas sei que há agricultores que oferecerem dinheiro ou uma ovelha a cada tantos animais abatidos. E também há quem venda a carne dos javalis mortos (o que é ilegal)", explica. “E nada impede que o fazendeiro tenha sua espingarda e mate alguns animais."

Zanella já vê a necessidade de "caçadores profissionais" de javalis em Santa Catarina, para dar conta do problema. "No Brasil, ainda não ouvi falar nisso, mas na Europa há casos de javalis atacando pessoas até em cidades. Por isso, a caça é liberada até em centros urbanos."