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Rede quer abrir shopping na favela do Alemão, com cinema a R$ 5

Dhani Borges/Divulgação/Clube da fotografia
Imagem: Dhani Borges/Divulgação/Clube da fotografia

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

15/02/2013 12h13

A rede mineira de shoppings populares Uai planeja construir no Complexo do Alemão, conjunto de favelas da zona norte do Rio de Janeiro, pacificado há pouco mais de dois anos, o primeiro shopping localizado dentro de uma comunidade atendida pelo programa das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).

O diretor da empresa, Elias Tergilene, afirmou ao UOL que há expectativa de concretizar o projeto, cujo orçamento girará em torno de R$ 20 milhões, até o fim deste ano. A construção deve durar seis meses.

De acordo com Tergilene, o empreendimento terá uma linha popular de salas de cinema com ingressos a R$ 5.

"Acreditamos que, nos próximos 60 dias, todo o cenário instrumental e jurídico já estará pronto. O vice-governador Luiz Fernando Pezão está sendo um grande parceiro. Na semana que vem, teremos uma reunião com o prefeito Eduardo Paes. Queremos o apoio de todos os órgãos públicos, incluindo o Ministério Público, para que todo o processo ocorra de forma legal e transparente", disse ele.

Para finalizar o pré-projeto, Tergilene aguarda a concessão de um terreno de uma antiga fábrica desativada e a definição de outras questões burocráticas junto aos governos estadual e municipal.

"Até dezembro, papai Noel tem que descer de helicóptero no Alemão. Antes, era policial que descia de fuzil. Em breve será papai Noel descendo com presentes comprados no shopping", afirma.

Haverá diferenças físicas entre o shopping convencional e o projetado especificamente para as favelas.

"São lojas menores, de 15 a 25 metros quadrados, enquanto o do asfalto tem de 40 a 60 metros quadrados. Isso falando das lojas satélite. Já as âncoras [grandes lojas] operam com áreas de até mil metros quadrados. No shopping favela, basta a metade disso", declara Tergilene.

Ideia de shopping surgiu após visita a favela

A ideia de erguer um shopping no Complexo do Alemão surgiu de um convite feito pelo ex-secretário-geral da Cufa (Central Única das Favelas), Celso Athayde, para que o empresário mineiro conhecesse as favelas cariocas.

"Essa parceria é simbólica. Estamos tentando juntar favela, iniciativa privada e governo do Estado no sentido de simbolizar o sucesso da pacificação. Está na hora de levar um grande equipamento de varejo com as marcas que antes só se encontrava no shopping do asfalto. Dessa forma, vamos quebrar o preconceito e gerar renda para a favela", declarou.

Para Tergilene, "a pacificação foi muito boa por um lado, mas acabou fazendo com que a renda da favela despencasse". O empresário argumenta que a matriz econômica das comunidades era sustentada pelo tráfico de drogas e outros eventos que já não ocorrem com tanta frequência em áreas com UPPs, a exemplo dos bailes funk.

"O desafio agora é fazer a favela começar a ganhar dinheiro", destacou.

Athayde, que atua em defesa das comunidades cariocas há mais de 20 anos, tornou-se o principal parceiro do proprietário da Uai na nova empreitada.

60% das lojas serão de empreendedores da favela

Em parceria, eles definiram as primeiras diretrizes do projeto: 60% das 500 lojas previstas para o novo shopping do Alemão serão ocupadas por empreendedores das comunidades da região.

"Além disso, 100% da mão de obra sairá das favelas do Complexo do Alemão, o que é uma característica do equipamento não convencional de varejo. (...) Essa iniciativa vai gerar mais de 6.000 empregos diretos no Complexo do Alemão. Todo o trabalho de manutenção, segurança, limpeza, enfim, tudo será feito pelos próprios moradores", afirmou Tergilene.

"Segundo o Censo 2010, o Complexo do Alemão tem de 160 mil a 200 mil pessoas vivendo naquelas favelas. Ali não tem ninguém pelado, descalço ou passando fome. Lógico que vamos os produtos vendidos nas lojas ao poder aquisitivo das pessoas. Às vezes a pessoa não tem dinheiro para pagar uma BMW, mas tem para entrar num consórcio de uma moto. Então, em vez de vender BMW, vamos vender consórcio de moto", exemplificou.

De acordo com o diretor da Uai, se o shopping no Complexo do Alemão render frutos, existe a possibilidade de implementar o mesmo projeto em outras quatro favelas cariocas.

As características dessas comunidades já estão sendo estudadas pela rede mineira e pela recém-criada Fapa (Favela Participações), a primeiro holding de favelas no país, administrada por Celso Athayde -os lucros com o novo shopping serão divididos entre Fapa e Uai, com 50% para cada.

Tergilene não revela os locais com o intuito de "evitar a especulação imobiliária", segundo o próprio, mas adianta que duas das quatro favelas não possuem UPPs.

O empresário afirma ainda que já há planos para levar o mesmo projeto a comunidades de São Paulo e de Belo Horizonte, sendo esta última a sede da Uai. "A favela é um mundo inexplorado."