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Região Norte sonha com negócio próprio, mas falta infraestrutura

Segundo pesquisa, 54,3% da população adulta do Norte sonha em ter o próprio negócio - lubasi/Wikimedia Commons
Segundo pesquisa, 54,3% da população adulta do Norte sonha em ter o próprio negócio Imagem: lubasi/Wikimedia Commons

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

26/02/2013 06h00

Conhecida pela diversidade natural, a região Norte do país começa a demonstrar seu potencial para os negócios. De acordo com dados da GEM 2012 (Global Entrepreuneurship Monitor), a região é a dona da maior taxa de empreendedorismo do país. Mas a falta de infraestrutura e a distância dos grandes centros comerciais ainda são barreiras para os empreendedores.

Segundo a pesquisa, 34,2% da população adulta do Norte está envolvida na criação ou na administração de um negócio. É a maior taxa do Brasil, cujo índice médio é de 30,2%. A região também é a que mais sonha com o negócio próprio: 54,3% dos habitantes entre 18 e 64 anos do Norte desejam empreender. A média nacional é de 43,5%.

Segundo o diretor-técnico do Sebrae Nacional, Carlos Alberto dos Santos, o aumento da renda da população local –e no Brasil como um todo– e a migração das classes D e E para a nova classe média fizeram aumentar a demanda na região, principalmente no comércio e na prestação de serviços.

Lojas de cosméticos, vestuário, acessórios pessoais, restaurantes e cabeleireiros foram as atividades que mais cresceram em 2012 na região. “As oportunidades, em geral, estão associadas à melhoria da renda do brasileiro e ao atendimento das necessidades básicas da população”, afirma.

O jovem empresário Diego Passoni, 28, enxergou essa oportunidade. Ele saiu de Florianópolis (SC) para abrir um restaurante em Palmas (TO). Segundo o empreendedor, o custo inicial reduzido para o negócio e a baixa concorrência na cidade foram cruciais para ele deixar as praias catarinenses.

Incentivos fiscais na chamada Zona Franca de Manaus e linhas de crédito do Banco da Amazônia ajudam na criação de negócios. 

No entanto, dados do próprio Sebrae apontam para um problema. O Norte possui a maior taxa de mortalidade de empresas do país. Na região, 34% das empresas fecham as portas antes de completar dois anos de vida. O índice nacional é de 27%. No Sudeste, onde a taxa de mortalidade é a menor do país, 23,6% dos negócios não completam o segundo ano no mercado.

Números da região Norte

  • 54,3%

    da população entre 18 e 64 anos sonha em ter o próprio negócio

  • 34,2%

    da população adulta está envolvida na criação ou na administração de um negócio

  • 34%

    das empresas fecham as portas antes de completar dois anos no mercado

GEM 2012 (Global Monitor Entrepreuneurship) e Sebrae Nacional

    “É preciso ampliar e aperfeiçoar a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas (Simples Nacional) nos municípios, assim como promover maior acesso dos empresários à infraestrutura física e de serviços”, declara o diretor-técnico do Sebrae.

    Falta de infraestrutura encarece logística das empresas

    O isolamento de algumas cidades da região Norte prejudica a logística das empresas. A distância em relação a grandes centros comerciais, como São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ), encarece o transporte de cargas, que seguem por estradas em mau estado de conservação. Algumas delas sequer têm asfalto.

    Para o professor doutor do departamento de economia e análises da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) José Alberto Machado, a falta de infraestrutura afugenta muitos clientes das empresas no Norte.

    “Cria-se uma incerteza de que o pedido será entregue na data combinada. Se o empresário não atende o cliente com preço e tempo adequados, há outros em outras regiões que o atendem”, diz.

    Sinergia entre instituições de apoio na região precisa ser maior

    Outra barreira para o empreendedorismo na região, segundo o professor da Ufam, é a pouca sinergia entre instituições de fomento, universidades e o próprio Sebrae.

    Para ele, as ações por parte desses órgãos até contribui para abertura de alguns negócios, mas falta um espaço onde seja possível juntar quem tem uma ideia com quem pode financiá-la.

    “Deveria haver uma fase em que a pessoa fosse convidada a fazer experimentos no comando de negócios sem grande preocupação, num primeiro momento, com o êxito. É uma cultura que deveria sair das universidades”, afirma.

    Empresas na Zona Franca pagam menos impostos

    Em meio às dificuldades, no entanto, há uma área bastante atrativa para empreendedores, principalmente da indústria: a Zona Franca de Manaus. Nos 10 mil quilômetros quadrados de área total, empresas de todos os portes e segmentos podem se instalar.

    A exceção é para empresas produtoras de armas, munições, perfumes, fumo, bebidas alcoólicas e automóveis de passeio, que não recebem incentivos fiscais.

    INCENTIVO

    A Zona Franca [de Manaus] é responsável por três quartos do PIB dos estados da Amazônia Ocidental. Sem ela, esta parte do país seria um grande vazio econômico

    José Alberto Machado, professor doutor do departamento de economia e análises da Ufam (Universidade Federal do Amazonas)

    Entre os benefícios concedidos para os empreendedores da Zona Franca de Manaus estão: redução de impostos de importação e de renda (IR) e isenção de IPI (Impostos sobre Produto Industrializado) e IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana).

    “A Zona Franca é responsável por três quartos do PIB (Produto Interno Bruto) dos estados da Amazônia Ocidental [Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima]. Sem ela, esta parte do país seria um grande vazio econômico”, afirma o professor.

    Banco tem linhas de crédito especiais para empreendedores

    Outro incentivo para a abertura de empresas vem do Banco da Amazônia. A instituição possui linhas créditos específicas com juros reduzidos para micro e pequenos negócios e empreendedores individuais.

    Segundo a coordenadora de planejamento e controle comercial da pessoa jurídica do Banco da Amazônia, Líbia Mauler, a maior parte dos empresários atendidos são donos de comércios ligados ao turismo e cultura, açougues, salões de cabeleireiros e mototaxistas.

    Mauler diz que ainda falta a eles conhecimento na parte gerencial do negócio, controle de estoque e finanças. Por isso, quem dominar o operacional e o gerencial já tem um diferencial no mercado.

    “Nossa região oferece muitas oportunidades de negócios. É um mercado com margem de expansão e pode absorver muitas novas empresas”, declara.