Ex-bancário cria franquia de crédito a partir de R$ 25 mil
Os quatro anos de experiência como funcionário de uma agência bancária de Umuarama (PR) abriram as portas para o empreendedor André Oliveira, 33, começar o próprio negócio. Em 2004, quando foi criada a figura do correspondente bancário, ele investiu R$ 15 mil para abrir a Credfácil, agência de empréstimos financeiros que futuramente se tornaria uma rede de franquias.
Depois de altos e baixos na sua empreitada – a empresa quase quebrou durante a crise financeira mundial de 2008 – o empresário cobra hoje, a partir de R$ 25 mil para quem deseja abrir uma loja da sua rede
A ideia de montar a rede começou ainda no banco, onde Oliveira trabalhou a maior parte do tempo no atendimento de clientes que buscavam empréstimos. O contato diário com os consumidores o fez perceber o potencial desse mercado e a falta de atenção dada ao público.
"Havia muitas filas e as agências bancárias não davam conta de atender à demanda. Percebi que se tivesse uma loja própria poderia vender muito mais", afirma.
Oliveira, então, pediu autorização para os bancos e começou a atuar como correspondente bancário. Para atuar nessa área é preciso ter CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) e efetuar um credenciamento no banco que deseja fazer a parceria.
No primeiro ano de atividade, a empresa faturou R$ 1 milhão. Em 2008, o empresário já possuía 25 lojas próprias da Credfácil em cidades do interior paranaense. O negócio estava em crescimento até que a crise econômica mundial no mesmo ano o atingiu em cheio.
Quando a crise estourou, os bancos brasileiros passaram a restringir créditos e financiamentos aos consumidores. Como Oliveira era um intermediador de empréstimos entre clientes e instituições financeiras, foi diretamente prejudicado e teve de fechar a maioria de suas lojas.
Das 25 unidades, o empreendedor ficou com apenas quatro. Demitiu cerca de 60 funcionários e amargou um prejuízo de R$ 100 mil. A demanda pelo serviço existia, mas ele estava refém dos bancos que não liberavam o dinheiro.
“Meu negócio é vender créditos. Como os bancos não aprovavam empréstimos, eu não vendia e, consequentemente, não recebia comissões”, afirma.
No entanto, o empreendedor fez a lição de casa. Enquanto o negócio estava em crescimento, parte do lucro era destinada a uma reserva de capital. Quando a crise chegou, Oliveira tinha dinheiro para manter a empresa por seis meses.
O recurso serviu para cobrir os custos operacionais até o mercado dar sinais de melhoria. “Se eu não tivesse essa reserva, certamente teria quebrado. Reduzi os gastos mês a mês, esperando o mercado reagir”, diz.
E foi o que ocorreu. Foram quase cinco meses até que os bancos voltassem a aprovar empréstimos, e o empreendedor voltasse a lucrar.
Para o consultor financeiro do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo) Ari Rosolem, a reserva de capital pode salvar a empresa em períodos de queda na receita. E não é preciso uma crise mundial para que o empreendedor tenha de fazer uso do dinheiro guardado.
Segundo Rosolem, é comum haver um período de dois meses todos os anos em que a demanda diminui por conta das festas de fim de ano. No caso da indústria, a baixa é entre dezembro e janeiro. No comércio, entre janeiro e fevereiro.
Por isso, é importante que empreendedores façam uma reserva de dinheiro de, pelo menos, dois meses para cobrir a temporada de baixa nas vendas.
Primeira tentativa de criar a franquia falhou
De acordo com Oliveira, após o período de restrição, houve um “boom” na procura por créditos bancários. Diante deste cenário, ele viu a possibilidade de expandir sua rede com mais rapidez no formato de franquias.
No entanto, o empresário não sabia como funcionava o sistema de franchising. Em vez de estudar o setor, contratou um advogado que não era especializado para elaborar contratos com os franqueados.
Foram vendidas, inicialmente, dez unidades com taxas de franquia no valor de R$ 4.000 cada. A falta de estruturação e suporte levou as novas lojas ao fracasso. Duas fecharam e as demais foram repassadas para outros franqueados.
“As lojas não vendiam. O que salvou o negócio desta vez foram as vendas das unidades próprias”, declara Oliveira.
Investimento para abrir uma unidade Credfácil
Valor | Porte da cidade |
A partir de R$ 25 mil | Até 20 mil habitantes, nos estados do PR, SP e SC |
A partir de R$ 69 mil | Menos de 100 mil habitantes |
A partir de R$ 79 mil | Acima de 100 mil habitantes |
A partir de R$ 110 mil | Capitais |
- Fonte: Credfácil
Para o diretor da consultoria em franchising Francap, André Friedheim, o contrato entre as partes é a última etapa da formatação de uma franquia. Antes dessa fase, vem o estudo de viabilidade para saber se é possivel franquear o negócio, se ele será lucrativo, estruturação e padronização dos procedimentos internos.
"O contrato de franquia precisa ter uma base. Uma consultoria especializada auxilia o franqueador a fazer o planejamento. Cobrar uma taxa de franquia de R$ 4.000, teoricamente, é pouco porque não cobre os custos de implantação de uma unidade", diz Friedheim.
O consultor afirma ainda que, após a assinatura do contrato, o franqueador não deve abandonar o franqueado. Além do treinamento, é importante acompanhar, se possível, pessoalmente os primeiros dias da nova operação. "É neste momento em que surgem as dúvidas."
Empresário investiu R$ 150 mil para expandir a rede
O empresário aprendeu a lição. Percebeu que para entrar no franchising, precisava padronizar a operação e estruturar o negócio.
Oliveira buscou uma consultoria especializada para formatar a rede e se associou à ABF (Associação Brasileira de Franchising). No total, investiu R$ 150 mil. Hoje, a Credfácil tem 80 unidades em todo o país e faturou, no ano passado, R$ 90 milhões.
“A maior lição que aprendi foi ter foco, avaliar o que está errado e corrigir. Às vezes, é preciso dar um passo para trás para poder seguir em frente”, afirma o empresário.
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