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Agência ameaça rebaixar nota de risco do Brasil por fraco crescimento

Do UOL, em São Paulo

07/06/2013 07h13

A agência de classificação de risco Standard & Poor's revisou nesta quinta-feira (6) a perspectiva do rating soberano do Brasil de "estável" para "negativa", citando o fraco crescimento econômico e a política fiscal expansionista, e indicou que pode rebaixar a nota do país.

Atualmente, a nota da S&P de longo prazo atribuída ao país é "BBB", um degrau acima do piso da faixa considerada grau de investimento.

"Podemos rebaixar o rating nos próximos dois anos se o contínuo lento crescimento econômico, os fracos fundamentos fiscais e externos, e alguma perda da credibilidade da política econômica por sinais ambíguos na política diminuírem a capacidade do Brasil de gerenciar um choque externo", disse a S&P.

A decisão da S&P ocorre dias após a divulgação de que a economia brasileira teve expansão de apenas 0,6% no primeiro trimestre sobre o período anterior, abaixo das expectativas e consolidando apostas de que o crescimento será menor do que 3% em 2013. A S&P projeta expansão de apenas 2,5% no PIB do Brasil em 2013.

O desempenho ruim da indústria e do consumo no primeiro trimestre mostraram que os esforços do governo da presidente Dilma Rousseff para estimular a atividade não surtiram o efeito esperado até o momento.

Para a S&P, atrasos na implementação de medidas para impulsionar o investimento privado, especialmente na área de infraestrutura, podem contribuir para baixa expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste e no próximo ano, elevando o risco de maior enfraquecimento fiscal e de aumento no custo da dívida pública.

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, afirmou à Reuters que o Brasil está no caminho do crescimento e que o governo continua a fazer um dos maiores superávits fiscais do mundo.

"Estamos numa rota de crescimento, de crescimento do investimento privado, e estamos também em retomada de maior confiança dos agentes econômicos", disse.

Segundo Holland, a relação entre dívida e Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil se mantém em queda e a perspectiva de crescimento médio do país está acima da média mundial.

Em seu relatório, a S&P afirmou que pode revisar a perspectiva para o rating do Brasil para "estável" caso iniciativas mais consistentes gerem maior confiança no setor privado e, portanto, maior crescimento.

O presidente da empresa de cosmésticos Natura, Alessandro Carlucci, afirmou que a decisão da S&P "é mais um sinal de que o Brasil está perdendo terreno e que tem um crescimento muito modesto em relação a outros países emergentes".

"Falta um projeto claro de futuro para o Brasil, com ações consistentes não só em economia, mas em educação, segurança e infraestrutura... São problemas complexos, mas que precisam ser tratados", disse o executivo a jornalistas, ao participar de evento em São Paulo.

Efeitos no mercado

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, acredita que a piora da perspectiva do rating do Brasil pela S&P deve levar o dólar a fortalecer-se frente ao real na sexta-feira, e pode elevar os rendimentos dos contratos de juros futuros, principalmente na ponta longa da curva.

"Agora, precisa ver como vai bater nos mercados amanhã, porque me parece que as agências de clasificação de risco estão chegando atrasadas para a festa", afirmou. "A suspeita de perda de qualidade do crédito brasileiro é razoável, mas não é algo novo".

Para ele, a decisão foi motivada principalmente pelo realinhamento das expectativas da agência diante da perspectiva da redução do estímulo monetário nos Estados Unidos e de seu possível impacto sobre a economia brasileira, mais do que por qualquer fator interno.

Agências de risco falharam na crise

As agências de classificação de risco, que dão notas para países, empresas e negócios, determinando sua suposta credibilidade financeira, foram muito criticadas por terem falhado na crise global de 2008/2009.

Elas deram boas notas para operações de vendas de hipotecas imobiliárias nos EUA que afundaram bancos e investidores e geraram a grande crise financeira.

O rating, ou classificação de risco, refere-se ao mecanismo de classificação da qualidade de crédito de uma empresa, um país, um título ou uma operação financeira.

Ele busca mensurar a probabilidade de calote de obrigações financeiras, ou seja, o não-pagamento, incluindo-se atrasos e ou falta efetiva do pagamento. O rating é um instrumento relevante para o mercado, uma vez que fornece aos potenciais credores uma opinião supostamente independente a respeito do risco de crédito do objeto analisado.

(Com Reuters)