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Veja se seu sócio o engana, assim como o vilão Félix, de 'Amor à Vida'

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

25/06/2013 06h00

Na novela “Amor à Vida” (TV Globo), o vilão Félix, interpretado pelo ator Mateus Solano, superfatura contratos com fornecedores e desvia dinheiro do hospital do próprio pai para uma conta particular. Casos como esse ocorrem também na vida real.

A ausência de controle financeiro e o excesso de confiança no sócio ou no administrador do negócio podem deixar o empresário vulnerável a golpes e fraudes, segundo Alfredo Marques, sócio-diretor da consultoria e auditoria BDO.

Para evitar esse tipo de transtorno, é importante ter um controle financeiro rígido e não deixar todos os dados sob responsabilidade de uma única pessoa, orienta o especialista.

O empresário M.S., que prefere não revelar seu nome, por exemplo, viu sua empresa do setor de serviços quase quebrar por causa de desvios praticados pelo sócio. A fraude fez com que a empresa não tivesse caixa para se manter num momento de crise.

Ele cuidava da parte operacional e o sócio da área administrativa. Com o tempo, M.S. percebeu que o padrão de vida do colega crescia e o dele não.

“No início, tínhamos reuniões mensais para apresentação de relatórios, mas, conforme a empresa crescia, as reuniões ficaram mais raras. Eu confiava muito nele, mas estranhei o aumento do poder aquisitivo dele”, conta.

M.S. conta que chegou a questionar o sócio, mas ele dizia que era por causa de bons investimentos que fazia. "Na época, a empresa apresentava resultados positivos e acabei deixando as preocupações para lá", diz.

Quando a crise financeira de 2009 afetou a empresa, M.S. passou a reparar nos controles financeiros e viu que a taxa de inadimplência era alta. Um encontro com um cliente supostamente devedor o fez descobrir a fraude do sócio.

Como evitar fraudes

  • 1

    Tenha controle

    Tudo deve ser registrado e acompanhado regularmente: controle de caixa, recebimentos, vendas, folha de pagamento etc.

  • 2

    Distribua informações

    Quanto mais informações controladas por pessoas diferentes, melhor. A medida cria uma barreira psicológica para quem pensa em fazer algo ilícito

  • 3

    Limite poder

    Não permita que apenas um dos sócios possa assinar em nome da empresa. Isso evita que ele faça transferências, empréstimos ou venda os ativos da companhia sem que o outro fique sabendo

  • 4

    Avalie o comportamento

    Preste atenção se alguém apresentar aumento repentino de poder aquisitivo. A pessoa também tende a ficar mais distante e arredia se estiver fazendo algo errado

  • 5

    Use tecnologia

    Ferramentas de tecnologia da informação ajudam a identificar fraudes e a conseguir provas por meio do rastreamento de computadores

    “Eu o cobrei e ele disse que havia pago. Confrontei meu sócio e, quando ele gaguejou, percebi que estava sendo enganado. Ele recebia dos clientes, mas não registrava.”

    A sociedade durou oito anos e M.S. acredita que os desvios foram feitos durante três anos. Ele refez toda a contabilidade da empresa, entrou com um processo contra o sócio, mas não tem esperança de reaver o valor perdido.

    “Ele não tinha cúmplices e eu não tenho testemunhas. Eu posso provar que o dinheiro não entrou no caixa da empresa, mas não tenho como provar que foi para ele”, declara.

    Após o golpe, M.S. vendeu a empresa e mudou de ramo. Seguiu para a área de alimentação.

    Controles internos são fundamentais

    Segundo Alfredo Marques, da BDO, a maioria dos problemas é relacionada a desvio de dinheiro, pagamento duplo de insumos e notas fiscais frias, com dados de empresas falsas.

    “Tudo deve ser registrado – controle de caixa, vendas, recebimentos, folha de pagamento e assim por diante. Quanto mais informações controladas por pessoas diferentes, melhor, pois, isso cria uma barreira psicológica para quem pensa em fazer algo ilícito.”

    Ele afirma que empresas familiares, como a da novela, correm ainda mais riscos, pois a gestão, geralmente, é baseada na confiança entre os membros da família e há uma tendência a relaxar com os sistemas de controle.

    Porém, a tecnologia pode ajudar a identificar fraudes e a conseguir provas, caso alguma ação ilícita seja descoberta.

    “Não há crime perfeito. Existem ferramentas de tecnologia da informação que permitem rastrear computadores, e-mails enviados, lançamentos, arquivos apagados e criptografados que são os protegidos por códigos e que apenas pessoas autorizadas podem ver”, afirma.

    Marques diz, ainda, que o comportamento também pode dar pistas em caso de desvio de conduta.

    “Os sócios, geralmente, conhecem a remuneração um do outro. Se alguém apresentar aumento repentino do poder aquisitivo, pode ser um indicativo. Além disso, se estiver fazendo algo errado, a pessoa tende a ficar mais distante e arredia.”

    Contrato social e acordo de cotistas protegem sócios

    O advogado especializado em direito societário Samuel Gaudêncio, do escritório Gaudêncio McNaughton & Toledo Advogados, diz que é importante restringir o poder dos sócios e nunca deixar que apenas um deles possa assinar em nome da empresa.

    “Isso evita que um sócio faça transferências, empréstimos ou venda os ativos da empresa, por exemplo, sem que o outro fique sabendo. Isso vale também para funcionários.”

    De acordo com Gaudêncio, o contrato social e o acordo de cotistas definem as atribuições de cada sócio e como serão tomadas as decisões. “São documentos que dão respaldo jurídico aos sócios em caso de conflito”.

    Se desconfiar que algo errado está acontecendo, é necessário reunir provas. Um perito pode ajudar a auditar as finanças da empresa. Se alguma irregularidade for comprovada, o passo seguinte é procurar um advogado especializado em direito societário e pedir uma liminar para afastar o sócio desonesto do dia a dia da operação.

    No entanto, a saída definitiva de um sócio da empresa só pode ser efetuada se isso estiver previsto no contrato social ou no acordo de cotistas. Caso contrário, mesmo se for comprovada alguma irregularidade por parte de um deles, ele continua tendo direito a sua parte da empresa.