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Vespas combatem lagarta invasora que come milho, feijão e tomate

A helicoperva ataca as folhas das plantas, vagens, grãos e frutos  - Mick Tsikas/Reuters
A helicoperva ataca as folhas das plantas, vagens, grãos e frutos Imagem: Mick Tsikas/Reuters

Priscila Tieppo

Do UOL, em São Paulo

11/07/2013 06h00

Uma lagarta desconhecida pelos agricultores brasileiros atacou diferentes plantios na última safra (2012/2013) em diversas regiões do país. Por enquanto, o prejuízo mais sério causado pela Helicoverpa armigera foi de R$ 1 bilhão nas plantações de algodão do oeste da Bahia, segundo avaliação de associações de produtores do Estado.

“Ela não tem cardápio preferido. Come soja, algodão, sorgo e milheto [cereais mais utilizados para a ração animal] milho, feijão e tomate”, afirmou Nery Ribas, diretor da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso).  A entidade ainda calcula os prejuízos provocados no cultivo da soja no Estado.

Por enquanto, essa praga agressiva que ataca as folhas das plantas, vagens, grãos e frutos não possui controle específico. Mas os produtores rurais têm recorrido a uma vespa de 0,25 mm de comprimento (do gênero Trichogramma spp)  para combatê-las. “Lidamos com um inimigo que não conhecemos”, diz Ribas.

Ainda não se sabe como a Helicoverpa armigera surgiu no país, mas essa lagarta já é bastante conhecida na Europa, Índia e Austrália, segundo agrônomos. Pode ter sido trazida por meio de mudas ou imigrado naturalmente.

No Brasil, estima-se que ela tenha causado danos significativos para produtores rurais de dez Estados (MT, MS, MG, BA, PA,GO, PR, SP, MA, PI) nas duas últimas safras.

Empresa paulista utilizou vespas em 1,5 milhão de hectares

Por conta dessa lagarta que tira o sono dos agricultores, a Bug Agentes Biológicos, empresa localizada em Piracicaba (SP) e que desenvolve insetos para controle de pragas, viu sua produção de vespas minúsculas (Trichogramma spp) aumentar em 30% para atender produtores rurais de diferentes regiões. A capacidade diária de produção é de 133 milhões destes insetos.

  • Divulgação

    Vespa impede que lagartas nasçam no plantio

“Isso aconteceu bem na época, entre março e abril, que seria um período de baixa procura”, informa Diogo Rodrigues Carvalho, engenheiro agrônomo e diretor da empresa.

As vespas criadas pela Bug combatem lagartas em plantações de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar e são despachadas para todo o Brasil. O diretor calcula que já tenha encaminhado insetos para 1,5 milhão de hectares em três anos. Para cada hectare, são necessários em torno de 100 mil vespas. O preço delas é de  R$ 30 por hectare.

Por meio das vespas, a Bug foi classificada como a 33ª empresa mais inovadora do mundo e a primeira do Brasil, no ano passado. O prêmio dado pela revista norte-americana Fast Company proporcionou reconhecimento ao grupo e aumento da procura dos produtores agrícolas pelos insetos. O outro inseto produzido pela empresa é a Cotesia flavipes, que serve no controle da broca da cana-de-açúcar.

A multiplicação das vespas

As vespas do gênero Trichogramma spp são multiplicadas em laboratório por meio de ovos de traças presentes em grãos. Para a viagem, elas vão em forma de pupa (estágio intermediário entre as fases de larva e adulta), acomodadas em cápsulas dentro de cartelas. "Os insetos são enviados para o cliente dois dias antes do nascimento", explica Diogo Rodrigues Carvalho, diretor da Bug Agentes Biológicos.

Quando soltas, elas impedem o nascimento das lagartas destruidoras de plantação e dão origem aos novos descendentes que vão somar esforços na atuação contra as pragas.

“A mariposa coloca o ovo na plantação, a vespa encontra esse ovo e deposita o seu dentro dele. Assim, nascerá uma   vespa em vez de outra lagarta”, explica Carvalho.

Segundo o diretor, não há o risco de danos nos campos e nem de superpopulação das vespas porque elas parasitam somente os ovos de borboletas e mariposas. À medida que eles são eliminados, a população de vespas também diminui. Além disso, Carvalho explica que os insetos são soltos nas lavouras em uma quantidade suficiente para controlar a praga. "Quando a colheita é realizada, as vespas acabam sendo retiradas com a plantação", diz.

Controle biológico está no sentido contrário dos pesticidas

A estratégia de combater pragas com insetos, o chamado controle biológico, não é nova.

O MIP (Manejo Integrado de Pragas) foi criado pela ciência na década de 40 como alternativa para diminuir o uso de pesticidas nas plantações.

E este é o objetivo da inserção de insetos predadores de pragas.  “Com isso, garantimos que não criaremos lagartas resistentes a pesticidas por conta de sua aplicação contínua e a mutação do inseto”, disse Diogo Rodrigues Carvalho, da Bug.

Mas para atingir diversas pragas que atacam diferentes culturas, a empresa se prepara para desenvolver outros insetos capazes de fazer este controle biológico. A próxima deve ser uma vespinha prevista para a safra 2014/2015 que atue no percevejo da soja, causador de prejuízos aos plantios da oleaginosa.