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Falta de leite de búfala causa fraudes no mercado de mozarela

 Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Imagem: Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem

André Cabette Fabio

do UOL, em São Paulo

12/07/2013 06h00

Todos os anos, Lucas Paro Moralles lida com a mesma dificuldade no laticínio Levitare, em Sete Barras (SP). O zootecnista não encontra leite de búfala suficiente no mercado para abastecer a empresa que produz cerca de 40 toneladas de mozarela de búfala por mês enviadas para supermercados e restaurantes de São Paulo.

A Associação Brasileira dos Criadores de Búfalo (ABCB) confirma a queixa de Moralles. A procura por derivados de leite (mozarela, ricota, queijo, requeijão, manteiga etc) aumenta 25% por ano e está muito longe de ser atendida.

Embora a produção anual do país seja de 92,3milhões de litros, a escassez desse leite de sabor adocicado tem provocado fraudes no mercado. "Se mistura leite bovino ao de búfala", informa Pietro Baruselli, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP).

A falta de matéria-prima faz com que o laticínio, considerado um dos mais importantes do país nessa área,  enfrente a equação de ver os pedidos aumentarem em torno de 30% ao ano.

Para a ABCB, o animal que chegou ao país no século 19 para servir como tração nas lavouras não passou pelos mesmos investimentos que a pecuária fez com os bovinos em melhoramento genético e produtividade.

O leite de búfala pode valer o dobro para o produtor (R$ 1,80 o litro) em comparação ao de vaca. Porém, uma fêmea produz até oito litros por dia enquanto uma vaca selecionada atinge 40 litros diários.

Para Otávio Bernardes, secretário da Federação Americana de Criadores de Búfalo, o potencial da criação fica difícil de ser reconhecido se o próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deixou de contar a população desses animais que oscila entre 2 milhões e 3 milhões de cabeças.

Sudeste produz leite e derivados, e Sul, carne de búfalo

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Segundo  Bernardes, outra dificuldade está na própria geografia: 50% desses animais estão no Norte do país, em especial no Pará, cuja exploração tem caráter extrativista. “Mas foi no Sudeste que se estabeleceu a cadeia produtiva de leite e derivados, enquanto no Sul cresceu a de carne”, diz.

Bernardes é criador de búfalos desde 1974, vocação herdada do pai. Eles iniciaram a criação no Vale do Ribeira – que mantém 1/3 das 100 mil cabeças do Estado de São Paulo – mudaram para Itapetininga (SP para ficar mais perto de boas estradas e dos consumidores. Acabaram incentivando a criação por lá e formaram uma importante microrregião na atividade com 250 criadores de búfalo.

Assim como os laticínios sentem falta de matéria-prima (no Brasil existem 150 deles com capacidade para 10 mil litros diários) a Cooperativa Sulriograndense de Bubalinocultores (Cooperbufalo), de Pelotas (RS), venderia o dobro da produção de 1,2 mil toneladas de carne, por ano, se tivesse condições de atender à clientela.

Para o presidente Julio Keltzer existe consumidor interessado pela carne, que é macia e tem menor teor de gordura do que a bovina. O preço varia de R$ 25 a R$ 50 por quilo.

Porém, o país não tem sequer certeza da sua produção. Os últimos dados do IBGE são de 1995 e registraram uma produção anual de 155 mil toneladas.