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Tapioca colorida com frutas e verduras vira merenda escolar na Bahia

Priscila Tieppo

Do UOL, em São Paulo (SP)

27/08/2013 06h00

A iniciativa de Joselito Motta, de Cruz das Almas (BA), transformou a aparência e as qualidades de um alimento muito tradicional no Norte e Nordeste do país, a tapioca. Há alguns anos, ele, que é pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), se perguntou se não seria possível conferir mais cor e nutrientes a essa iguaria feita à base de farinha de mandioca (polvilho) e água.

A fórmula desenvolvida por Motta -- que utiliza polpa de frutas como açaí e goiaba e extrato de plantas como espinafre e cebola -- não apenas se mostrou viável como hoje faz parte da merenda dos cerca de 9.000 alunos da rede de ensino municipal da cidade baiana.

A tapioca também é conhecida como beiju, e os dois nomes servem tanto para denominar o polvilho de mandioca quanto o prato feito com ele. Geralmente ela é preparada espalhando-se a mistura de farinha e água com uma pitada de sal numa chapa ou frigideira aquecida, e então recheada com queijo coalho ou outros ingredientes.

Também pode ser preparada de forma a ficar um pouco mais firme e seca, para ser consumida sem o recheio, como é o caso das tapiocas servidas na merenda em Cruz das Almas.

Receita torna tapioca mais atraente às crianças e aumenta nível de nutrientes

A ideia de Joselito Motta nasceu em 2006, quando encontrou numa feira em Salvador tapiocas tingidas com anilina, que não tem propriedades nutricionais. Ele logo começou a fazer testes usando beterrabas para deixar os beijus avermelhados, tornando-os assim mais atraentes para as crianças e também mais nutritivos.

Depois vieram novos ingredientes, como açaí, espinafre, manga, abacaxi, cebola, maracujá e goiaba.

Motta iniciou então a divulgação do novo produto e começou a ensinar a técnica de preparo na cidade. Foi o caso de José Carlos Mendonça, produtor local que passou a fazer os primeiros beijus coloridos já em 2006. “Eu vendia só o tradicional, mas a gente precisa sempre inovar. Os sabores que mais vendem hoje são de açaí e espinafre”, afirma.

A inovação na produção fez com que sua renda aumentasse. Ele vende as tapiocas para as escolas públicas, e também diretamente ao público e em feiras. Mendonça calcula que o lucro mensal cresceu 50% depois que começou a fazer o beiju colorido.

“No começo, vendia em média 100 pacotes por semana. Agora, são 2.000 pacotes semanais”, diz. Cada pacote tem 250 gramas e é e vendido ao público por R$ 2,50.

Para suprir a demanda do mercado consumidor, o produtor usa 500 kg de mandioca por semana, sendo que metade é comprada de outro fornecedor, pois sua produção é pequena.

“A aceitação deste beiju é boa na região. É bom valorizar os produtos que são feitos com a mandioca, tão usada por aqui”, afirma.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil produziu, em 2011, 25 milhões de toneladas de mandioca, o que representa 15% de toda a produção mundial.

Desse volume, cerca de oito milhões são plantadas no Nordeste. Segundo a Embrapa, os principais Estados consumidores são Pará, Amazonas, Amapá e Bahia.

Beiju enriquecido tem cor, sabor e nutrientes, diz nutricionista

Apesar de não haver uma análise dos nutrientes que uma tapioca colorida possui, a nutricionista Andréa dos Santos de Souza, da prefeitura de Cruz das Almas, diz que a cor e o sabor chamam bastante a atenção das crianças e que é sabido que a adição de frutas e verduras enriquece o alimento.

"Pode ser que não tenha 100% das vitaminas da fruta ou verdura adicionada, mas uma porcentagem dos nutrientes, com certeza, ficará no produto", diz.

Renata Padovani, nutricionista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ressalta os valores nutricionais da mandioca, que possui alto valor calórico, é fonte de carboidratos e potássio.

"Se consumida em excesso, tende a contribuir para o aumento de peso. Em uma dieta de 2.000 calorias, o consumo adequado é seis colheres de sopa de mandioca cozida. Para 1.800, o ideal são quatro colheres", recomenda.

Mandioca pode se transformar no cultivo do século 21, diz FAO

Estudos feitos pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) mostraram que a mandioca é um tubérculo com "grande potencial" e pode se transformar no principal cultivo do século 21, se for realizado um modelo de agricultura sustentável que satisfaça o aumento da demanda.

De acordo com a organização, a produção mundial da mandioca aumentou em 60% desde 2000 e se acelerará ainda mais na década atual.

Uma das razões que fomentam a demanda de mandioca é o elevado preço dos cereais, o que transforma o tubérculo em uma alternativa atraente ao trigo e ao milho.

Para Motta, é perfeitamente possível substituir a farinha de trigo pela de mandioca. “Um dia o mundo vai conhecer a mandioca como um grande alimento”, diz o pesquisador, que já subiu até na Torre Eiffel para fazer uma tapioca colorida e chamar atenção para as qualidades da mandioca. “Realizei um sonho de mandioqueiro”, diz.