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Empresas de fast food defendem comida saudável, mas especialistas criticam

Aiana Freitas

Do UOL, em São Paulo

09/10/2013 06h00

A rede de lanchonetes McDonald's incluiu, num kit destinado às crianças, pedaços de maçã para a sobremesa. Comerciais da Coca-Cola ensinam o consumidor a queimar as calorias contidas no refrigerante. A Unilever quer cortar, da maionese Hellmann's e dos sorvetes Kibon, uma grande quantidade de açúcar e sódio.

Com iniciativas assim, gigantes do setor de alimentos e bebidas entraram na luta contra a obesidade, problema que já atinge metade da população brasileira, segundo dados do Ministério da Saúde.

Essas empresas têm feito grandes campanhas de marketing sobre alimentação saudável e usado a mesma justificativa para suas iniciativas.

Elas afirmam que não se sentem culpadas pela obesidade, que seria causada muito mais pelo estilo de vida sedentário da população do que por alimentos e bebidas. Mas, como líderes de mercado, afirmam que têm a obrigação de tomar a frente de campanhas que possam ajudar a solucionar o problema.

Especialistas em direitos do consumidor e nutrição não tiram o mérito das iniciativas, mas fazem ressalvas e dizem que elas têm muito mais de marketing do que de benefícios reais.

"Isso nada mais é do que marketing nutricional e alimentar. A indústria tem ido pelo caminho de dar um banho de saudabilidade nos seus produtos e na sua marca. Ao fazerem esse exercício e discutirem esse tema, elas tentam evitar ser responsabilizadas pelo problema da obesidade", afirma a coordenadora do programa Alimentação e Nutrição nas Diferentes Mídias - PropagaNUT, Renata Monteiro.

As empresas, no entanto, dizem que suas ações têm resultados efetivos e não são só propaganda.

Evitando o aperto da legislação

Para o Carlos Thadeu de Oliveira, gerente técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), as ações têm um lado positivo, mas escondem outra intenção.

Para ele, ao tomar esse tipo de medida voluntariamente, as empresas também tentam evitar que leis mais rígidas restrinjam sua atuação em pontos de venda e na publicidade, como aconteceu com o cigarro e as bebidas alcoólicas.

"Ainda assim, não deixa de ser positiva qualquer atitude das empresas nessa direção, apesar de isso estar acontecendo com bastante atraso no Brasil", diz.

O que é um produto saudável?

Para os especialistas, muitas mudanças ainda serão feitas pelas empresas daqui para a frente. "Elas perceberam que mão dá mais para esconder o problema da obesidade embaixo do tapete. Nenhuma empresa quer ficar fora do debate, porque ninguém quer ver sua imagem manchada", diz.

Oliveira afirma, no entanto, que o assunto ainda precisa ser tratado com moderação. Ele diz que a própria definição de produto saudável ainda precisa ser aperfeiçoada. Para ele, cabe também, ao consumidor, fazer sua parte.

"O consumidor tem um papel importante na redução do consumo desses alimentos, mas é preciso que haja informação na embalagem e no rótulo dos produtos", afirma.