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Qual a relação entre banheiros e bancos? Pergunte a um banqueiro indiano

Indiana em frente a um banheiro recém-inaugurado por uma ONG internacional - Prakash Singh/AFP
Indiana em frente a um banheiro recém-inaugurado por uma ONG internacional Imagem: Prakash Singh/AFP

Anto Antony

Da Bloomberg

01/10/2014 11h32

1º de outubro (Bloomberg) -- O plano do primeiro-ministro Narendra Modi para o desenvolvimento da Índia inclui criar acesso a banheiros para a totalidade da população de 1,2 bilhão de habitantes e abrir uma conta bancária para cada adulto que ainda não possui uma.

Os bancos estatais da Índia estão sendo convocados a fazer as duas coisas, o que ameaça prejudicar os lucros e somar despesas a empresas já sobrecarregadas por empréstimos não pagos.

Modi pediu que os bancos abrissem agências a cada 5 quilômetros em todos os 664 mil vilarejos da Índia para chegarem a 75 milhões de famílias que não têm acesso a serviços financeiros formais.

Depois que ele anunciou, em 15 de agosto, uma missão para construir banheiros em escolas públicas, o Ministério das Finanças enviou um memorando aos bancos estatais instando-os a pagar a construção, segundo um executivo sênior do setor que viu o documento e não quis ser identificado porque a comunicação não era pública.

R$ 29,5 milhões para banheiros e 50 milhões de novos correntistas

Os bancos comprometeram 740 milhões de rúpias (cerca de R$ 29,5 milhões) para os esforços de construção de banheiros, usando fundos para projetos de responsabilidade social corporativa com redução de impostos, segundo G.S. Sandhu, secretário de bancos do Ministério das Finanças da Índia.

Eles também registraram 50 milhões de novos correntistas e coletaram 35 bilhões de rúpias em depósitos usando quiosques temporários em vilarejos e recrutando donos de lojas rurais como representantes, disse ele.

“A missão de inclusão financeira anunciada será um obstáculo para a lucratividade dos bancos controlados pelo governo a curto e médio prazo”, disse Vibha Batra, chefe de ratings do setor financeiro da ICRA em Nova Déli, a unidade local da Moody’s Investors Service, em uma entrevista.

“A capacidade dos bancos de recuperar os custos desses clientes marginais por meio de iniciativas baseadas em tarifas e depósitos de baixo custo em poupança ainda precisa ser comprovada”.

Missão compromete lucro dos bancos públicos

O custo para entregar serviços a clientes marginais, definidos como aqueles que não têm acesso ao setor bancário, é de 10 a 12 vezes a receita potencial, segundo um relatório de 2011 da Boston Consulting Group.

A lucratividade medida pelo retorno sobre ativos dos 26 bancos estatais da Índia pode cair além do nível mais baixo em pelo menos 12 anos quando eles trouxerem famílias sem contas bancárias para o sistema, segundo a Moody’s, que não forneceu uma estimativa.

Raghuram Rajan, presidente do Banco da Reserva da Índia, chamou a atenção para o assunto em um discurso no dia 15 de setembro em Mumbai.

“Os bancos do setor público estão aí para realizar ações sociais quando necessário, mas essas ordens deveriam ser sustentadas por ganhos financeiros”, disse ele. “Afinal, os bancos do setor público também têm acionistas privados e já não são uma extensão do governo. Eles deveriam ser vistos como entidades independentes”.

O IDBI Bank, com sede em Mumbai, e o Indian Overseas Bank, em Chennai, anunciaram planos para construir instalações para meninos e meninas em 359 escolas perto de suas agências. O IDBI disse que investiria 90 milhões de rúpias e o IOB não revelou seu orçamento.

Falta de banheiros custa 600 mil vidas por ano e expõe mulheres ao risco de estupro

D.S. Malik, porta-voz do Ministério das Finanças, preferiu não comentar a respeito do memorando que pede a participação dos bancos no programa de construção de banheiros, desenvolvido para combater um problema sanitário que custa à Índia cerca de 600 mil vidas por ano devido à diarreia e expõe um terço das mulheres ao risco de estupro ou agressão sexual.

Cerca de metade dos vilarejos da Índia tem acesso a serviços bancários, segundo estimativas do Banco Central. A estimativa é que 65% dos indianos adultos não possuem contas bancárias, mostraram dados do Banco Mundial de 2011.

“A longo prazo, esse esforço de inclusão financeira ajudará os bancos a aumentar uma base estável de depósitos de baixo custo”, disse Vishal Narnolia, analista em Mumbai da SMC Global Securities. “Mas durante pelo menos alguns anos, o custo para manter as contas da população rural pobre será muito maior que a receita potencial”.