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Conheça o banco brasileiro que cresce pelo mundo com banana e prédio-pepino

Mariana Bomfim

Do UOL, em São Paulo

12/12/2014 06h00

Em apenas duas semanas, o banco brasileiro Safra fez duas importantes compras de impacto mundial. 

A mais recente foi um ícone da paisagem de Londres, na Inglaterra, o edifício Gherkin (pepino, em inglês), o segundo mais alto da cidade, com 180 metros. Desde o início de novembro, o símbolo arquitetônico pertence ao Grupo Safra.

O valor da compra não foi divulgado, mas o jornal britânico “Financial Times” diz que o Safra pagou 726 milhões de libras (R$ 3 bilhões) pelo prédio de 50 mil metros quadrados, cujos principais inquilinos são a companhia de seguros Swiss Re e o escritório de advocacia Kirlkand & Ellis.

A compra do Gherkin (oficialmente 30 St Mary Axe) foi a segunda incursão do Grupo Safra, tradicional no ramo bancário de "private banking" (gestão de fortunas), em outros segmentos da economia num intervalo de apenas duas semanas.

No final de outubro, o grupo comprou, junto com a produtora brasileira de suco de laranja Cutrale, a norte-americana Chiquita, maior empresa de bananas do mundo. O Safra e a Cutrale tentavam adquirir a Chiquita desde agosto e fecharam a transação com um acordo avaliado em US$ 1,3 bilhão (R$ 3,4 bilhões).

Com negócios na América do Norte, América do Sul, Europa, Oriente Médio e Ásia, o Grupo Safra administra mais de US$ 200 bilhões (R$ 530 bilhões). No Brasil, o banco Safra é o oitavo maior, com patrimônio de US$ 3,3 bilhões (R$ 8,7 bilhões).

Família Safra abriu seu primeiro banco no século 19

Para uma família que atua no setor bancário desde o século 19, a diversificação dos investimentos é uma mudança importante. Os Safra são judeus originários de Alepo, centro financeiro da Síria. O banco da família, o Safra Frères & Cie, tinha filiais em Istambul (Turquia), Alexandria (Egito) e Beirute (Líbano) e financiava o comércio nos territórios do Império Otomano.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial e o desmembramento do império, a família se mudou para Beirute e abriu o Banco Jacob Safra. Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e da criação do Estado de Israel (1948), surgiram revoltas contra judeus em cidades do Oriente Médio, incluindo Beirute e, para se afastar da pressão, os Safra se mudaram novamente.

Em 1955, Jacob Safra e seus filhos chegaram a São Paulo e continuaram trabalhando com o que mais entendem: bancos. O filho mais velho, Edmond, foi para Genebra, na Suíça, no ano seguinte para fazer fortuna sozinho.

Primogênito morreu em incêndio criminoso

Considerado um empresário brilhante, Edmond esticou os braços dos negócios Safra aos Estados Unidos e à Europa e se tornou um banqueiro influente, com fortuna estimada, em 1998, em US$ 2,5 bilhões (R$ 6,6 bilhões).

Um dos seus bancos, o Republic National Bank of New York (hoje HSBC Private Bank), era referência no mercado internacional de ouro na década de 80. O banco foi vendido no início de 1999 e a transação, na época, foi atribuída à piora do estado de saúde de Edmond, que sofria de mal de Parkinson.

O banqueiro morreu em dezembro do mesmo ano, aos 67, em Mônaco. Seu corpo foi encontrado asfixiado em um dos banheiros da sua mansão após um incêndio destruir o local. Um dos seus enfermeiros, o americano Ted Maher, confessou ter posto fogo na casa com a intenção de aparecer como herói: ele "salvaria" o patrão e seria recompensado pelo ato.

O caso teve grande repercussão na época porque Edmond era obcecado com sua segurança pessoal e, além de instalar todo tipo de equipamento de vigilância em casa, contratava veteranos do Mossad, o serviço secreto israelense, como guardas-costas.

Como na noite do incêndio não havia seguranças no local, surgiram teorias dizendo que o crime teria sido cometido pela máfia russa. A versão faz referência à colaboração do banqueiro em uma investigação do FBI, a polícia federal norte-americana, sobre esquemas de lavagem de dinheiro da máfia.

Empresário prepara transição do comando do grupo

Com a morte de Edmond, seus irmãos Moise e Joseph, que já cuidavam dos negócios da família no Brasil, assumiram a dianteira do grupo. Moise, que também sofria de Parkinson, morreu em julho deste ano, aos 79.

O Grupo Safra, hoje, é comandado pelo irmão remanescente, Joseph, que, aos 75 anos, é o banqueiro mais rico do Brasil, com fortuna pessoal estimada em US$ 15,7 bilhões (R$ 42 bilhões), segundo a revista Forbes. Joseph está preparando a próxima geração da família para assumir os negócios.

Seu filho mais velho, Jacob, é responsável por todas as operações do grupo fora do país. Os outros dois filhos, David e Alberto, administram o Banco Safra, no Brasil.