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'Parei de levar meu filho ao cinema para pagar conta de luz'

Wanessa Motta cortou gastos com lazer para pagar conta mais cara - Junior Lago/UOL
Wanessa Motta cortou gastos com lazer para pagar conta mais cara Imagem: Junior Lago/UOL

Mariana Bomfim

Do UOL, em São Paulo

22/07/2015 06h00

A conta de luz da designer de festas Wanessa Motta, 34, saltou de R$ 92, em dezembro do ano passado, para R$ 164, em junho. Ao mesmo tempo em que houve esse aumento de 78% na cobrança, o consumo de energia da casa dela, na zona norte de São Paulo, praticamente não mudou.

Para conseguir pagar a conta, Motta precisou abrir mão de gastos com lazer. E quem saiu perdendo foi seu filho, Anthony, de 3 anos.

“Ele gosta de ir ao cinema e ao teatro, mas, nos últimos meses, eu tive que escolher entre pagar a conta de luz e levar meu filho para se divertir”, diz.

Motta, que trabalha em casa, mora com a mãe e a irmã, além do filho. Ela diz que todos já estavam adotando medidas para economizar energia mesmo antes de a conta ficar mais cara.

“Desliguei a impressora, parei de usar o laptop e tiro tudo da tomada quando não estou usando”, conta. “Mas, por mais que a gente economize, a conta não cai.”

Contas de luz de Wanessa Motta - Reprodução - Reprodução
Na casa de Wanessa, conta saltou 78% de dezembro de 2014 junho de 2015
Imagem: Reprodução

O que explica a conta maior para o mesmo consumo são os recentes aumentos na tarifa de energia elétrica e o sistema de bandeiras tarifárias, que repassa ao consumidor o custo mais alto com a geração de energia.

Desde janeiro, quando foi adotada a bandeira vermelha, o consumidor paga um acréscimo provisório de R$ 5,50 por cada 100 quilowatt-hora.

Com as altas, somente neste ano a conta ficou 42% mais cara, em média, no país todo. Na capital paulista e na região metropolitana de São Paulo, atendidas pela empresa AES Eletropaulo, a alta chega a 75%.

"Já estamos economizando o máximo que dá”

Com o aumento pesando no bolso, o consumidor está tendo dificuldade para pagar a conta.

 O professor de lutas Josemar dos Santos, 37, não sabe o que mais pode fazer para baixar a cobrança. Ele mora na zona sul da capital paulista, com a mulher e a filha, de 5 anos.

“Não fica ninguém em casa o dia todo. Minha mulher e eu saímos pra trabalhar e minha filha fica com a sogra”, diz. “Já estamos economizando o máximo que dá.”

Mesmo assim, ele conta que passou a pagar mais de R$ 100 pela energia por mês. No final do ano passado, gastava em torno de R$ 50.

Com a energia mais cara, monitorar o consumo se tornou quase uma obsessão.

“Virei a chata das luzes”, diz a veterinária Chrissie Prado Junqueira de Faria, 26. “Já uso a lâmpada fluorescente, que gasta pouco, e evito acender e apagar a luz toda hora.”

A veterinária, que mora com a mãe em um apartamento na zona oeste de São Paulo, paga cerca de R$ 150 na conta de luz. Em dezembro, gastava aproximadamente R$ 100.

Alta de calote na conta de luz triplica entre janeiro e junho

Mesmo economizando energia e cortando outros gastos do orçamento, muitos consumidores não estão conseguindo pagar a conta de luz.

A situação é ainda pior quando se considera que a tarifa subiu ao mesmo tempo em que o desemprego cresceu e a inflação no país avançou, corroendo os salários.

Em junho, houve um  aumento de 17,35%  nos calotes dados por consumidores nas empresas de energia, comparando com o mesmo mês do ano passado, segundo cálculos do SPC Brasil e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas. Em janeiro, os calotes subiram um terço disso, apenas 6%.

As dívidas por conta da fatura de energia elétrica já representam 6,47% das dívidas dos brasileiros, maior valor desde 2010, quando o SPC Brasil passou a acompanhar os dados.

Algumas empresas passaram até a oferecer como opção de pagamento o parcelamento no cartão de crédito, para tentar receber as dívidas. 

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