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Juros passam renda do povo ao setor financeiro, diz ex-secretário de FHC

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Do UOL, em São Paulo

09/09/2015 16h29Atualizada em 09/09/2015 18h33

Manter os juros altos no Brasil é "um escândalo" e tem eficácia "absolutamente questionável", na opinião do economista e empresário Roberto Giannetti da Fonseca.

Ele é ex-secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex) no governo de Fernando Henrique Cardoso e ex-diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Também é irmão de Eduardo Giannetti da Fonseca, conselheiro econômico de Marina Silva. 

"Eu não vejo como a diferença de um juro de 10% ou 14% vai influenciar uma inflação que é feita por preços administrados e não por excesso de demanda. A demanda sumiu. E nós ainda estamos aumentando os juros para quê? Transferir renda do setor produtivo, do cidadão e do empresário, para o setor financeiro? Sinceramente, é um escândalo essa situação de juros no Brasil", disse. 

Os preços administrados citados pelo economista são aqueles que dependem de autorização do governo, como os da gasolina e da luz. O Banco Central começou a subir os juros em outubro do ano passado, até os atuais 14,25%, com a justificativa de reduzir o consumo e tentar conter o avanço da inflação.

A declaração foi feita por Giannetti durante um programa Roda Viva especial apresentado pela TV Cultura na segunda-feira (7) para debater saídas para a crise política e econômica do país.

Além dele, participaram do debate o advogado Rubens Naves, o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira, o especialista em finanças públicas Amir Khair e o diretor do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da USP e editor do site Qualidade da Democracia, José Álvaro Moisés.

'Armadilha' ou 'piada'

"(...) nós temos que fazer o Banco Central parar essa política antipatriótica de aumentar juros ou de manter os juros agora nesse nível altíssimo e iniciar imediatamente a redução da taxa de juros", disse o ex-ministro Bresser Pereira. 

Segundo ele, a culpa pela situação atual é da "armadilha de juros muito altos e câmbio muito apreciado [real muito valorizado em relação ao dólar] no longo prazo". 

Amir Khair concordou sobre o fato de as taxas de juros "absurdamente elevadas" não serem um problema novo, mas sim "um erro gravíssimo que vem se repetindo há muito tempo; não é apenas da Dilma, do Lula, do Fernando Henrique; isso vem através da história do Brasil". "Isso é uma piada para mim; nós estamos fora da realidade", afirmou. 

Segundo Khair, os juros altos distorcem a relação entre o real e o dólar e prejudicam as empresas brasileiras. "Se acusa muitas empresas de falta de produtividade, falta de inovação, botando a culpa no setor empresarial, quando a culpa disso é do governo, é do Banco Central", disse.

Reservas internacionais

Uma proposta apresentada pelo especialista em finanças públicas Amir Khair foi reduzir as reservas internacionais do Brasil para "dar um golpe" na dívida pública e mandar um recado de mudança para o mercado.

Atualmente, o Brasil tem US$ 370 bilhões em reservas internacionais, ou seja, de dólar ou moeda estrangeira em posse do Banco Central. O BC pode usar esses recursos para intervir no mercado de câmbio, por exemplo, quando há um período de turbulências internacionais. Porém, quanto mais reservas, mais caro para mantê-las.

"Você [o governo] aplica esse dinheiro em títulos do Tesouro americano, rendem 1% a 2% ao ano. E elas custam 14%, no mínimo, de juros. Só aí você tem uma despesa da ordem de US$ 180 bilhões por ano", calcula.

"Se você vender US$ 100 bilhões de reserva, você ainda vai ficar com US$ 270 bilhões, US$ 100 bilhões acima do nível que o Fundo Monetário Internacional (FMI) recomenda para o Brasil. (...) E você abate 10% da dívida bruta do país, de repente. Isso dá um sinal claro de mudança de política", afirma. 

O mais importante, segundo Khair, é que essa medida não dependeria de aprovação do Congresso.