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Itaboraí (RJ) sofre com desemprego após adiamento de obras da Petrobras

Restaurante popular de Itaboraí (RJ). O desemprego aumentou após a redução das obras do Comperj - Tânia Rego/Agência Brasil
Restaurante popular de Itaboraí (RJ). O desemprego aumentou após a redução das obras do Comperj Imagem: Tânia Rego/Agência Brasil

Nielmar de Oliveira

Da Agência Brasil, no Rio

04/10/2015 22h08

No último dia 30, o consórcio responsável pela construção das unidades de processamento de gás natural do Comperj (omplexo Petroquímico da Petrobras) informou a dispensa de cerca de 800 trabalhadores. Formado pelas empresas Queiroz Galvão, Iesa Óleo & Gás e Tecna Brasil, o grupo diz que as demissões ocorrem “diante dos insustentáveis impactos sobre o contrato, decorrentes da crise econômica atual e de seus efeitos no câmbio e no mercado financeiro”. 

Desde o início do ano, quando cresceram os rumores de que o projeto do Comperj seria adiado, o desemprego vem aumentando na cidade de Itaboraí (RJ). Dados repassados à Agência Brasil pela prefeitura, com base no Caged (Cadastro de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, indicam que foram demitidos 17,1 mil trabalhadores e 10,9 mil foram contratados de janeiro a junho, o que corresponde a deficit de 6 mil vagas.

O ajudante de obras Diego Luiz da Conceição, 28 anos, é um dos que perderam o emprego. O jovem deixou a terra natal, em Minas Gerais, e partiu para Itaboraí na busca de conquistar um trabalho no complexo. Trabalhou durante alguns meses em uma das obras, mas, segundo o ajudante, começaram os atrasos nos pagamentos e, em seguida, as demissões.

“Fui mandado embora sem aviso prévio e não recebi nada. Estou há seis meses dormindo na rua e os poucos bicos que arrumo são ofertados pelas igrejas da cidade, que também nos fornecem alguma alimentação e roupas doadas pelos fiéis”, relatou.

Sem dinheiro para voltar para seu Estado e com vergonha de encarar os parentes. Diego diz que “o jeito é continuar na rua contando com a ajuda das instituições religiosas e a fé e esperança de que dias melhores virão e as obras finalmente reiniciem”.

'À procura de um bico'

Paulo Matos Junior, 38 anos, natural de Campos, no norte fluminense, chegou há seis meses em Itaboraí em busca de melhorar o ganha-pão, deixando para trás as três filhas. Porém, chegou atrasado. “Estou lá cadastrado [no Sine]. Mas está ruim e a procura é grande. Fico por aí perambulando pela rua à procura de um bico ou outro. Sem dinheiro, como voltar?”

O pedreiro Marco Aurélio Pacheco, 39 anos, também enfrenta o desemprego após a redução das obras do Comperj. Em Niterói, trabalhava como balconista em uma peixaria. “Estes não eram os planos. Vim na esperança de mandar um dinheirinho para ajudar a minha família, mas agora está ruim de continuar fazendo. Graças a Deus que eu não tenho vício e com isso vou levando: durmo aqui na rua mesmo, mas, infelizmente, o quadro é esse que o senhor está vendo aí”.

O presidente da Câmara dos Diretores Lojistas (CDL) de Itaboraí, Ricardo Caldas Pestana, estima que, em um primeiro momento, cerca de 25 mil pessoas migraram para a cidade em função do polo, mas “a maioria esmagadora já foi embora”. “Tudo o que foi projetado e está pronto hoje foi feito voltado para o polo e não para uma refinaria que vai gerar apenas 1,5 mil empregos diretos, o que é muito pouco diante da promessa inicial de cerca de 200 mil novos postos de trabalho”, disse. 

Operação Lava Jato

Com a Operação Lava Jato - que investiga empresas envolvidas em fraudes e pagamento de propina em contratos da Petrobras, muitas deles responsáveis por obras no Comperj – e o adiamento do projeto, a economia local foi afetada.  “As empresas foram embora, a maior parte está envolvida na Lava Jato. Os canteiros estão abandonados no entorno do Comperj e as empreiteiras estão indo embora sem terminar a obra”, lamentou o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e de Integração com o Comperj, Luiz Fernando Guimarães.

“Foram quatro anos de expectativa, e de um ano e meio para cá tudo ruiu. Praticamente todas as empresas já cancelaram seus alvarás, e as últimas acabam agora em setembro. São cerca de 34 consórcios, em geral com duas a três empresas cada”, acrescentou.  

Comperj - Tânia Rego/Agência Brasil - Tânia Rego/Agência Brasil
Placas de aluga-se são vistas por toda a cidade de Itaboraí (RJ) após adiamento de obras do Comperj
Imagem: Tânia Rego/Agência Brasil

Obras da cidade

Com a parada das obras, a prefeitura informou, em nota, que tem buscado amenizar a queda no emprego por meio do Sistema Nacional de Emprego (Sine) e parcerias com empresários locais. “A abertura de diversas frentes de obras públicas também tem amenizado o efeito da crise”, informou a prefeitura.

Atualmente, há 14 obras públicas em execução na cidade, como obras de drenagem, de pavimentação, construção de praças e quadras poliesportivas, além da revitalização da Avenida 22 de Maio (principal da cidade) e da construção de 3 mil unidades do programa Minha Casa, Minha Vida.

"Temos trabalhado muito buscando alternativas para reverter o quadro de desemprego que se instalou em Itaboraí desde a paralisação das obras do Comperj", disse o prefeito Helil Cardozo.

Segundo Luiz Fernando Guimarães, a ideia agora é transformar a região em um polo de logística para escoamento de produtos, por meio do Arco Metropolitano, como forma de superar a crise. O arco é uma estrada construída no entorno da Região Metropolitana do Rio de Janeiro para desviar o intenso tráfego de veículos que atravessam a cidade do Rio de Janeiro e diminuir os congestionamentos.

“Desde que começaram a ficar mais fortes os buchichos sobre a suspensão do Comperj, ainda em 2013, demos início ao Projeto Além Comperj. Ele consiste em utilizar o Arco Metropolitano como meio de alternativa logística para o escoamento de produtos a partir de um porto seco em Itaguaí. A alternativa é transformar a região em um polo de logística de escoamento de produtos”, disse o secretário.