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Assessoria, site e agências do BB se contradizem sobre custo de cartões

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Imagem: Shutterstock

Mariana Bomfim e Juliana Kirihata

Do UOL, em São Paulo

29/02/2016 06h00

Uma sequência de confusões dificulta que o consumidor saiba o valor real cobrado pelo Banco do Brasil nas operações com o cartão de débito pré-pago Ourocard Recarregável.

Assessoria de imprensa, site e duas agências do Banco do Brasil informaram custos diferentes para quem tem o cartão. 

O UOL procurou as agências do BB por causa de uma reportagem sobre os custos desses cartões. Uma pesquisa da associação de defesa do consumidor Proteste mostrou que o banco teria as maiores taxas.

O BB negou, mas houve uma série de contradições, deixando dúvidas sobre os valores efetivamente cobrados.

O UOL foi ver na prática o que está sendo feito nas agências e encontrou mais confusão.

Veja o vaivém de desinformação:

1) Proteste diz que BB tem maiores taxas de cartão de débito pré-pago

2) Assessoria do Banco do Brasil nega a informação

3) Site do banco confirma as taxas e mostra que a Proteste está certa

4) Banco do Brasil diz que o site está errado e vai consertar

5) Duas agências do banco dão informações contraditórias

6) Uma das agências usa dados do site, que segundo o banco, estariam errados

7) Assessoria diz que informações das agências estão erradas

Diferença de 448%, diz pesquisa

O levantamento da Proteste compara os custos com taxa de adesão, mensalidade, taxa para saques e para recargas de nove cartões pré-pagos disponíveis no país.

Segundo a Proteste, a diferença entre os custos do cartão mais barato, o ContaSuper, e o mais caro, o Ourocard Recarregável, do BB,  chega a 448%.

Numa simulação em que o consumidor faz três recargas por mês com o cartão pré-pago, o valor cobrado em um ano pelo ContaSuper ficaria em R$ 58,80. No Ourocard, sairia por R$ 322, segundo a Proteste.

BB contestou as informações

O Banco do Brasil contestou as informações, dizendo que o custo anual do Ourocard Recarregável, se o consumidor fizer três recargas por mês, é de R$ 70, e não R$ 322.

"Diferente do exposto na avaliação da Proteste, o Banco do Brasil ressalta que não cobra taxa de recarga para o cartão pré-pago e a taxa de saque somente é cobrada a partir do terceiro saque realizado pelo cliente no mês."

Consultada pelo UOL, a Proteste manteve as informações e afirmou que o estudo foi feito com base nos valores das tarifas divulgados aos consumidores pelo próprio Banco do Brasil. Disse, ainda, que enviou os dados para o BB no início de dezembro e não obteve resposta.

Site dizia outra coisa

A diferença nos cálculos do banco e da entidade se refere à cobrança pela recarga do cartão. O BB afirma que não cobra taxa de recarga. No site do banco, porém, a tabela de custos do Ourocard Recarregável mostrava cobrança de R$ 7 por recarga feita no guichê do banco.

Site do Banco do Brasil mostra cobrança de R$ 7 por cada recarga no caixa - Reprodução - Reprodução
Site do Banco do Brasil mostra cobrança de R$ 7 para recarga no caixa
Imagem: Reprodução

O BB disse que, "apesar de constar na tabela de tarifas, o serviço de recarga de cartão pré-pago pelo guichê de caixa nunca foi oferecido pelo Banco do Brasil".

Segundo a empresa, para recarregar os cartões, os clientes precisam utilizar uma das opções de autoatendimento (internet, terminal de autoatendimento, mobile), todas gratuitas. O BB disse que, na próxima atualização da tabela, a informação sobre a cobrança pela recarga será corrigida no site.

Agências se contradizem

A reportagem do UOL resolveu procurar duas agências do banco, sem se identificar, para saber quais são os custos reais do cartão pré-pago. Uma delas informou que a recarga é cobrada em qualquer situação. A outra disse que a cobrança só é feita se a recarga for realizada no guichê. 

Em uma delas, na avenida Faria Lima, em São Paulo, o funcionário do banco afirmou que os custos são:

  • Taxa de emissão do cartão: R$ 10
  • Taxa de recarga: R$ 5
  • Taxa de manutenção mensal: não há

Com isso, um cliente que fizesse três recargas por mês teria o custo anual de R$ 190 (no primeiro ano).

Em outra agência da capital paulista, na rua dos Pinheiros, o atendente informou os seguintes custos:

  • Taxa de emissão: R$ 10
  • Taxa de recarga no guichê: R$ 7
  • Taxa de manutenção mensal: R$ 5
  • Taxa de recarga no autoatendimento: não há

Assim, se o cliente fizer três recargas no guichê, terá, anualmente, o custo informado pela Proteste, de R$ 322. O atendente da agência usou os mesmos dados do site, reproduzidos pela pesquisa da Proteste e que, segundo a assessoria do BB, estariam errados.

Vale ressaltar que o funcionário da agência informou a disponibilidade de se recarregar o cartão no guichê, diferentemente do divulgado pela assessoria do BB. A assessoria disse que as únicas opções de recarga eram pela internet, pelo terminal de autoatendimento e pelo celular.

BB diz que agências erraram

Procurada novamente pelo UOL, a assessoria do banco disse que as agências deram informações erradas e reafirmou que não cobra taxa de recarga e que a recarga não é feita nos guichês.

"O Banco do Brasil desautoriza qualquer informação diferente que tenha sido repassada por algum de seus funcionários. O serviço de recarga dos cartões em guichês de caixa, apesar de constar na tabela de tarifas, não é oferecido aos clientes, que já possuem alternativas mais convenientes e vantajosas para realizar as recargas."

O banco também disse que vai "reforçar a divulgação de informações sobre o produto [o cartão Ourocard Recarregável] em suas agências".

Proteste: consumidor é prejudicado

Para a Proteste, autora do levantamento que originou a reportagem, a confusão sobre os custos do cartão pré-pago do Banco do Brasil mostra a dificuldade que o consumidor tem para conseguir informações corretas sobre tarifas. 

"Os valores cobrados não podem divergir conforme os canais de divulgação", diz. Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste. "Trata-se do direito à informação correta, clara e transparente, conforme assegura o Código de Defesa do Consumidor. O banco pode ser responsabilizado se o consumidor for prejudicado por um dado incorreto na contratação de um serviço."

A entidade também afirmou que faz estudos de serviços bancários com base na tabela de tarifas e que ela deve estar sempre atualizada no site e nos diferentes canais usados pelos bancos. 

(Edição: Armando Pereira Filho e Maria Carolina Abe)