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Países decidem suspender a importação ou a venda de carne do Brasil

Do UOL, em São Paulo

20/03/2017 09h08

A União Europeia informou nesta segunda-feira (20) que vai suspender a importação de carne de todas as empresas brasileiras envolvidas na operação Carne Fraca. Os governos da China, do Chile e da Coreia do Sul também anunciaram mudanças.

Veja o que o bloco europeu e cada país decidiu até agora:

  • União Europeia: Está monitorando as importações e vai impedir a entrada de produtos de empresas investigadas. Segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), o bloco já vetou a importação de uma unidade da BRF e outra da Peccin. O ministério da Agricultura ainda não foi comunicado oficialmente.
  • China: O Ministério da Agricultura confirmou que está suspensa a entrada de carne brasileira no país. 
  • Coreia do Sul: Proibiu a venda de produtos de frango da BRF, das marcas Sadia e Perdigão. O Ministério da Agricultura ainda não confirmou o veto.
  • Chile: Barrou a entrada de toda carne do Brasil. O governo brasileiro ainda não foi comunicado oficialmente.

A BRF divulgou uma nota nesta segunda-feira em que afirma não ter sido notificada sobre a suspensão de seus produtos: "Diferentemente do que vem sendo noticiado, a BRF informa que não recebeu nenhuma notificação oficial das autoridades brasileiras ou estrangeiras a respeito da suspensão de suas fábricas por países com os quais mantém relações comerciais, incluindo Coreia do Sul e União Europeia."

Carne estragada

A operação da Polícia Federal revelou um esquema de pagamento de propina a fiscais agropecuários para liberar carnes adulteradas sem fiscalização. Segundo a PF, as empresas teriam usado substâncias para 'mascarar' a aparência de carnes podres, utilizado carne estragada e papelão na composição de salsichas e linguiças, cometido irregularidades na rotulagem e na refrigeração das peças e usado em frangos mais água que o permitido em frangos. 

O escândalo envolveu cerca de 30 empresas do setor, incluindo as gigantes JBS, dona da Friboi a da Seara, e a BRF, dona da Sadia e da Perdigão. 

A União Europeia "garantirá que quaisquer estabelecimentos implicados na fraude sejam suspensos de exportar para a UE", disse um porta-voz da Comissão Europeia nesta segunda. Ele também disse que o escândalo não terá impacto nas negociações de livre-comércio em curso entre a União Europeia e o Mercosul.

As autoridades europeias vinham sofrendo pressão de partidos políticos e de produtores para impedir a entrada de carne brasileira temporariamente. A pressão vinha sobretudo de países de tradição protecionista, como a França e a Áustria, de acordo com o jornal "O Estado de S. Paulo". 

Lista de frigoríficos

O Ministério da Agricultura divulgou a lista de países que importaram produtos dos estabelecimentos investigados pela PF nos últimos 60 dias. O levantamento mostra que são 33 os países ou blocos que receberam carnes, miúdos e até mel e própolis produzidos pelas empresas acusadas de envolvimento no esquema.

Entre os destinatários dos produtos suspeitos estão os principais mercados brasileiros: China, União Europeia, Japão e países do Oriente Médio, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Kuwait. A relação mostra os frigoríficos, os produtos exportados e os países de destino.

O setor é um dos principais da economia brasileira, sendo responsável por US$ 12 bilhões em exportações por ano.

Temer reuniu embaixadores

A suspensão acontece logo após uma reunião do presidente Michel Temer, na véspera, com embaixadores de 33 países. Segundo o Palácio do Planalto, os embaixadores da União Europeia, da China, do Chile da Coreia do Sul estavam presentes.

Temer apresentou números para mostrar que os casos investigados pela PF são pontuais e não comprometem o sistema brasileiro de fiscalização. Ele também anunciou a criação de uma força-tarefa do Ministério da Agricultura, que já colocou os 21 frigoríficos envolvidos na operação da PF sob "regime especial de fiscalização".

Após o encontro, o presidente convidou os embaixadores para participar de um churrasco em uma das mais procuradas casas de Brasília (DF), o Steak Bull. A churrascaria tem entre seus fornecedores uma das empresas investigadas, a JBS

Ministro diz que PF cometeu "erros técnicos"

O ministro Blairo Maggi criticou a PF pelo que ele chamou de "erros técnicos" cometidos na operação. Segundo ele, a polícia considerou que alguns frigoríficos adotaram práticas proibidas e, na verdade, elas são permitidas pela regulamentação do setor. 

Três pontos foram contestados: o uso de ácido considerado cancerígeno na mistura de alimentos, a utilização de papelão em lotes de frango e de carne de cabeça de porco –algo que a PF disse ser "sabidamente proibida".

"A narrativa nos leva até a criar fantasias. Não estou dizendo que não tenha sentido a investigação. Quando estamos falando "fiquem tranquilos", é porque a gente conhece a maior parte do nosso sistema, 99% dos produtores de alimentos fazem as coisas certas", disse o ministro.

Ele também chamou as conclusões da PF de "idiotices".

Setor diz que houve exagero

Francisco Sérgio Turra, ex-ministro da Agricultura e presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), que representa produtores e exportadores de carne suína e de frango, também criticou a operação da PF. Para ele, a repercussão foi "exagerada" e deu a impressão de que a carne brasileira é toda fraudada.

"Foi muito forte esse discurso irresponsável, fruto de um levantamento ainda incompleto da própria operação [da Polícia Federal]", afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo.

Segundo ele, os produtores brasileiros mantêm padrões de qualidade elevados e as falhas identificadas pelas autoridades não pegam 0,5% do setor. 

(Com agências de notícias)