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Forma como Carne Fraca foi divulgada cria mal-estar entre PF e juiz do caso

Dario Lopez-Mills/AP
Imagem: Dario Lopez-Mills/AP

Nivaldo Souza

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/03/2017 04h00

A forma como a Polícia Federal conduziu a divulgação da Operação Carne Fraca desagradou a Justiça Federal do Paraná, base da investigação. Em especial, o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, conforme apurou o UOL.

A expectativa do magistrado era de que a PF concentrasse suas explicações no esquema de corrupção envolvendo as empresas, incluindo as gigantes BRF (dona das marcas Sadia e Perdigão) e JBS (Friboi, Seara, Swift), e na conduta irregular de servidores do Ministério da Agricultura.

O destaque dado à qualidade da carne foi visto pela Justiça como "excessivo", segundo uma fonte próxima à investigação. De acordo com a fonte, houve descontentamento pelo fato de a operação ter ganhado uma conotação mais técnica e sanitária, que não estava no escopo da investigação.

Juiz rejeitou pedido para interditar frigorífico da BRF

O juiz havia rejeitado o pedido dos investigadores para interditar a unidade da BRF em Mineiros (GO). Josegrei da Silva entendeu que caberia à pasta da Agricultura auditar o frigorífico para identificar irregularidades que justificassem o fechamento.

"A despeito da gravidade dos indícios coletados, considerando-se que envolve questões técnicas aprofundadas, com repercussões inclusive trabalhistas, entendo inviável o deferimento cautelar do pedido neste momento", registrou o juiz.

A medida foi uma tentativa de evitar que a PF exagerasse nos holofotes, apresentando, logo no início da divulgação, uma empresa de grande porte sendo lacrada. O magistrado sinalizou isso ao afirmar, no seu despacho, que havia "outras empresas que vêm apresentando irregularidades muito profundas".

O juiz indica nominalmente a Peccin Agro Industrial como uma das que, segundo ele, operavam "por meio de pagamentos de subornos regularmente".

A unidade da BRF em Mineiros (GO) acabou sendo interditada, depois, pelo Ministério da Agricultura.

Sem base técnica

O entendimento na 14ª Vara Federal de Curitiba é de que a Polícia Federal se complicou em explicações sem base técnica consistente, deixando de lado o foco principal da investigação, que seria a corrupção de servidores públicos por empresas privadas.

O juiz havia determinado que houvesse apoio técnico do Ministério da Agricultura para comprovar as fraudes identificadas pela investigação da PF em gravações telefônicas. Ao longo da apuração, a Polícia Federal apresentou somente um laudo técnico feito em uma das empresas investigadas.

'Falha de comunicação'

A forma como foi feita a divulgação da Operação Carne Fraca pela PF foi criticada pelo presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, que apontou "falha de comunicação".

Segundo ele, o fato de a PF ter dito que a operação é a maior de sua história "talvez tenha gerado essa interpretação de que aqueles fatos eram um problema sistêmico de todo o mercado produtivo brasileiro", disse Sobral.

A Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais) defendeu a atuação dos agentes federais que trabalharam na operação, mas também criticou a forma como as investigações foram divulgadas.

PF recua após 4 dias

Em nota divulgada na quarta-feira (21), após reunião entre o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Roberto Novacki, e o diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, os órgãos afirmaram que o Sistema de Inspeção Federal (SIF) "garante produtos de qualidade ao consumidor brasileiro" e que ele "já foi auditado por vários países que atestaram sua qualidade".

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