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Alvo da 2ª fase da Carne Fraca teria impedido interdição em fábrica da BRF

Li Ming/Xinhua
Imagem: Li Ming/Xinhua

Ricardo Marchesan*

Do UOL, em São Paulo

31/05/2017 15h50

O ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura no Estado de Goiás, Francisco Carlos de Assis, preso preventivamente pela Polícia Federal nesta quarta-feira (31), é réu no âmbito da operação Carne Fraca. Ele é acusado de "blindar" um frigorífico em Mineiros (GO) que deveria ter a licença suspensa. A unidade pertence à BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão.

A prisão fez parte da segunda fase da Carne Fraca, que também realizou busca e apreensão em três lugares ligados ao acusado. Segundo a PF, Francisco de Assis foi preso porque estaria "destruindo provas relevantes para a apuração no contexto da Operação Carne Fraca". A descoberta foi feita por meio de grampo telefônico autorizado pela Justiça.

Assis é acusado de obstrução de investigação criminal, corrupção ativa e passiva, entre outros crimes.

Os advogados dele, Rodrigo Lustosa e Eney Curado, afirmam que há um "equívoco na decisão judicial", e que a atitude do réu "sempre foi absolutamente contributiva para o bom andamento do processo". Sobre a acusação de que Assis teria agido para "blindar" a unidade de Mineiros, a defesa diz que "refuta esses fatos, que são absolutamente inverídicos".

Procurada pelo UOL, a BRF informou, em nota, que não vai se pronunciar sobre o caso.

Assis deve ser escoltado de Goiânia para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba amanhã, de acordo com o delegado da PF William Tito Schuman Marinho.

Acusações

Na primeira fase da operação, Francisco Carlos de Assis foi grampeado em conversas sobre a licença do frigorífico de Mineiros da BRF. Ele teria agido pela liberação da licença, "provavelmente, recebendo alguma vantagem ilícita", segundo a Polícia Federal.

O pedido para ajudar na blindagem foi feito por Roney Nogueira dos Santos, que era gerente de relações institucionais da BRF, segundo ligação telefônica interceptada.

Na conversa, Assis relata ter falado com Dinis Lourenço da Silva, fiscal do Ministério da Agricultura, e acertado tudo para evitar a suspensão, ainda de acordo com a PF.

Em outro diálogo gravado pela PF, Roney dos Santos e outro executivo da BRF, André Luis Baldissera, mencionaram detecção de contaminação por salmonella no frigorífico.

Na época, questionada sobre os grampos, a postura do diretor e a suposta contaminação em Mineiros, a BRF disse "que as questões objeto de apuração pela Polícia Federal serão comentadas após a finalização da investigação da Polícia Federal".

Frigorífico voltou a funcionar em abril

A unidade de Mineiros da BRF foi totalmente interditada pelo Ministério da Agricultura após a primeira fase da Carne Fraca. Em abril, a empresa informou que recebeu autorização do ministério para reativar a fábrica.

Antes da liberação, o governo divulgou análise de 302 amostras de produtos recolhidos em 21 empresas, entre elas a unidade de Mineiros.

No caso específico da unidade da BRF, não foram encontradas bactérias nem problemas que representassem risco à saúde, mas foi detectado excesso de água no frango. Segundo o ministério, a companhia foi notificada e os produtos foram recolhidos.

Em resposta divulgada na época, a BRF afirmou que existem variáveis que podem interferir nos resultados dos testes de frangos congelados coletados nos centros de distribuição, como condições de transporte. A BRF disse também que havia solicitado contraprova ao ministério e que, até uma resposta definitiva, os produtos permaneceriam retidos, "apesar da inexistência de riscos à saúde do consumidor".

*Colaborou Thâmara Kaoru