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Vaquinha fracassa, e inventora não lançará a versão ''clássica'' do spinner

Versão "clássica" do spinner; patente o definia como "um brinquedo que gira no dedo para diversão de crianças e adultos" - Reprodução
Versão 'clássica' do spinner; patente o definia como 'um brinquedo que gira no dedo para diversão de crianças e adultos' Imagem: Reprodução

Juliana Carpanez

Do UOL, em São Paulo

20/06/2017 11h33

A versão “clássica” do spinner --brinquedo giratório sucesso em todo o mundo-- fracassou em uma campanha de financiamento coletivo e não será relançada. Ao menos por enquanto: apenas se atingisse a meta de US$ 23.990 (cerca de R$ 78,9 mil) a engenheira química Catherine Hettinger, 62, poderia relançar o brinquedo idealizado e patenteado por ela nos anos 90.

A norte-americana chegou a produzir em pequena escala e vender algumas unidades do produto, sem muito sucesso. Com a arrecadação no Kickstarter, ela esperava pegar carona na febre global dos spinners, que no Brasil custam até R$ 500.

Mas a campanha lançada em 4 de maio chegou ao fim neste domingo (18) com total de US$ 14.592 (cerca de R$ 48 mil) e, por isso, o projeto não será levado adiante. Segundo ela, o modelo incorpora seu conhecimento profissional na área de qualidade de segurança e é bom de manejar. “Muita gente experimentou e adorou”, disse em entrevista por e-mail.

As contribuições iam de US$ 10 (cerca de R$ 33 para receber apenas um agradecimento) até US$ 5.000 ou mais (cerca de R$ 16,5 mil para receber 800 spinners, o número de telefone de Catherine e um encontro em Orlando com a inventora). Nenhum dos 966 apoiadores chegou ao valor máximo, mas duas pessoas participaram com US$ 500 (cerca de R$ 1.650 para receber 70 spinners e e-mails da própria Catherine com atualizações sobre o projeto). Como a arrecadação não atingiu a meta, os contribuintes receberão seu dinheiro de volta. 

A engenheira Catherine Hettinger, em foto sem data divulgada  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Catherine Hettinger, que patenteou nos anos 90 um 'brinquedo giratório', em foto sem data divulgada
Imagem: Arquivo pessoal

Cadê o dinheiro? 

Até agora, a engenheira que vive na Flórida (EUA) não ganhou um centavo com a popularização do produto - e existem ao menos dois motivos para isso.

Primeiro, a patente do “brinquedo giratório” foi mantida por ela de 1997 a 2005, quando deixou de pagar a taxa periódica de manutenção (ela fala em US$ 1.100, o equivalente a R$ 3.640). Segundo, mesmo que o pagamento fosse mantido, a patente cairia 20 anos após seu registro, em janeiro de 2017. Justamente o ano em que crianças e adultos do mundo todo aderiram ao brinquedo que gira com o movimento dos dedos.

Há uma terceira questão, esta discutível. Visualmente, o spinner do passado e o do presente são distintos. Mas seguem a mesma proposta e, por isso, Catherine vem ganhando destaque como “inventora do spinner” em importantes veículos da mídia internacional. Questionada pelo UOL se são o mesmo brinquedo, ela explicou que sua patente se baseia naquilo que o produto faz, não com o que se parece. “A área do dedo oferece equilíbrio para ele continuar girando e há um centro de gravidade”, explicou, equiparando os produtos.

Mesmo sem lucrar com o spinner --como hoje fazem os fabricantes chineses--, Catherine afirma estar contente com a popularização da ideia batizada nos anos 90 como “spinning toy” (brinquedo giratório). “Provavelmente fui a pessoa em todo o mundo que menos se surpreendeu [com o sucesso]. Vendi centenas de unidades e hoje vejo o mesmo sorriso que via quando as pessoas giravam o clássico fidget spinner”, contou em entrevista por e-mail, usando o nome pelo qual o acessório hoje é mais conhecido.

Indagada se realmente não existe ressentimento no sucesso “tardio” daquela que seria sua criação, reforçou: “Meus amigos sabem como estou feliz por ver essa aceitação [do público]. Fico feliz por muitas pessoas saberem que podem fazer uma pausa no trabalho ou durante momentos estressantes para curtir a vida”. E conta que só percebeu a febre em abril deste ano, com tantos adeptos ao brinquedo --no Brasil, algumas bancas chegaram a ter fila de espera para a compra.

Spinner criado por Catherine Hettinger

UOL Notícias

Alívio e diversão

Segundo Catherine, o momento é propício para o spinner porque há muitas notícias desencorajadoras sendo divulgadas pela mídia (cita como exemplo a recessão pela qual passaram os EUA). Portanto, segundo ela, as pessoas estão em busca de alívio e diversão. É a mesma linha da explicação registrada na da patente: “Um brinquedo que gira no dedo para diversão de crianças e adultos”. O texto escrito nos anos 90 também fala em uma alternativa para fumantes largarem o cigarro, pois terão algo a fazer com as mãos.

O apelo de hoje traz assuntos mais pertinentes com a era atual: uma ferramenta para combater estresse, ansiedade e que pode ajudar aqueles com dificuldade de concentração. “As crianças ficam sete horas sentadas [na escola] e por isso [o spinner] inicia uma revolução para ao menos as deixarem longe de problemas. Nenhum animal fica sentado por tanto tempo e nós também não podemos”, diz a apresentação do projeto de financiamento coletivo.