IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Recebe o mínimo? Teria de trabalhar 19 anos para ganhar o mesmo que um rico

Getty Images/iStockphoto/ayutaka
Imagem: Getty Images/iStockphoto/ayutaka

Do UOL, em São Paulo

25/09/2017 04h00Atualizada em 25/09/2017 09h49

Os brasileiros mais ricos (aqueles que estão entre os 0,1% com mais dinheiro) recebem, em média, R$ 190 mil por mês. Uma pessoa que ganha um salário mínimo levaria 18,5 anos trabalhando para ganhar a mesma coisa.

Essa é uma das conclusões do estudo "A Distância Que Nos Une", lançado nesta segunda-feira (25) pela Oxfam Brasil, ONG que combate a desigualdade. Para os cálculos, foram usados dados de 2015, quando o salário mínimo no Brasil era de R$ 788. Os dados de renda são da Receita Federal, de acordo com a Oxfam.

O estudo ainda cita um dado divulgado pela própria ONG em relatório de janeiro: os seis homens mais ricos do Brasil concentram a mesma riqueza que toda a metade mais pobre da população do país, mais de 100 milhões de pessoas.

Os 5% mais ricos recebem o mesmo que os demais 95%, juntos, de acordo com a análise.

Situação melhorou, mas ritmo é lento

A Oxfam ressalta que o Brasil teve avanços sociais nas últimas décadas. Entre 1988 e 2015, caiu de 37% para 10% a parcela da população abaixo da linha da pobreza. Ela ainda aponta que 28 milhões de pessoas saíram da pobreza nos últimos 15 anos.

O estudo destaca alguns fatores que contribuíram para isso, como a estabilização da economia na década de 1990, a política de valorização de salário mínimo nos anos 2000 e " uma série de políticas sociais que tiveram de mais simbólico a retirada do país do mapa da fome da ONU, em 2015".

Por outro lado, "a grande concentração de renda no topo se manteve estável", afirma a ONG.

Concentração de renda ainda é grande

Segundo o estudo, o aumento da renda dos mais pobres não foi suficiente para diminuir a distância para os mais ricos. "O Brasil permanece um dos piores países do mundo em matéria de desigualdade de renda e abriga mais de 16 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza."

Essa também foi a conclusão de um recente estudo elaborado pelo World Wealth and Income Database, instituto de pesquisa codirigido pelo economista Thomas Piketty, conhecido por suas análises sobre desigualdade com a obra "O Capital no Século 21".

Uma das conclusões desse outro estudo é que a desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015 e permanece em níveis "chocantes".

A Oxfam calcula que, se continuar no ritmo atual, o Brasil levará 35 anos para alcançar o nível de desigualdade atual do Uruguai. Para chegar ao patamar do Reino Unido, demoraria 75 anos.

Negros e mulheres

A ONG destaca, também, que a desigualdade de renda entre homens e mulheres caiu nas últimas décadas, mas que ainda há uma "inaceitável diferença". A renda média do homem brasileiro era de R$ 1.508 em 2015, enquanto a das mulheres era de R$ 938.

No ritmo em que essa diferença vem caindo nos últimos 20 anos, a Oxfam calcula que só existirá igualdade entre homens e mulheres em 2047.

A desigualdade entre brancos e negros  é"ainda mais grave", de acordo com a ONG.

Brancos ganhavam, em média, R$ 1.589, em 2015. Isso é o dobro do que ganhavam negros, que recebiam R$ 898 por mês.

Projetando para o futuro, seguindo o ritmo das últimas duas décadas, a igualdade entre as rendas só chegará em 2089.

Calculadora da desigualdade

No ano passado, a Oxfam lançou a "Calculadora da Desigualdade", um site para mostrar onde a renda do usuário se encontra, em comparação com a média da população brasileira e de outros países.

Naquela época, a ONG fez cálculos parecidos com o estudo atual, mas apontando que uma pessoa que recebe um salário mínimo demoraria 43 anos para juntar o mesmo que um super-rico ganha em um mês.

A diferença nos números, porém, é por causa da metodologia, de acordo com a Oxfam.

Ela afirma que os cálculos, na época, levavam em conta o 0,002% dos brasileiros mais ricos, ou 4.225 multimilionários que recebiam R$ 456.474 por mês, em média.

Para bilionário, desigualdade tem de diminuir, senão haverá revolução

UOL Notícias