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Eles trabalham sem carteira assinada, ganham menos e ainda pagam mais juros

Cristiane Bonfanti

Do UOL, em Brasília

19/05/2018 04h00

Está aumentando o número de trabalhadores sem carteira assinada e que ganham menos do que o salário anterior, quando eram contratados pelo regime da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Se não bastasse isso, eles ainda pagam juros mais altos do que o normal e estão mais sujeitos ao superendividamento.

Especialistas em finanças pessoais afirmam que, por não conseguir comprovar renda, esses trabalhadores geralmente têm acesso a produtos bancários com juros elevados, sobretudo o cartão de crédito e o cheque especial.

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Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o número de trabalhadores sem carteira assinada cresceu 5,2% nos três primeiros meses de 2018, na comparação com o mesmo período de 2017.

O total de profissionais na informalidade passou de 10,2 milhões para 10,7 milhões no período analisado. Ao mesmo tempo, a renda média dessas pessoas caiu 4,1%, de R$ 1.284 para R$ 1.231.

A economista do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) Ione Amorim diz que esses trabalhadores enfrentam uma situação perversa. Eles encontram taxas de juros mais altas justamente no momento em que precisam complementar a renda.

“Essa realidade de informalidade no emprego [trabalho sem carteira assinada] e a redução na renda se refletem no nível de endividamento da população”, disse.

Quase 1.000% ao ano podem ser os juros do cartão

Segundo o Banco Central, para quem paga a fatura mínima do cartão de crédito, os juros médios do rotativo são, em média, de 320,4% ao ano. Mas essa taxa pode chegar a 800% ao ano.

Para o consumidor que não paga nem mesmo o mínimo exigido pelo banco, os juros médios sobem para 380,1% ao ano e podem chegar a 960,9% ao ano. No caso do cheque especial, os juros chegam a 504% ao ano.

A economista do Idec afirma que, além de usar com mais frequência o cartão de crédito e o cheque especial, esse consumidor tende a recorrer ao crédito pessoal e aos cartões de lojas. “Ele precisa readequar o seu padrão de vida para não viver de crédito”, diz Ione.

Convença as crianças a gastar menos e adie viagens

O economista do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal Ronalde Silva Lins afirma que a economia brasileira está em um processo de lenta retomada, com um crescimento tímido do emprego. Para ele, o trabalhador que não tem carteira assinada não deve realizar empréstimos em condição alguma.

“Os bancos estão muito agressivos, e o consumidor pode se endividar ainda mais”, diz.

Na avaliação do economista, o principal cuidado desses trabalhadores deve ser envolver toda a família no planejamento das despesas de casa. “O planejamento deve envolver todos, especialmente as crianças, que são os maiores consumidores de uma família”, afirma.

Lins também diz que as pessoas que estão ganhando menos devem cortar gastos com o lazer, ao menos em um primeiro momento. “Pode adiar um passeio ou uma viagem.”

Não compre TV ou celular no cartão

O especialista em investimentos do Banco Ourinvest Mauro Calil diz que o cuidado básico na hora de consumir é gastar menos do que ganha. Ele também afirma que os trabalhadores que tiveram a renda reduzida não devem utilizar crédito para comprar produtos que não são urgentes, como uma televisão ou um celular.

Na avaliação de Calil, gastos com produtos que são importantes para “alavancar a vida”, com um crédito imobiliário ou um financiamento estudantil, são exceção a essa regra. “O trabalhador que está na informalidade pode precisar comprar uma batedeira, por exemplo, para fazer um brigadeiro gourmet”, diz.

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