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Gasolina, desemprego, raiva do governo: por que caminhoneiros têm apoio?

Cristiane Bonfanti

Do UOL, em Brasília

26/05/2018 04h00

Em meio a um cenário de insatisfação generalizada contra o governo, os protestos dos caminhoneiros que pararam o Brasil ganharam apoio de diversos setores da sociedade.

Apesar dos transtornos que a greve contra a alta do diesel tem causado, desde o abastecimento de combustível, comida, ônibus, portos e aeroportos, a mobilização encontra respaldo na própria população.

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Em diversos pontos do país, pessoas levaram alimentos, água e cobertores para os caminhoneiros. O movimento envolveu cidadãos, motoristas de aplicativo e transporte escolar e até empresas da área de alimentos. Também houve apoio nas redes sociais.

    Protestos enfrentam governo mais impopular

    Analistas ouvidos pelo UOL afirmam que a paralisação dos caminhoneiros encontra solidariedade por parte da população porque enfrenta um governo que desagrada a maior parte dos brasileiros.

    As pessoas estão insatisfeitas com problemas que vão desde os escândalos políticos até o desemprego que afeta o bolso das famílias.

    “Estamos no governo mais impopular [desde Fernando Collor] e que está envolvido em acusações de escândalos e corrupção", disse o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia (Cebrad), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

    "O movimento dos caminhoneiros ousou fazer frente a esse governo por uma causa que parece ser justa aos olhos da população, que é o preço dos combustíveis”, afirmou o analista.

    Cenário é de desemprego e baixo crescimento econômico

    Monteiro disse que, desde o início, o presidente Michel Temer assumiu o poder de forma controversa, após a polarização da sociedade em torno do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

    Agora, afirmou o analista, o cenário é de quase 14 milhões de pessoas desempregadas, contas públicas no negativo e baixo crescimento econômico.

    “O único trunfo é a inflação baixa, e isso é um grão de areia na praia. Então, quando há um movimento importante contra o governo, a primeira reação das pessoas é também apoiar essa mobilização”, disse.

    Na avaliação do cientista político, em uma circunstância mais favorável para o governo, talvez as pessoas não fossem tão solidárias.

    “É uma greve que afeta a vida de todo mundo e causa problemas de toda ordem”, afirmou Monteiro.

    População quer menos tributos e melhores serviços

    O cientista político e sócio da Tendências Consultoria Rafael Cortez disse que a população enxerga no conflito entre os caminhoneiros e o governo uma reivindicação que também é sua: a de redução de tributos.

    Ele afirmou que, de forma geral, as pessoas entendem que os preços dos produtos e serviços no Brasil são elevados em função da alta carga tributária. “Essa percepção que vem ganhando força sobretudo por parte da classe média”, disse.

    Na avaliação de Cortez, outra discussão que a greve traz à tona diz respeito à privatização da Petrobras.

    “Essa agenda envolvendo o tamanho da carga tributária e a qualidade do serviço público tem crescido na esteira de um debate político polarizado. A greve traz esses pontos ao debate ainda que não seja pelo canal correto”, disse Cortez.

    Governo promoveu aumento antipático para a sociedade

    O professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas afirmou que, embora a população geralmente não seja solidária a movimentos grevistas, o governo promoveu um “aumento extremamente antipático” para a população.

    “O aumento no preço dos combustíveis é ilógico e cruel simultaneamente”, disse.

    Para Caldas, o imposto sobre os combustíveis é ilógico porque afeta toda a cadeia produtiva do país, desde a produção agrícola até a chegada de itens considerados básicos aos hospitais.

    Essa tributação também é cruel porque afeta alguns setores de forma mais intensa, como os próprios caminhoneiros e outros profissionais que trabalham diretamente com o transporte.

    “Além de ser irracional, esse é um imposto injusto, e a população sente a importância disso”, afirmou.

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