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Para baixar dólar, BC muda estratégia e põe moeda americana no mercado já

Cristiane Bonfanti

Do UOL, em Brasília

25/06/2018 14h42

Como o dólar está subindo demais, o Banco Central mudou a forma de negociar a moeda. Ele vai tirar dinheiro das reservas internacionais e vender o dólar já no mercado, em vez de fazer uma venda futura, como fazia até agora. O BC anunciou a venda de US$ 3 bilhões ao mercado nesta segunda-feira (25), para começar. A diferença é que vai entrar dólar mesmo na economia. Na venda futura, não chegava a acontecer isso (os pagamentos eram convertidos em reais).

Segundo o BC, isso não vai comprometer as reservas internacionais, porque há um acordo para recompra desses dólares no futuro.

A nova estratégia é chamada de leilão de linha ou venda de dólares com compromisso de recompra. Na prática, o BC quer aumentar a quantidade da moeda norte-americana circulando e, com isso, conter a sua alta. Trata-se da lei da oferta e da procura. Se há mais dólar disponível na economia, o seu preço tende a ser menor.

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Com essa decisão, o BC afeta diretamente a vida de cidadãos e de empresas. Com o dólar alto, produtos importados ficam mais caros, contribuindo para uma alta nos preços de bens e serviços no Brasil de forma geral. As viagens dos brasileiros ao exterior também ficam mais caras. Por outro lado, as exportações brasileiras são favorecidas (um importador lá fora precisa gastar menos dólares para comprar um produto brasileiro).

BC está determinado a segurar o câmbio, diz economista

O economista-chefe da corretora Spinelli, André Perfeito, disse que a nova estratégia do Banco Central é uma demonstração de que ele está determinado a segurar o câmbio. Desde meados de maio, o órgão vem realizando leilões de swaps cambiais, mas a medida não tem se demonstrado suficiente para conter a elevação do dólar.

Perfeito disse que, nos leilões de swap, o Banco Central age como se estivesse vendendo dólar no mercado futuro. Ele oferece um contrato de venda de dólares, com data definida de encerramento, mas não entrega a moeda efetivamente. Quando esses contratos vencem, o Banco Central paga aos investidores a variação do dólar no período. O investidor, por sua vez, se compromete a pagar uma taxa de juros sobre o valor desse contrato.

“A ideia do swap é que o BC não vende dólar físico, mas a variação do dólar, o que dá na mesma para um investidor que queira apenas a variação da moeda”, disse o economista.

Com a negociação do dólar no mercado futuro, o investidor garante que ganhará com a sua variação sem comprar a moeda, o que reduziria a sua oferta no mercado e, consequentemente, poderia elevar o seu preço.

“O que o Banco Central está fazendo agora é colocar dinheiro efetivamente no mercado. Se isso vai ser suficiente, só Deus sabe”, disse.

Ao atuar no mercado, BC faz com que “realidade não apareça”

Perfeito afirmou que existem vários fatores que podem pressionar uma alta na moeda norte-americana. Entre eles, estão a instabilidade política do Brasil, que sinaliza riscos para quem quer investir no país, e a postergação de reformas na área econômica, como a da Previdência. Outro fator é a própria política de elevação de juros nos Estados Unidos, que leva para lá recursos que antes poderiam ir para países emergentes.

“O problema é que, com isso, eu acho que o Banco Central está fazendo com que a verdade não apareça. O mercado quer saber o real patamar do dólar. Até quando ele vai conseguir fazer isso?”, disse.

Brasil possui US$ 382,5 bilhões em reservas internacionais

Segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta segunda-feira (25), o Brasil possui hoje US$ 382,5 bilhões em reservas internacionais.

Na avaliação dos economistas, o volume é considerado alto para uma economia em desenvolvimento, como o Brasil. Quando convertido em real, esse valor ultrapassa 20% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos pelo país).

Como há o compromisso de recompra desses dólares vendidos agora, esses recursos devem voltar no futuro para as reservas internacionais.