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Com nova regra, banco pequeno pode competir e baratear custo de boletos

Cristiane Bonfanti

Do UOL, em Brasília

07/07/2018 04h00

Bancos pequenos e médios vão se tornar mais competitivos no mercado de emissão de boletos de pagamento. Uma das principais barreiras para a entrada das instituições de pequeno porte nesse mercado era a falta de uma ampla rede de agências no país nas quais esses boletos poderiam ser pagos, mas essa realidade começa a mudar com a nova regra para a cobrança desses documentos.

Em novembro, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) vai concluir o processo de implementação da nova plataforma de cobranças. O sistema permite, entre outras alterações, que boletos bancários sejam pagos em qualquer instituição bancária mesmo após o seu vencimento.

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Essas mudanças estão em curso desde setembro do ano passado e, hoje, boletos vencidos a partir de R$ 800 já podem ser pagos em qualquer banco. A partir de novembro, documentos de qualquer valor serão incluídos na nova regra. Os bancos também serão obrigados a registrá-los numa plataforma única, o que reduzirá a possibilidade de fraudes, uma vez que diferentes instituições poderão cruzar dados para conferir a autenticidade dos códigos de barra antes mesmo de receber o pagamento.

Embora, originalmente, a ampliação na oferta da emissão de boletos não seja o foco da nova plataforma de cobrança, ela é uma consequência positiva da medida, na opinião de economistas ouvidos pelo UOL.

Agora, na prática, um banco de menor porte poderá ser escolhido por qualquer empresa para emitir seus boletos. Afinal, ele não terá o mesmo problema de capilaridade enfrentado anteriormente, que limitava o pagamento desses documentos após seu vencimento.

“A regra anterior para pagamento de boletos era uma restrição para bancos pequenos, que poderão ser mais ativos nesse mercado”, disse o professor Márcio Nakane, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP).

Segundo a Febraban, o volume de boletos pagos é da ordem de 4 bilhões por ano. O serviço pode atrair desde grandes grupos, como redes de faculdades (que precisam entregar boletos de mensalidades, por exemplo), até organizações mais simples, como condomínios residenciais, que cobram taxas dos moradores.

Serviço pode ficar mais barato para o consumidor

Na avaliação do economista Luis Braido, professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE) da Fundação Getulio Vargas (FGV), além de beneficiar instituições financeiras de menor porte, a nova sistemática de cobrança pode baratear o serviço na ponta, para o consumidor final.

Hoje, a cada documento emitido, os bancos cobram das empresas valores que vão de R$ 1,50 a R$ 5,50. Para atrair empresas, pequenos bancos podem reduzir essas taxas. Além disso, afirmou Braido, a medida pode melhorar a rotina do cidadão. De um lado, as pessoas vão poder escolher onde pagar suas contas e, por exemplo, evitar filas. De outro, as agências que antes não tinham muito movimento podem receber essas pessoas e se esforçar para conquistá-las como clientes de outros serviços.

“Existe um efeito direto, dos bancos que vão precisar reduzir o preço do serviço, e um indireto também na competição. As pessoas vão poder escolher onde pagar suas contas, e os bancos vão querer estabelecer um relacionamento com elas”, afirmou.

Por exemplo, Braido disse que, se uma pessoa vai pagar um boleto e não tem dinheiro, ela pode contratar um empréstimo na hora ou conhecer outros serviços. “Essa possibilidade de pagamento de boletos em qualquer banco é um chamariz enorme de público”, disse.