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Empresas oferecem test-drive de sapato, colchão, lingerie e até apartamento

Thâmara Kaoru

Do UOL, em São Paulo

15/07/2018 04h00

O test-drive feito nas concessionárias já é bem conhecido por quem está pensando em comprar um carro e quer saber como ele é na prática. Agora, há empresas oferecendo testes também para sapato, lingerie, colchão e até apartamento.

A consultora do Sebrae-SP Silmara Souza afirma que as empresas que oferecem esse tipo de teste aos consumidores querem ser diferentes. "Oferecer o produto ou serviço antes de o cliente efetuar a compra é uma prática competitiva e uma forma de se diferenciar dos concorrentes. É uma maneira de oferecer uma experiência que vai ajudar o consumidor a tomar uma decisão. Não é só experimentação. É a experiência."

As empresas também usam essa técnica para atrair, principalmente, os consumidores que não conhecem o produto ou resistem à ideia de aderir a uma nova marca ou serviço.

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Para Souza, mesmo que o cliente não goste do teste, a empresa pode aprender. "É bom para os dois lados. No caso do cliente, é possível testar e, se não gostar, devolver e ponto. Para a empresa, há a chance de avaliar os motivos pelos quais os clientes não gostaram do produto. Assim, é possível ajustar a estratégia."

Veja o que as empresas oferecem:

Dormindo no apartamento

Vitacon Incorporadora e Construtora permite que clientes experimentem o apartamento antes de decidir pela compra. É possível passar uma noite em um dos dez empreendimentos que oferecem esse tipo de teste.

Para Alexandre Lafer Frankel, CEO da Vitacon, o teste foi pensado para dar aos clientes mais certeza na compra. "Apartamento é um bem caro. Uma coisa é vender um imóvel utilizando a realidade virtual para mostrar como ficaria, mas não é o mesmo que morar. Nós administramos os apartamentos e deixamos que os clientes façam o test-drive para que experimentem como funciona e qual é o conceito do prédio. Existe diferença em viver na prática."

Para Frankel, o período de um dia e uma noite é suficiente para se ter uma ideia de como seria morar no prédio. "Quando você dirige um carro em um test-drive, você não pega estrada e não acelera, mas você tem uma ideia de como é e se familiariza. No apartamento, você não passa por todas as situações, mas é uma experiência de como ele é."

A reportagem testou um apartamento de 26 metros quadrados na Vila Olímpia, região oeste de São Paulo. Para passar o dia lá, bastava levar roupas e itens de higiene pessoal. Com o test-drive, dá para conhecer a região e saber se o que o prédio oferece está dentro das suas expectativas. Dá para verificar também se o bar em frente ao prédio pode perturbar suas noites de sono e se vale a pena escolher outra unidade.

O teste também funciona para quem está acostumado com um apartamento maior e quer ver como seria viver em um menor, por exemplo.

Experimentando sapatos na rua

A Owme, marca de calçados femininos da Arezzo&Co, tem uma opção limitada de sapatos para clientes experimentarem. Há apenas quatro modelos disponíveis. Segundo a empresa, a ideia é testar o tamanho dos saltos, e não os sapatos em si. Ou seja, o teste não é permitido para qualquer calçado da loja.

É preciso fazer o cadastro no site e fornecer dados pessoais como nome, CPF, e-mail, telefone, além de informar a numeração do calçado. Na etapa seguinte, terá que escolher a data e o horário em que fará o teste. Também é necessário baixar um aplicativo chamado Test Drive Owme.

Ao chegar à loja, localizada na rua Oscar Freire, zona oeste de São Paulo, a cliente sincroniza o aplicativo do celular com o chip que fica embaixo do calçado para começar o teste.

A reportagem testou um dos modelos oferecidos pela marca. Dá para ter uma ideia se o tamanho do salto é ideal para você e se ele aperta ou não seus pés. É mais eficiente do que as tradicionais provas feitas apenas na loja, mas é preciso lembrar que o modelo que você levar para casa pode ser diferente daquele que você testou. 

Deitando no colchão por cem noites

A loja de colchões Flow deixa o cliente testar o produto por cem noites. Para a empresa, muitos acham constrangedor deitar no colchão na loja em frente aos vendedores e clientes, por isso surgiu a proposta de testar o produto em casa, dormindo e acordando por algumas noites.

Segundo a empresa, o cliente compra o colchão e faz o teste. Se, durante o período de cem noites, ele decidir que não quer ficar com o produto, a empresa vai até sua casa retirar o colchão. A Flow afirma que a taxa de devolução é baixa, que todo o dinheiro é devolvido e que não há cobrança pela devolução. Ainda segundo a empresa, os colchões rejeitados são doados.

Provando calcinha e sutiã por dois dias

A loja virtual Biellíssima oferece um test-drive de lingerie para a região sudeste do país. A cliente entra no site, escolhe os modelos que quer receber em casa e entra em contato com a empresa por e-mail, telefone ou WhatsApp. É preciso preencher um cadastro com dados pessoais e horário para entrega.

Na cidade de São Paulo, a empresa envia para a cliente uma mala com os modelos escolhidos e outras opções sugeridas. Em outras cidades, as peças chegam pelos Correios. As clientes podem ficar com os modelos por dois dias e são responsáveis por devolver as peças que não quiserem. Ou seja, terão que entregar pessoalmente na empresa ou pagar pela devolução. A empresa diz que a taxa de devolução é de 5%.

Priscila Biella, dona da marca, diz que a cliente precisa assinar um termo de responsabilidade pelas peças. Nesse documento, há uma orientação para que elas evitem experimentar a calcinha. "Com a mala, enviamos protetores de calcinha. Orientamos que, se há muita dúvida sobre o modelo, a cliente experimente com outra calcinha por baixo e com o protetor. A maioria das clientes tem mais dúvidas em relação ao sutiã."

Para Edilson Ogeda, coordenador do núcleo de ginecologia do hospital Samaritano, não há como saber se a lingerie já foi usada e se está contaminada. "A questão é que roupas íntimas podem ter bactérias e fungos. Não é possível determinar apenas olhando se ela já foi utilizada ou não. Algumas delas têm protetor íntimo, mas ele protege apenas o forro da calcinha. Outras áreas também podem estar contaminadas e causar irritação, coceira e até infecção."

Sobre a orientação de experimentar o modelo com a calcinha por baixo, o médico diz que a ação diminui o risco, mas não há eficiência completa. "Minimiza bastante o risco de contaminação. Mas se a pessoa que experimentou antes tinha micose na virilha, por exemplo, passa a ser um risco. O mesmo para o sutiã. Não dá para dizer que é isento de contaminação. Eventualmente alguém que experimentou antes e que tinha micose na região da axila pode acabar contaminando alguém."

Para Biella, há risco de contaminação com outras peças também. "É um problema que pode acontecer com todos os tipos de roupa. Pode acontecer de uma pessoa com micose na axila experimentar uma blusa e a pessoa correr o mesmo risco de ser contaminada."

Ela afirma que aposta na conscientização. "O que eu faço é pedir para que a cliente não experimente a parte de baixo, por exemplo. Se a cliente pedir uma peça que nunca foi experimentada e eu tiver no estoque, posso enviar para oferecer mais segurança."

O médico afirma que, seja comprado na internet ou nas lojas, o ideal é sempre lavar as peças íntimas antes de usar. "Se comprou um biquíni ou uma lingerie, a recomendação é lavar com água e sabão neutro, de preferência, para evitar irritação." Ele afirma que na hora de colocar a calcinha no varal, o forro deve ficar para dentro, e não do avesso, para diminuir a exposição a fungos e bactérias. Outra orientação é passar com ferro, principalmente, o forro da calcinha.

Teste é permitido, mas exige cuidado

Segundo a assessora técnica do Procon-SP Fátima Lemos, os testes exigem atenção do consumidor. "Não há nenhum problema de a empresa oferecer esses testes. Pode ser interessante, mas é preciso entender muito bem como funciona. Normalmente, o consumidor precisa preencher um cadastro, fornecer dados e meios de pagamento. Então, é preciso ficar atento ao que está sendo solicitado no momento em que aceita o teste", afirma.

Para ela, o consumidor não pode esquecer de ver as condições de desistência. "É preciso verificar o que acontece se o consumidor não quiser ficar com o produto. Se for um serviço de renovação automática, por exemplo, precisa ficar claro que ele será cobrado após o período de teste. Tem alguma multa para mau uso? Quais são as regras? Também tem que ficar claro. Se houver algo que dê margem para discussão, é preciso esclarecer antes."

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