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Leite longa vida fica 43,5% mais caro e é o vilão do ano no supermercado

Getty Images
Imagem: Getty Images

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/08/2018 19h54

Depois de tomate e feijão, agora é a vez do leite longa vida ocupar o ingrato posto de "vilão" da inflação. Foi o item que mais subiu neste ano: de janeiro a julho, a caixinha de leite ficou 43,51% mais cara, em média, no país. Como principal causa, especialistas apontam a greve dos caminhoneiros.

Essa mudança de preços varia bastante de uma região para outra. Por exemplo, quem vive em Fortaleza pode não ter sentido tanto impacto no bolso. Por lá, a alta foi de 7,42% nestes sete meses. Por outro lado, em São Paulo e em Curitiba, a alta do leite em caixinha passou de 50%.

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Veja a variação do preço do leite longa vida nas regiões pesquisadas pelo IBGE, no acumulado de janeiro a julho:

  • São Paulo: +51,97%
  • Curitiba: +51,27%
  • Belo Horizonte: +50,84%
  • Rio de Janeiro: +46,26%
  • Grande Vitória: +46,26%
  • Porto Alegre: +42,82%
  • Belém: +28,73%
  • São Luís: +27,41%
  • Recife: +24,68%
  • Aracaju: +23,15%
  • Campo Grande: +20,75%
  • Salvador: +19,24%
  • Rio Branco: +15,45%
  • Fortaleza: +7,42%

Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (8) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os dados mostraram que a inflação oficial desacelerou para 0,33% em julho e acumula alta de 2,94% no ano e de 4,48% em 12 meses.

Alta de preço acima do normal

É normal o leite ficar mais caro entre março e agosto/setembro, período mais seco, com menos pastagem disponível para o gado, segundo Diana Cifuentes, analista de mercado da Scot Consultoria. É a chamada entressafra.

Porém, neste ano, três fatores fizeram a alta do preço ficar acima do normal: o clima mais seco, especialmente na região Sul; custos de produção mais altos, puxados principalmente pelos alimentos concentrados (milho e farelos), usados na alimentação do gado; e a greve dos caminhoneiros.

"Diante disso, de janeiro a julho, os preços do leite pago ao produtor subiram 19,7%, considerando a média nacional. Em algumas regiões, essa alta chegou a mais de 25%, 30%, segundo nosso levantamento", afirmou Cifuentes. "Ou seja, esses aumentos foram repassados para os elos seguintes: atacado e varejo."

Efeito da greve é mais longo para o leite

A greve dos caminhoneiros afetou o preço de vários alimentos em junho, mas o efeito "passou" em julho. No caso do leite, porém, o efeito ainda persiste, por causa da dinâmica de produção e das características do produto, que estraga muito rápido. 

"A vaca em lactação não pode deixar de ser ordenhada, e o leite cru possui um prazo para armazenamento, o qual, na fazenda, normalmente não ultrapassa dois dias", disse Cifuentes. Ou seja, em dez dias de greve, todo o leite ordenhado e não coletado acabou sendo descartado.

"Considerando uma produção de 33 bilhões de litros por ano, em dez dias de greve o volume estimado de leite que deixou de ser captado é da ordem de 904 milhões de litros, o equivalente a uma perda de R$ 1,11 bilhão só na base produtiva, sem considerar a distribuição dos produtos processados, que também foi afetada", estimou a analista. Isso impacta diretamente no preço do produto que chega ao supermercado.

Além disso, a paralisação dos caminhoneiros também dificultou a chegada de insumos às fazendas, o que prejudicou a alimentação das vacas em lactação e tem impacto de longo prazo na produção de leite, disse a consultora.

O Cepea-USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo) também atribui a alta de julho à tentativa do setor de normalizar suas atividades após o fim da greve. "Desabastecidos, os laticínios acirraram a competição para a compra de leite no campo no correr de junho, com o objetivo de recompor estoques", afirmou o órgão, em comunicado.

Quando o preço deve começar a cair?

Embora os meses de seca estejam acabando, ainda não é hora de comemorar. Para a analista, o consumidor final só deverá sentir a queda no preço do leite e dos derivados a partir de outubro ou novembro, com a safra do leite.

Em agosto e setembro, Cifuentes estima que a região Sul já poderá ver esta baixa graças ao aumento de produção por causa das pastagens de inverno. "Por outro lado, esta maior oferta nos estados da região deverá limitar a alta de preços em estados como Minas Gerais, São Paulo e Goiás, por exemplo", afirmou.

A opinião é endossada pelo Cepea. De acordo com o órgão, a maioria dos colaboradores entrevistados acredita em um novo aumento para este mês. "No entanto, uma parte dos colaboradores acredita em estabilidade nos valores em agosto, devido a dificuldades de consumidores em absorver novas valorizações dos lácteos", conclui.

Como tentar driblar os preços altos?

Para quem não tem como deixar o leite de lado, o jeito é mudar de marca e pesquisar preços.

A reportagem pesquisou o preço da caixinha de leite em grandes redes de supermercados em algumas capitais. No Rio de Janeiro, por exemplo, o preço varia de R$ 2,28 a R$ 6,89. Quase o mesmo acontece em Fortaleza (de R$ 2,79 a R$ 7,99). Em outras capitais, a diferença é menor, mas ainda assim considerável, como em Belo Horizonte (de R$ 2,28 a R$ 5,69) e Brasília (de R$ 2,63 a R$ 5,41).

Para o futuro, Cifuentes dá uma dica: compre leite durante a safra, entre outubro e março, quando os preços tendem a ficar mais baixos. "O UHT [longa vida] permite estocar por um tempo maior (até seis meses) para consumi-lo na época de preços altos", disse.

Ela sugere optar pelo leite em caixinha, mesmo sendo ligeiramente mais caro que outras opções. "Outras apresentações, como saquinho, têm um período de validade bem curto (geralmente dias) e não permitem grandes estoques."

Por que a inflação no nosso bolso parece maior do que a inflação oficial?

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