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Responsável pela crise, mercado foi obrigado a seguir regras mais rígidas

Stan Honda/AFP
Imagem: Stan Honda/AFP

Mariana Bomfim

Do UOL, em São Paulo

15/09/2018 04h00

Após bagunçar a economia mundial e ser salvo pelos governos, o mercado financeiro aprendeu alguma lição?

"Muita coisa mudou, principalmente nos Estados Unidos. Os bancos de investimento passaram a ser mais bem supervisionados", disse Tamim Bayoumi, diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional) e autor de "Unfinished Business" (Negócios Inacabados), livro recém-lançado sobre a crise. 

A supervisão teria melhorado, disse ele, porque, após gastar bilhões com o socorro aos bancos, os EUA resolveram criar regras mais rígidas para regular o mercado. 

Já no governo de Barack Obama, em julho de 2010, foi assinada a chamada lei Dodd-Frank, que, dentre outras coisas, criou uma agência de proteção do consumidor e obrigou os bancos a fortalecer seu capital e a demonstrar anualmente que são capazes de resistir a crises financeiras.

Com a lei, a maior mudança para o setor financeiro desde a década de 1930, ficou mais difícil para Wall Street se endividar para lucrar com especulação em cima de investimentos complexos e obscuros.

Para o economista e professor da USP Fernando Botelho, a lei foi uma das lições mais importantes da crise. “É preciso ter regulação inteligente do setor bancário, que traga segurança e transparência, mesmo que isso engesse um pouco o mercado”, afirmou.

Críticos da lei dizem que houve, sim, engessamento, brecando o crescimento econômico no país. Um deles, o presidente Donald Trump, foi eleito prometendo mudar a legislação. Cumprindo o compromisso de campanha, neste ano Trump assinou uma lei revogando parte da Dodd-Frank.

Grande e conectado demais para falir

Houve maior regulação, mas os EUA não conseguiram acabar com o risco dos bancos “too big to fail” (grandes demais para quebrar), de acordo com Carlos Braga, professor associado da Fundação Dom Cabral e ex-diretor do Banco Mundial. 

“Em 2008, a preocupação maior era que os cinco maiores bancos dos EUA eram tão grandes que, se quebrassem, levariam a economia toda para o buraco. Hoje, esses bancos são ainda maiores, proporcionalmente, do que eram há dez anos.”

Além disso, segundo ele, o problema nem sempre é o tamanho do banco, mas o quanto os seus negócios estão espalhados pelo mercado, o que foi chave no caso do Lehman Brothers. “Não é só o 'too big to fail', há também o' too conected to fail' (conectado demais para quebrar)”, declarou.

Na Europa, as mudanças nas regras foram mais tímidas, afirmou Bayoumi. "Na maioria dos sistemas, reguladores externos (o governo, por exemplo) definem que proporção de reserva de capital os bancos precisam manter. Mas, na Europa, os grandes bancos ainda podem usar modelos internos para calcular os riscos do seu portfólio. Na prática, esses modelos acabam diminuindo as reservas."