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Trabalhadoras contam o que fazer com o aumento de R$ 44 no salário mínimo

Natalia Gómez

Colaboração para o UOL, em Maringá (PR)

05/01/2019 04h00

O ano novo começou com um aumento de R$ 44 no salário mínimo, que passou de R$ 954 para R$ 998 em 2019. Na prática, essa mudança não deve trazer um alívio para quem recebe o piso salarial. 

Trabalhadoras ouvidas pelo UOL afirmaram que o aumento não vai fazer diferença no seu poder de compra, pois com os R$ 44 a mais por mês não vai dar para comprar nem um botijão de gás ou pagar o plano de internet. Na melhor das hipóteses, o aumento é o suficiente para comprar dois sacos grandes de arroz.

Veronice dos Anjos Pereira - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Para Veronice dos Anjos Pereira, o impacto do reajuste do salário mínimo será insignificante
Imagem: Arquivo pessoal
A técnica em saúde bucal Veronice dos Anjos Pereira, 32, de Bonito (BA), disse que o impacto do reajuste do salário mínimo será insignificante em sua vida. "Para mim não vai adiantar porque é pouco demais", afirmou. 

Grávida de seis meses, Veronice mora sozinha e gasta cerca de R$ 400 com compras de alimentos, produtos de higiene e limpeza, enquanto o restante é destinado para contas de luz e água e para o pagamento de dívidas em lojas de materiais de construção, que contraiu para construir a sua casa.

Segundo ela, o ganho salarial não será suficiente para cobrir sua despesa com internet em casa, que é de R$ 75, nem para comprar um botijão de gás, que custa R$ 65 em sua cidade. "Até para pagar a internet teria que completar esse valor que aumentou", disse. 

Para Veronice, viver com o salário mínimo é um desafio constante, pois "não sobra dinheiro para nada", e ainda não foi possível comprar algo para o filho que está a caminho.

Comprar dois sacos de arroz

Ana Lúcia Carvalho, 54, é operadora de caixa de supermercado - Natalia Gómez/UOL - Natalia Gómez/UOL
Ana Lúcia Carvalho, 54, operadora de caixa de supermercado, disse que o aumento do mínimo decepcionou
Imagem: Natalia Gómez/UOL

Desafio semelhante vive a operadora de caixa de supermercado Ana Lúcia Carvalho, 54. Piauiense, ela mora em Maringá (PR) há 12 anos, onde vive com o marido e o filho. Seu salário é destinado para as compras do mês, e é preciso recorrer ao salário do marido para as demais despesas da família.

Para Ana Lúcia, o aumento de R$ 44 no salário mínimo decepcionou. "Pensei que o aumento seria maior, e, pelo que escutei no ônibus, ninguém ficou feliz com o valor", afirmou. 

Na profissão de caixa de supermercado há um ano e meio, Ana Lúcia pretende gastar o dinheiro adicional do salário mínimo com comida. "Com esse dinheiro, dá para comprar dois sacos de arroz de cinco quilos e só [R$ 19 cada saco]", disse. "As coisas subiram muito de preço, e esse valor não vai fazer muita diferença."

Salário mínimo tem impacto em contas do governo

Apesar de ser um reajuste pequeno, o aumento do salário mínimo terá um impacto significativo nas contas do governo, segundo o advogado trabalhista Júlio Conrado, do escritório Fritz, Nunes e Conrado. Segundo ele, o governo projeta que cada R$ 1 de aumento no salário mínimo representa um acréscimo de R$ 300 milhões ao ano nas despesas do governo.

Isso ocorre porque o salário mínimo é usado como referência para os benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) aos aposentados e também para os benefícios de assistência social e seguro-desemprego. Segundo o advogado, o aumento também incidirá em todos os processos de negociação salarial do setor privado.