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Brasil é o mais caro do mundo para comprar roupa da Zara; iPad vale o dobro

Lucas Gabriel Marins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

09/01/2019 13h59Atualizada em 10/01/2019 08h50

Por que os produtos no Brasil são mais caros que em outros países? De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem do UOL, isso ocorre por uma série de fatores, como sistema tributário complexo, custos elevados de importação e gargalos logísticos, que encarecem os itens para o consumidor final.

Um exemplo disso é o caso da rede varejista espanhola Zara. O Brasil é o país mais caro do mundo para se comprar roupas da marca, segundo o Índice Zara, que compara preços de uma cesta de 12 itens vendidos pela rede em 44 nações. O relatório foi divulgado nesta terça-feira (8) pelo banco BTG Pactual.

Os preços por aqui são 84,7% mais caros do que na Espanha e em Portugal, 66% do que na Alemanha e na Holanda, 42% quando comparados ao do Canadá e 18% superiores aos praticados nos Estados Unidos. Para comprar um blazer básico no Brasil, por exemplo, o consumidor precisa desembolsar US$ 55 (R$ 204), enquanto na Espanha apenas US$ 34 (R$ 126,3).

O índice Zara também registra produtos de outras marcas e setores, como eletrônicos. Um iPhone custa 77% mais aqui do que nos EUA, enquanto um iPad chega ao dobro.

Especialista diz que câmbio desvalorizado não garante preço competitivo

De acordo com Fábio Monteiro, analista responsável pelo estudo, o que se vê normalmente nos países é que a desvalorização das moedas locais frente ao dólar costuma aumentar a competitividade, mas o Brasil é uma exceção.

"Mesmo com a desvalorização do real nos últimos 12 meses -a desvalorização foi de 14% frente ao dólar americano-, os tributos em cascata e alíquotas diferentes do país, somados a outros gargalos, encareceram os custos de se operar".

Importação de produtos complica situação

Além disso, disse ele, o risco cambial da Zara é maior, assim como o tempo de entrega, pois muito pouco é produzido localmente. Apenas 92 fábricas estão localizadas no Brasil ou na Argentina, representando 1,3% das fábricas que produzem para a Zara globalmente (7.210).

Esse cenário mostra, segundo Hugo Meza, professor do MBA em Planejamento, Gestão e Contabilidade Tributária da Universidade Positivo, de Curitiba (PR), que não adianta o câmbio estar desvalorizado para ter um preço competitivo, se a maior parte dos insumos que servem para produzir as peças vem de fora do país.

"É um efeito de compensação negativa entre a desvalorização do câmbio, que deveria diminuir os preços finais das peças, e a dependência por insumos importados", disse.

Custo do iPad no Brasil é o dobro do que nos EUA 

O Índice Zara também apontou que o Brasil é o país mais caro para a compra de produtos da Apple, na comparação com outros 20 países analisados. O brasileiro paga US$ 1.921 (R$ 7.137) por um iPhone XS, com tela de 5,8 polegadas e 64 gigabytes (GB) de memória, valor 87% superior ao que um canadense pagaria em seu país e 77% a mais do que um americano desembolsaria. 

No caso do iPad de 64 GB, também citado no Índice Zara, a variação é ainda maior: enquanto no Brasil se paga US$ 1.421 (R$ 5.279), nos EUA o valor é de apenas US$ 706 (R$ 2.623), uma variação de 100%. 

Produtos de luxo e cosméticos também são mais caros

O relatório ainda comparou os preços de seis produtos de luxo e 12 cosméticos nos EUA e no Brasil. Por aqui, por exemplo, se gasta, em média, 4,5% a mais do que no país norte-americano em bolsas da Louis Vuitton, relógios da Cartier e sapatos da Louboutin. No caso dos cosméticos da marca Sephora, a diferença em relação aos preços dos EUA e do Brasil é de, em média, cerca de 6%. 

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