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Vale também perdeu valor após Mariana, mas triplicou os números em 3 anos

22.nov.2015 - Lama que vazou após o rompimento da barragem em Mariana (MG) muda a cor do mar do Espírito Santo - Gabriel Lordello/Mosaico Imagem
22.nov.2015 - Lama que vazou após o rompimento da barragem em Mariana (MG) muda a cor do mar do Espírito Santo Imagem: Gabriel Lordello/Mosaico Imagem

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

01/02/2019 04h00

Em um único dia a Vale perdeu mais de R$ 70 bilhões em valor de mercado, na primeira sessão da Bolsa brasileira após o rompimento da barragem em Brumadinho (MG). Mas essa queda repentina significa que a empresa continuará perdendo valor nos próximos meses?

O histórico da empresa já mostrou que ela pode se valorizar muito mesmo após grandes problemas. Em pouco mais de três anos, entre a tragédia de Mariana, em novembro de 2015, e antes de Brumadinho, o valor de mercado da empresa mais que triplicou: passou de R$ 81,25 bilhões para R$ 289,77 bilhões. O levantamento foi feito pela empresa de informações financeiras Economatica.

Uma semana após a tragédia em Brumadinho (MG), analistas do BTG Pactual, do Itaú BBA e da XP Investimentos enviaram a seus clientes relatórios recomendando a compra de ações da empresa.

Por que o valor de mercado subiu tanto?

O valor de mercado de uma empresa é calculado ao multiplicar o preço de cada ação pelo total de papéis disponíveis no mercado. Isso significa que o valor de mercado sobe ou desce conforme o movimento das ações da empresa.

As ações da Vale também triplicaram de preço entre Mariana e Brumadinho, saltando da faixa de R$ 15 para R$ 56,15.

Dentro desse período, o pior momento da empresa foi em 2 de fevereiro de 2016, quando as ações chegaram a valer R$ 6,57, e o valor de mercado foi a R$ 40,32 bilhões, metade do que era antes do acidente.

Por outro lado, o auge da empresa foi em 25 de setembro de 2018, quando os papéis valiam R$ 62,20, e o valor de mercado era de R$ 323,28 bilhões.

Minério de ferro e dólar influenciam

grafico valor vale -  -

O preço do minério de ferro, produto comercializado pela Vale e com cotação internacional, é o que mais influencia o movimento das ações da empresa e, consequentemente, seu valor de mercado, segundo Eduardo Guimarães, especialista em ações da assessoria de investimentos Levante.

De acordo com ele, a desvalorização das ações da Vale acompanhou a derrocada no preço do minério de ferro, que foi de US$ 140 por tonelada no começo de 2014 para menos de US$ 40 no final de 2015. Da mesma forma, quando os preços da matéria-prima passaram a subir, chegando a US$ 80 no começo deste ano, as ações da mineradora brasileira também se recuperaram.

Além disso, o dólar alto --atualmente na casa dos R$ 3,65-- favorece a empresa, que vende sua mercadoria com base na moeda norte-americana. "O preço do minério de ferro é em dólar, e, quando o dólar está alto, a Vale fatura mais [em reais]", afirmou Guimarães.

Novo presidente melhorou indicadores

Em abril de 2017, Fabio Schvartsman assumiu a presidência da Vale. De lá para cá a empresa melhorou seus indicadores financeiros. Do prejuízo recorde de R$ 44,2 bilhões em 2015, a mineradora passou a acumular lucro de R$ 11,7 bilhões em 2018 até o terceiro trimestre (último dado disponível). No mesmo período, a dívida, que era de US$ 28,8 bilhões (cerca de R$ 104,9 bilhões), caiu para US$ 10,7 bilhões (R$ 39 bilhões).

"O mercado passou a olhar a Vale como queridinha e boa pagadora de dividendos, o que aumentou a procura pelas ações", disse o especialista da Levante.

Outra medida de Schvartsman foi converter as ações preferenciais (com prioridade na distribuição de dividendos) em ordinárias (com direito a voto em assembleia). Essa mudança, segundo Guimarães, atraiu investidores estrangeiros porque diluiu a participação que o governo detinha na mineradora.

"A Vale era vista como uma estatal de fato. Hoje, não é mais assim. O mercado viu menos risco [de interferência do governo na empresa após a unificação papéis], e, quando há menos risco, o investidor paga mais caro pela ação", afirmou.

Apesar de ter mudado essa visão, a escolha de Schvartsman como presidente da Vale não esteve livre de influências políticas. O nome passou antes pela chancela do então presidente Michel Temer (MDB) e teria sido uma indicação de Aécio Neves (PSDB-MG), à época senador e agora deputado federal eleito.

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